China
O trajeto de apuramento para o Mundial 2018 da Seleção Chinesa foi marcado pelas fortes e constantes críticas de alguns media e da própria massa adepta desde que Gao Hongbo assumiu o comando técnico em abril de 2016. Curiosamente, o mesmo havia sucedido com Alain Perrin, francês que acabou despedido devido aos pobres resultados alcançados e ao facto de não se ter testemunhado uma evolução notória na primeira equipa. O Governo chinês, assim como a Federação (CFA), estavam debaixo de fogo face ao grande investimento realizado no futebol que, de alguma forma, teimava em não dar frutos no imediato.
Assim, e depois de um início tremido na última fase de qualificação da Ásia para o Campeonato do Mundo, Gao Hongbo apresentou a sua demissão após uma derrota decepcionante frente ao Usbequistão – apenas um ponto conquistado em quatro partidas – num grupo onde figuravam equipas de maior calibre como Irão, Coreia do Sul, Síria e Qatar. A saída estaria tão iminente que o seu sucessor não tardou em ser oficializado. A escolha em Marcello Lippi, uma das velhas raposas do futebol mundial, poderia devolver a esperança de um eventual apuramento para a fase final, não fosse o seu invejável currículo e o trabalho desenvolvido no Guangzhou Evergrande Taobao, clube no qual deu início a uma hegemonia sem precedentes. Na verdade, Lippi estava cotado como o mais provável substituto de Luiz Felipe Scolari ao serviço da sua anterior equipa, mas o pré-acordo com a CFA estaria muito perto de terminar, pelo que a solução passaria por integrar os quadros da Seleção AA da República Popular da China. Este é apenas mais um exemplo da grande influência de Lippi no seio das entidades que gerem o futebol chinês.
O ex-treinador de conjuntos como Juventus, Internazionale e Seleção Italiana, somou um total de 12 pontos, tendo a China terminado com três vitórias, três empates e quatro derrotas, atrás de Irão, Coreia do Sul, Síria e Usbequistão. Apenas o Qatar, também com um percurso que surpreendeu imenso pela negativa, ficou atrás dos dragões no Grupo A.
O fracasso atual da China é preocupante, mas não uma novidade. Marcelo Lippi, apesar de muitas qualidades, está longe de ser um milagreiro personificado na figura de treinador, sobretudo, quando o tempo é demasiado curto para poder construir bases para o futuro. Mesmo com uma entrada imediata e até a um certo ponto ‘minada’ pela má gestão de terceiros, Lippi conseguiu introduzir alguma frescura na equipa, tanto que alguns resultados obtidos foram fruto dessa mesma pequena ‘revolução’.
Embora o investimento canalizado para o futebol do país exija o presente, é no futuro que as atenções devem estar centradas. Novos objetivos estão traçados, como o apuramento para a Taça Asiática 2019 e para o Mundial de 2022 no Qatar. Jovens jogadores como Wei Shihao (Beijing Guoan), He Chao (Changchun Yatai) e Gao Zhunyi (Hebei China Fortune) têm vindo, de forma gradual, a ganhar maior influência numa Seleção envelhecida. O Guangzhou Evergrande, outrora a equipa com mais presença no quadro de atletas, encontrou a concorrência direta do Shanghai SIPG neste e em outros quesitos.
São vários os factores que fazem prever um grande futuro no futebol chinês. A formação de jovens talentos abrange cada vez mais profissionais dos vários cantos do mundo sendo que consequentemente aumentam a profissionalização das instituições. E estes mesmos jovens são agora titulares nas suas respetivas equipas, muito por culpa das regras relativas aos sub-23 impostas para as duas principais divisões de futebol do país. Marcello Lippi e a sua comitiva técnica têm imenso conhecimento e capacidade para reformular todo o sistema, introduzir novos conceitos e implementar uma nova filosofia.
No entanto, resta perceber, acima de tudo, se a ligação Governo-Federação estará disposta a não cometer mais disparates que continuam, ano após ano, a prejudicar o desenvolvimento do futebol no país e a adiar constantemente o rótulo de ‘próxima potência desportiva mundial’.
Estados Unidos da América
Quanto aos Estados Unidos da América, o desaire russo conduziu à demissão imediata do seleccionador Bruce Arena, incapaz de replicar a qualificação conquistada outrora para os Mundiais de 2002 e 2006. O técnico-adjunto Dave Sarachan assumiu o seu lugar provisoriamente, até porque o próprio presidente da Federação, Sunil Gulati, anunciou que não se iria recandidatar ao cargo, abrindo as portas a um novo nº 1 no futebol norte-americano, responsável por escolher o substituto oficial de Arena. As eleições decorreram em Fevereiro, com Carlos Cordeiro, vice-presidente de Gulati, a levar a melhor. No entanto, a troca de um presidente pelo seu vice não era a mudança estrutural que muitos viam como essencial para a saúde do ‘soccer’.
O novo presidente optou por prolongar a estadia de Sarachan no comando até Junho, para tornar a escolha do novo seleccionador o menos precipitada possível. Assim sendo, torna-se particularmente difícil gizar uma projecção do percurso norte-americano até ao Qatar. A qualificação para o próximo Campeonato do Mundo inicia apenas na segunda metade de 2019, e a defesa da CONCACAF Gold Cup acontece pouco antes disso, durante o Verão. Até lá, estão agendados um conjunto de partidas amigáveis, que para já, têm servido para oferecer minutos a figuras menos cotadas, em detrimento de vários ‘trintões’ credenciados que se perpetuavam na selecção. Embora o interino Sarachan tenha os dias contados, é possível discernir a clara intenção do norte-americano em trazer novos rostos.
As convocatórias para os amigáveis frente a Portugal em Novembro, Bósnia-Herzegovina em Janeiro, e Paraguai esta semana, comprovam esta integração de vários estreantes. No entanto, colocam-se alguns pontos de interrogação relativamente ao verdadeiro valor da nova geração. Se por um lado continuamos a assistir à confirmação de Christian Pulisic como uma das grandes promessas do futebol mundial, a caminho de se tornar o melhor jogador norte-americano de sempre, por outro vemos a distância qualitativa entre ele e os remanescentes da sua colheita. Independentemente do homem que venha ocupar o cargo de seleccionador, o futuro da equipa dos Estados Unidos irá gravitar certamente em torno de Pulisic.
Entre os restantes, quem estará em melhor posição para retirar o peso dos ainda jovens ombros de Pulisic, na caminhada rumo ao Qatar? Se o jogador do Borussia Dortmund assume a dianteira norte-americana no lote dos mais talentosos, o próximo da lista é obrigatoriamente John Brooks, central do Wolfsburg. Aos 25 anos, Brooks já adquiriu traquejo internacional no Campeonato do Mundo de 2014 e na Gold Cup de 2015, à medida que vai cimentando o seu estatuto de defesa confiável na Bundesliga. Portentoso e forte no jogo aéreo, comandará o eixo defensivo dos Estados Unidos nos próximos anos. Depois destes dois, só temos especulação. Serão DeAndre Yedlin (Newcastle), Matt Miazga (Vitesse) ou Kellyn Acosta (FC Dallas) elementos efectivamente valorosos numa realidade competitiva mais exigente? Conseguirão Tyler Adams (New York Red Bulls) e Weston McKennie (Schalke 04) confirmar o potencial que apresentam aos 18 anos? As respostas as estas questões, juntamente com a revelação do novo seleccionador, irão ditar quanto valerá esta selecção norte-americana num futuro próximo.
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