Uma portuguesa sucederá a outra portuguesa na conquista do título de campeã europeia de bodyboard. Teresa Padrela, atual líder do ranking (2580 pontos) ou Luana Dourado, 2.ª (2450 pts), separadas por 130 pontos, uma delas será a sucessora de Filipa Broeiro (8.ª), campeã em 2023, de fora das contas da defesa do título e da 4.º e última etapa do circuito europeu de bodyboard (ETB) devido, em parte, à falta de apoios financeiros.
Em Medhia, localidade costeira vizinha da cidade de Rabat, Marrocos, no fecho da temporada, Teresa Padrela, 24 anos, fará uma estreia. “É uma onda que não conheço”, disse antes de voar para o litoral marroquino, onde está a decorrer a competição até sábado.
“A expetativa é boa, confiante, mas com os pés bem assentes no chão, para não causar pressão”, transmitiu a atleta cuja liderança foi alcançada na paragem anterior, em Carcavelos, em outubro (11-13), por troca com Luana Dourado, até então líder.
Embora sacuda a pressão, tem consciência que a estreia lhe pode enriquecer o curriculum com o primeiro título europeu Open. “Fui campeã da Europa, do Eurosurf, competição por equipas, em 2017, mas nunca fui campeã do circuito europeu, portanto, pode ser uma novidade”, afirmou, expectante, ao SAPO24,
Um título na Europa à mercê em Marrocos que pode ser reforçado, no fim de semana seguinte, com outro, o de campeã nacional, na derradeira etapa do circuito, em Peniche, 15 a 17. “Se sair de Marrocos com o título dá-me um boost de confiança para a última etapa do nacional”. Mas quer “corra bem ou mal, tenho de fazer o reset”, antecipou a bodyboarder de Carcavelos (Aqua Carca), campeã nacional 2021 e 2023.
A jovem Luana Dourado, 15 anos, duas vezes vice-campeã mundial júnior, e recém-campeã europeia júnior, coroada na etapa única, em Carcavelos, em outubro, está em Marrocos à procura do primeiro título europeu Open.
Campeã júnior em Carcavelos, onde competiu em simultâneo em dois campeonatos, falhou outro objetivo que parecia está bem perto de concretizar na 3ª etapa do ETB. “Queria um bom resultado no Open, até porque tinha ganho as etapas anteriores (Canárias e Tenerife) e estava com expectativas, mas não correu bem e concentrei-me a 100% no título júnior”, acrescentou então.
Perdida a liderança do ranking para Teresa Padrela na praia da Linha de Cascais, o sonho mantém-se intacto. “Continuei a treinar para ver se neste ano consigo ser campeã europeia”, assegurou a bodyboarder do Clube Naval Povoense.
Um autocolante na testa da ex-campeão europeia a pedir apoios
Filipa Broeiro, 22, do Ericeira Surf Clube, campeã europeia ETB em 2018 e 2023 e vice-campeã em 2022 não apanhou o avião para Marrocos.
“O objetivo era ser outra vez campeã europeia, mas infelizmente as duas primeiras etapas (13.ª, nas Canárias e 7.ª, em Tenerife) do europeu não correram tão bem como esperava” assumiu. Na 3.ª e penúltima etapa, em Carcavelos, onde triunfara no ano anterior, terminou em 5.º.
Ficou automaticamente fora das contas (revalidação) do título e, por isso, riscou do mapa de viagens a ida a Marrocos. A ausência entronca na mesma razão que a tinha afastado este ano de duas tapas (Chile e Maldivas) do Circuito Mundial. “Não pude ir por falta de apoio financeiro, não tinha mesmo condições de ir”, lamentou.
Detentora de mais de 20 títulos nacionais e internacionais considera a situação “um bocado frustrante”, admite. “Somos um país com altos atletas de bodyboard, talvez dos melhores do mundo, mas que infelizmente, como eu, fico um bocado presa aqui”, diz. Na sua cabeça desfilam nomes como a ex-campeã mundial, Joana Schenker (2019) ou Joel Rodrigues (campeão europeu, 2023).
“Quero chegar mais longe e infelizmente não consigo, por falta de apoio, e é um bocado frustrante”, confessa a atleta do Ericeira Surf Clube (ESC). “Dá vontade de por um autocolante na testa: preciso de apoio”, sorri.
“Tento ser profissional, mas também tenho uma vertente artística, faço desenhos realistas, sou artista, tatuadora, dou aulas de surf e bodyboard, tenho o curso de treinador de surf grau 1, que tirei na (Universidade) Lusófona”, descreve. E é dai que vem parte dos rendimentos. “Não é o suficiente, mas dá para fazer alguma coisa”, assume.
Perante os factos consumados, traça planos para o futuro imediato. “Sair fora de Portugal e focar mais no Mundial, se for possível. Porque sinto que já dei bastante cá em Portugal e gostava de dar o salto”, finaliza.
Padrela aponta ao top 5 mundial
A situação de Teresa Padrela não é tão cinzenta. “O facto de fazer o tour mundial e estar dentro do top 10 há dois anos” tem-lhe permitido angariar patrocínios. “Não me posso queixar”, reforça a atual campeã nacional sem abandonar o tema.
“Começo o ano competitivo, com consciência, que a probabilidade de ser eu a investir é muita. Invisto porque acredito e se não se acreditasse, também não fazia o investimento”, confessou.
À semelhança de outras atletas, custeia as viagens para as etapas do mundial e europeu, mas não o faz a “contar com a vitória ou prize-money”, assume, porque “pode ser mais um motivo de pressão, para mim. Se corre mal...”.
As contas ao retorno do investimento financeiro fazem-se no final. E sem saber se se estreia a vencer um título Open europeu, “para o ano quero continuar no Circuito Mundial, quero investir na minha carreira enquanto bodyboarder, e quero subir para o top 5”, aponta, ela que foi 11.ª, esta temporada, 6.ª, em 2022 e 7.ª, em 2023.
A seleção distrital de futsal e um título mundial júnior de bodyboard por conquistar
“Gosto muito de treinar, estou sempre a querer evoluir para ter bons resultados nas competições e mostrar sempre o meu melhor. Ainda não consegui chegar ao topo no circuito mundial de júnior, mas irei continuar a treinar para ver se para o ano consigo esse meu objetivo” traça a jovem Luana Dourado, atleta que ficou este ano às portas do top 10 do ranking sénior a nível mundial (13.ª).
Comunga da opinião de Filipa Broeiro. “Acho que falta um bocado de apoio para o bodyboard, mesmo a nível de Estado, não apoia tanto o bodyboard como poderia apoiar”, diz. Falta, entre outros, “uma equipa nacional, o surf tem a seleção nacional. E falta dinheiro para patrocínios”, aponta a bodyboarder suportada, em grande parte, pelo dinheiro desviado do orçamento familiar, e verbas vindas do Clube Naval Povoense. “Apoia-me nas digressões e nos treinos quando vamos fora”, resume.
Entre estudos, que estão em primeiro lugar e onde é aluna do quadro de mérito, divide o tempo entre treinos no mar ou na piscina (quando o mar não permite), para “não tirar o fogo”, conforme descreve, Luana Dourado ainda tem tempo para “praticar futsal (Caxinas)”.
No pavilhão, com a bola nos pés, tem sido “chamada à seleção distrital”, informou o pai, Luís Silva, progenitor que lamenta a falta de apoios à modalidade de ondas. “Realmente, falta um bocadinho o apoio do Estado, até porque a questão de ser atleta de Alta Competição, se calhar ajudaria”, deixa no ar, já a olhar para uma futura entrada numa universidade.
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