Em Adler, Sochi, o sol nasce cedo. Às três da manhã o dia já se faz notar, mas não parece outro dia. Parece que ainda estamos na zona mista do Portugal - Espanha, porque aqui, na Rússia, não se fala de outra coisa.
Este sábado foi dia de dizer adeus à cidade que há quatro anos acolhia os Jogos Olímpicos. Com destino a Moscovo, partimos para o aeroporto. No táxi as notificações não paravam com as menções da imprensa internacional a Cristiano Ronaldo.
“Deixa-nos sem palavras”, lia-se n’A Bola. “España no puede con Ronaldo”, dizia o El Correo. “Espectacular!”, exacerbaram os espanhóis do Sport. “Nos faltó suerte y nos sobró Cristiano”, lamentou o As.
Chegados ao Aeroporto Internacional de Sochi, na fila para um embarque um jornalista brasileiro, sem tempo para apresentações ou cumprimentos, destapa-nos o sotaque: “Portugal?”, questiona, sem dar margem para resposta. Para na fila, para desatento dos que avançam, fala e gesticula como quem acaba de sair de um espetáculo.
“[Ontem] Eu já sabia que Ronaldo ia marcar. Como estava indo o jogo eu acreditava que Portugal ia ter, pelo menos, mais uma chance. Estava tão confiante que quando Ronaldo foi para bater o livre me virei de costas para o relvado e fiquei diante dos adeptos para ouvir a celebração”, disse entre gestos de euforia. “Que jogador”, suspirou, por fim.
Tão repentino como chegou, o vemos partir. Numa passada larga abandona-nos. Pede desculpa, tem um voo para apanhar para Rostov, onde a canarinha defronta a Suíça no domingo.
Já no avião, um grupo de adeptos mexicanos não foge ao tema (como poderia?). Ronaldo? “Foy un golazo, na gaveta. E lo primero de Costa? Gran gol. Una falta perigosa, mas un bon gol”, dizia um dos sul-americanos enquanto tropeçava ao dizer os nomes de José Fonte e Cédric Soares, os dois defesas que o avançado espanhol Diego Costa tirou do caminho antes de atirar para o fundo das redes de Rui Patrício.
Passou um dia desde que a Seleção das Quinas e La Roja se defrontaram em Sochi. Desde então, a Islândia bateu o pé à temível Argentina, num jogo em que Lionel Messi falhou um penálti, e a Austrália assustou a França que só conseguiu garantir a vitória já perto do apito final com um golo de Pogba. O melhor futebol do mundo está acontecer aqui, entre os milhares de quilómetros que separam as várias cidades que recebem os jogos da maior competição de futebol do mundo, mas só o nome e o feito inaugural do melhor dos melhores é que continua a ecoar entre os adeptos.
É hora de jantar e o livre do Ronaldo já repetiu mais de cinco vezes em menos de um minuto num canal de televisão russo. O penálti falhado de Lionel Messi? Nem uma única vez.
Diário da Rússia é uma rubrica pela voz (e teclas) de Abílio Reis e Tomás Albino Gomes, equipa do SAPO24 enviada à Rússia para fazer cobertura do Mundial. Um diário que é mais do que futebol, porque a bola não se faz só de bola, mas também das pessoas que fazem a festa. Acompanhe a competição a par e passo no Especial "Histórias de futebol em viagem pela Rússia".
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