“Foi uma injustiça que a nossa própria justiça quis meter em cima da mesa, mas que tem de ser revista. É execrável que haja aspetos legais que impeçam que o título passe para as mãos de outros, quando foi muito bem vencido dentro de campo. A Câmara Municipal apenas fez aquilo que lhe competia, que era manter o património de uma população, de um clube e de uma terra no sítio certo”, reiterou aos jornalistas o autarca Alberto Costa.
A entrega do cetro decorreu em pleno relvado do Estádio do CD Aves, na Vila das Aves, ao intervalo da receção vitoriosa do Desportivo das Aves 1930 ao Rio de Moinhos (3-1), para a 13.ª jornada da Série 4 da Divisão de Honra da Associação de Futebol do Porto.
Conquistado em 20 de maio de 2018, com um triunfo diante do Sporting na final da prova ‘rainha’ (2-1), no Estádio Nacional, em Oeiras, o troféu esteve penhorado no âmbito da insolvência da SAD nortenha, tendo sido leiloado em hasta pública de agosto a outubro.
Um ‘bis’ de Alexandre Guedes, contra um golo do colombiano Fredy Montero, ‘selou’ um inédito êxito dos avenses, então orientados por José Mota, apenas cinco dias depois da invasão à Academia de Alcochete, onde adeptos agrediram vários jogadores ‘leoninos’.
“A Câmara Municipal de Santo Tirso fez isto por respeito a quem esteve em campo, após uma semana em que parecia que o Desportivo das Aves não existia. Voltava a fazer em consciência o que fiz como presidente da autarquia. Tratámos dos aspetos formais para assegurar que aquilo que se passou não volte a acontecer”, confidenciou Alberto Costa.
A cerimónia contou com futebolistas, equipa técnica e outros funcionários envolvidos na conquista da Taça de Portugal, cujo cetro foi levado pelo então guarda-redes e ‘capitão’ Quim e o avançado Alexandre Guedes até ao relvado para ser simbolicamente entregue pelo autarca ao recém-empossado presidente do clube da Vila das Aves, Pedro Pereira.
“O sentimento é o que se sentiu no estádio. Houve o agradecimento pela conquista mais importante da nossa história, que também serve como pontapé de saída do renascimento para o qual estamos a trabalhar, de modo que o clube volte aos patamares que alcançou no passado. A Taça de Portugal está bem entregue. Os departamentos jurídicos trataram de garantir que não irá a mais lado nenhum”, estabeleceu o sucessor de António Freitas.
O leilão foi gerido pelo Tribunal Judicial da Comarca do Porto e terminou há exatamente dois meses, tendo, a partir de um valor de abertura de 800 euros e de um valor base de 1.600 euros, fixado 1.360 euros como fasquia mínima aceite para a aquisição do troféu.
A maior conquista de sempre do Desportivo das Aves foi arrestada à SAD em julho de 2020, quando a administração liderada pelo chinês Wei Zhao reprovou nos requisitos de licenciamento nas provas profissionais da temporada 2020/21 junto da Liga de clubes e dispensou o recurso para o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol.
Os nortenhos já tinham sido despromovidos desportivamente à II Liga, mas ‘caíram’ pela via administrativa no Campeonato de Portugal, então terceiro escalão nacional, afetados por dívidas salariais e rescisões unilaterais de jogadores, equipa técnica e funcionários.
A SAD, que ainda assistiu ao arresto dos dois autocarros do Desportivo das Aves, optou por desistir de participar no Campeonato de Portugal em setembro de 2020, cinco meses antes de ter sido declarada insolvente pelo Tribunal Judicial da Comarca de Santo Tirso.
As dívidas da SAD de quase 37,5 mil euros a três clubes estrangeiros levaram a FIFA a impedir o clube de inscrever novos jogadores desde agosto de 2020, mas a direção de António Freitas resolveu refundar as secções de futsal e de futebol dois meses depois, que passaram a representar um novo clube, designado por Desportivo das Aves 1930.
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