Sinwar passou 23 anos nas prisões israelitas e, depois, entrou para o aparato de segurança do movimento islamista palestiniano, onde foi responsável pelas purgas. Hoje, Israel considera-o um "homem morto".

O até então líder do Hamas na Faixa de Gaza, de 61 anos, foi o cérebro do ataque de 7 de outubro, quando centenas de milicianos palestinianos atacaram kibutzes, bases militares e uma festa em Israel, no pior atentado contra civis desde a criação do Estado israelita em 1948.

Naquele dia, 1.198 pessoas morreram e cerca de 240 foram tomadas como reféns, segundo números de Israel.

"Foi a estratégia dele, foi ele quem organizou a operação" provavelmente durante um ou dois anos, explica à AFP Leïla Seurat, investigadora do Centro Árabe de Pesquisa e Estudos Políticos (CAREP) em Paris.

Sinwar substitui Ismail Haniyeh, que foi assassinado em Teerão a 31 de julho num ataque com explosivos, que tanto o Hamas quanto o Irão atribuem a Israel, que por sua vez não reivindicou o ataque.

Esse homem simples e de cabelos brancos "impôs a sua agenda para mudar o equilíbrio de poder no terreno e surpreendeu a todos", aponta a especialista.

Sinwar não é visto em público desde outubro. "Ele é o homem da segurança por excelência (...) com um carisma de líder", disse à AFP Abu Abdallah, um membro do Hamas que esteve com ele na prisão em 2017, quando Sinwar assumiu o comando.

Em 1987, quando a primeira Intifada (reação contra a ocupação israelita) eclodiu num campo de refugiados no norte da Faixa de Gaza, Sinwar, nascido em Khan Yunis, juntou-se ao Hamas, que acabara de ser criado.

Aos 25 anos, já dirigia a Organização da Jihad e da Pregação, uma unidade de inteligência do Hamas que punia os "colaboradores" palestinianos com Israel.

Em 1988, fundou o Majd, o serviço de segurança interna do Hamas. Um ano depois, foi preso e tornou-se líder dos prisioneiros.

Apesar de ter sido condenado várias vezes a prisão perpétua, foi libertado em 2011 junto com mil outros detidos num acordo com Israel em troca da libertação de Gilad Shalit, um soldado israelita feito refém pelo Hamas durante cinco anos.

Sinwar viu Israel eliminar os seus mentores, como o xeque Ahmed Yassin e Salah Chehadé, fundador das brigadas Ezzedin Al Qasam, o braço armado do Hamas.

O seu nome está na lista americana de "terroristas internacionais" e já foi alvo de múltiplas tentativas de assassinato. Em 2017, foi eleito líder do Hamas em Gaza e impulsionou uma estratégia "radical a nível militar e pragmática no aspecto político", aponta Leïla Seurat.

Os media israelitas publicaram excertos dos seus interrogatórios. Num deles, Sinwar falou sobre o sequestro de um "traidor". "Levámo-lo para o cemitério de Khan Yunis (...), coloquei-o numa sepultura e estrangulei-o com um keffiyeh (...). Estava seguro de que sabia que merecia morrer."

No campo político, Sinwar defende uma liderança palestiniana unificada para todos os territórios ocupados: a Faixa de Gaza, atualmente sob controle do Hamas, a Cisjordânia, administrada pelo Fatah de Mahmoud Abbas, e Jerusalém Oriental.

Em 2017, o Hamas aceitou o princípio de um Estado palestiniano dentro das fronteiras de 1967, mas manteve como objetivo final a "libertação" de todo o território da Palestina de 1948, incluindo o atual território israelita.

Mas quando a estratégia de "respeitabilidade" do Hamas fracassa, ele opta pela violência.

Em 2018-19, quando ninguém no mundo parecia interessado na questão palestiniana, promoveu as Marchas do Retorno, que deixaram quase 300 mortos em confrontos ao longo da barreira de separação com Israel.

Em 7 de outubro de 2023, o Hamas lançou o seu ataque fazendo explodir o posto de controlo que guardava a fronteira com a Faixa de Gaza, bloqueada desde 2007. A resposta israelita já custou quase 40 mil vidas, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.