Cinco dias depois do Dia de Portugal, a tarde de hoje trouxe o Dia de Portugal no Euro. Cristiano Ronaldo e companhia defrontavam a Hungria em Budapeste, com mais de 50 mil pessoas nas bancadas (quando é que foi a última vez que lemos estas palavras para ilustrar um jogo de futebol?), numa espécie de ambiente pós-covid que faz sorrir os amantes da bola mas causar estranheza a um país (Portugal) que viveu um ano sem público nas bancadas.
Mas este texto não é sobre o regresso do público às bancadas. Este é um texto sobre a estreia da equipa das Quinas, campeã da Europa em título, no campeonato da Europa de futebol de 2020 que se realiza no ano seguinte.
Aos cinco minutos, já Diogo Jota causava calafrios nas bancadas do estádio da capital húngara, quando com um remate de pé esquerdo de fora da área obrigou o guardião magiar a uma defesa apertada. E calafrios é algo que os húngaros têm de ter com a Seleção Nacional, uma vez que, em 13 jogos, nunca venceram, com o saldo no confronto entre as equipas a dar nove vitórias portuguesas e quatro empates. Um destes empates, de resto, foi no Euro 2016, num épico 3-3 com que Portugal fechou a fase de grupos e se qualificou para a fase seguinte que o levaria até à glória final em Paris.
E se a Hungria nunca ganhou a Portugal, a verdade é que na primeira parte mostrou pouca vontade para que isso acontecesse, uma vez que passou grande parte do tempo no seu meio-campo, com quase todos os jogadores atrás da linha da bola, a tentar suster o ímpeto português que, apesar do domínio, não se concretizava em golos.
Uma das provas de ineficácia foi dada novamente por Jota, quando perto do final da primeira parte correspondeu a um cruzamento de Nélson Semedo com um remate à meia-volta que obrigou novamente o guarda-redes Gulácsi a aplicar-se. Logo depois, nova prova: cruzamento de Bruno Fernandes e Cristiano Ronaldo, à boca da baliza, a desaproveitar a oportunidade de colocar Portugal em vantagem e de se aproximar de Ali Daei na lista de melhores marcadores de sempre das seleções nacionais (está a cinco golos do iraniano e a seis de se tornar o mais goleador de sempre em jogos internacionais).
Depois do jogo ir para intervalo, a toada da partida manteve-se, ainda que a Hungria se tenha mostrado mais atrevida no início do segundo tempo. Contudo, o atrevimento serviu mais para animar as bancadas do que propriamente incomodar Rui Patrício, uma vez que os lances de ataque não criaram grande perigo e Portugal continuava a dominar o jogo.
A meio da primeira parte, Bruno Fernandes conseguiu um raro espaço à entrada da área húngara e aplicou o seu pontapé para obrigar Gulácsi a grande intervenção e apresentar a sua candidatura a uma das figuras da partida. Pouco tempo depois, Fernando Santos operava a sua primeira alteração e fazia entrar Rafa para o lugar de Bernardo Silva, provavelmente na tentativa de imprimir mais velocidade a um jogo que começava a ser frustrante pela equipa das Quinas - não só pelo escasso número de oportunidades criadas, mas também pelo desaproveitamento das que efetivamente existiram. E o jogador do Benfica revelou-se decisivo, mas já lá vamos.
A 10 minutos do fim veio o calafrio para Rui Patrício: uma jogada do lado direito do ataque húngaro originou mesmo um golo da seleção magiar, que contudo viria a ser anulado por fora-de-jogo. Logo de seguida, o selecionador português lançou Renato Sanches e André Silva (para os lugares de William Carvalho e Diogo Jota) para tentar mudar um jogo que parecia destinado a transformar-se numa desilusão. Isto porque Portugal está naquele que é considerado o grupo mais difícil do Euro, em que para além da Hungria (teoricamente o adversário mais acessível) terá ainda de enfrentar a França e a Alemanha. O jogo com os húngaros era, por isso, muito importante para garantir três pontos que podem ser decisivos na qualificação para a fase seguinte da competição (passam os dois primeiros classificados de cada um dos seis grupos, assim como os quatro melhores terceiros).
Até que, a sete minutos do fim, o jogo mudou. Numa jogada confusa, em que um cruzamento de Rafa (cá está ele) ressalta num jogador húngaro, a bola vai parar aos pés de Raphael Guerreiro que, de pé esquerdo, remata para ver a bola ressaltar noutro jogador magiar e entrar devagar, devagarinho, na baliza dos húngaros.
Logo depois, Rafa (cá está ele de novo) surgiu isolado na área da Hungria e foi carregado nas costas, obrigando o árbitro a assinalar a marca da grande penalidade que Cristiano Ronaldo não desperdiçou.
Em cima dos 90 minutos o capitão da equipa portuguesa voltou a marcar e a colocar o resultado em 3-0, respondendo a um passe de... adivinhou? Rafa, claro está.
Um jogo que parecia poder terminar em sofrimento, foi assim ganho com uma confortável vantagem e sem sofrer golos (algo que pode ser importante na hora da qualificação). E, já agora, permitiu ainda a Ronaldo bater mais um recorde e tornar-se o melhor marcador de sempre em campeonatos da Europa de futebol.
Com este resultado, Portugal senta-se confortavelmente no primeiro lugar do seu grupo e fica à espera do jogo que vai opor a França à Alemanha (mais tarde no dia de hoje). A estreia foi dura, mas a caminhada parece ter começado bem.
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