“Quando o presidente [da Federação Espanhola] me abordou, tinha três alternativas: dizer que não, ir-me embora ou aceitar. E não podia dizer que não, pois não me perdoaria”.
Foi assim que, ontem, Fernando Hierro abordou o tema e a sua decisão de aceitar o cargo de novo selecionador espanhol após ter sido noticiada a saída de Julen Lopetegui (que supostamente iria treinar o Real Madrid apenas no final do Mundial) da Seleção espanhola. Foi uma notícia que rebentou que nem uma bomba (particularmente em Espanha) no mundo desportivo, justificada pelo facto de os blancos terem feito as negociações à margem da Federação espanhola.
Todavia, os espanhóis que vieram à Rússia acompanhar a sua seleção, adeptos e jornalistas, não parecem muito preocupados com a situação. Se é ideal? Obviamente que não. Certamente será impossível considerar como "ideal" uma mudança a meros três dias do apito inicial da competição de futebol mais importante do mundo. Mas a verdade é que, ainda que seja esse o caso, a situação não parece abalar a confiança numa boa prestação a quem está afetivamente ligado à La Roja.
“Eu creio que era a única saída possível para Luis Rubiables, presidente da Federação Espanhola de Futebol, uma vez que Florentino Pérez sabotou a seleção espanhola ao anunciar três dias antes da estreia no Mundial que o selecionador era o novo treinador do Real Madrid [e] avisando a Federação apenas cinco minutos antes. Creio que era a única saída possível. Acho que é muito traumático porque Julen é um grande treinador e fez uma grande fase de qualificação, leva 20 jogos sem perder, mas é o que tinha de ser feito”, conta Javier Matallanas, jornalista diário As ao SAPO24.
Em sintonia, Luis Mora, jornalista da Mediaset España, não havia outra posição possível. “A Federação tinha de tomar uma decisão: ou seguíamos com um treinador que não está a 100% com a seleção ou o despedimos. É uma decisão que eu creio ser acertada, porque Lopetegui ia estar no Mundial a pensar no plantel do Real Madrid para a próxima temporada. Agora creio que há uma vazio que Hierro vai tentar ocupar”, comenta.
"Hierro é o melhor. Este vai ser o seu Mundial!”. Pelo menos, esta é a opinião e convicção de duas adeptas espanholas, que viajaram de Múrcia, relativamente ao tema do momento da competição: a troca de um selecionador a tão pouco tempo do jogo inaugural. E parece claro que Lopetegui faz parte do passado. Agora é Fernando Hierro quem manda e ninguém parece muito incomodado com isso. Antes pelo contrário — só faz falta quem está. "Isto é uma empresa. Se fosse numa empresa que farias?", questiona uma das adeptas em relação à decisão da Federação que tomam como acertada.
[Preferes Hierro a Lopetegui]? "Agora, sim. [Lopetegui] saiu para o Real Madrid. Cada um segue o seu rumo na vida. Nós só queremos o melhor para Espanha, logo queremos o mais importante. No futebol, isso é a união”, explica Sandra.
Mas será que há medo ou preocupação por ser uma decisão tomada tão repentinamente? "Nooooo! O Hierro é fantástico. Além disso, Espanha, quando nós ganhámos o Mundial ou o Europeu, começámos a sofrer. Estamos sempre a sofrer!” Só que o remate final vem no fim: “Vamos ganhar o Mundial!"
Matallanas, que já cobriu quatro Campeonatos do Mundo e cinco Europeus, revela-nos que falou esta manhã com os jogadores, antes da partida da La Roja para Sochi, e que todos se mostraram unidos. “Não há nenhum problema, eu sei que é uma crise muito grande, mas amanhã contra Portugal vamos entrar com tudo e vai ser igual como se lá estivesse Lopetegui, só que Hierro é que vai estar em campo”, conta.
Para Luis Mora, Fernando Hierro era a única solução possível para substituir Julen Lopetegui. “A dois dias de um jogo que fazes? Pegas no telefone e vais buscar um treinador que está de férias em qualquer parte do Mundo e que chega de repente a uma equipa que não conhece? O que eu acho que a Federação pensou foi em pegar em alguém que já estava aqui, que conhece os jogadores, que está por dentro, que sabe onde estamos. Por isso é apostar nele, cruzar os dedos e esperar que funcione”, disse entre sorrisos o jornalista espanhol, que diz que para o plantel a mudança não deverá ser um problema. “São jogadores muito experientes, são jogadores que já passaram por situações similares, jogadores do Real Madrid, jogadores do Barcelona, que têm problemas na equipa durante o ano, em cada temporada que jogam. Não deveria afetá-los, mas é uma coisa que distrai um pouco os jogadores do jogo. Mas eu confio no profissionalismo e na experiência dos jogadores espanhóis, como Sergio Ramos, Iniesta, Piqué... são jogadores muito experientes, espero que não pese a fatura, mas quem sabe...”, diz.
É união a palavra que Matallanas usa para justificar a escolha de Hierro, um ídolo de um país e um modelo para vários dos jogadores que compõe a seleção nacional espanhola. “Para resolver uma crise em tão pouco tempo... ele era o diretor desportivo, não tem muita experiência como treinador, mas tem 30 anos de futebol, é um dos melhores jogadores da história de Espanha, foi capitão do Real Madrid, capitão da seleção, os futebolistas respeitam-no, toda a Espanha o respeita. É a melhor solução”, afirma.
Confiança, calor e o carrapito de De Gea
Pois bem, todos têm o direito de estar confiantes. Mas primeiro Espanha tem que passar por Portugal amanhã. E é então que começamos a fazer um jogo de prognósticos para o Portugal-Espanha de amanhã. "2-1 a favor de Espanha”, respondem. E nós para com os nossos botões: "Está certo..."
Mas então e quem marca? "Jordi Alba e Sérgio Ramos", diz Neves, a amiga de Sandra cujo nome próprio soa a apelido em Portugal. Porém, ficámos a pensar se a ausência de Morata na lista dos eleitos de Julen Lopetegui poderá ter alguma coisa a ver com esta escolha, uma vez que parece que a capacidade para marcar a Portugal vem a partir da defesa e não do ataque. Ainda assim, questionámos se essa escolha se deve a alguma preferência pessoal ou se foi mero palpite. Novamente, um esclarecido "NOOOOO"! Não, não foi por gosto pessoal, explicam-nos. No que a isso diz respeito, os louros estão reservados para dois Davids: são eles o Silva, mágico do Manchester City, e De Gea, guarda-redes do rival Manchester United de José Mourinho. A este último, no entanto, Sandra faz uma faz um apelo (ou deixa um conselho): "David Gea, corta o carrapito! Se não, não ganhamos o Mundial!"
E a estadia na Rússia? Como é que está a ser? "É o mesmo clima! Múrcia é como isto!" E dificuldades na comunicação? Nada que as apoquente. "Dling, dling, dling [gesticula como se estive a escrever no telemóvel] e [faz gestos com as mãos naquele gesto universal de comida] temos que comer. Como vêem, comunicamos muito bem. Eles não sabem inglês, nós muito menos. Não há qualquer problema, tem corrido tudo bem! Tudo muito amável: a praia, massagens, tudo perfeito!"
Ol. Por agora já se percebeu que em Sochi se faz muito calor. Mas como é que é fazer praia por aqui? "Aqui, em Sochi, é como em Múrcia". E depois adiantam num uníssono perfeitamente sincronizado: "Es i-g-u-a-l! O mar? Igual! Temperatura? Igual.
Enfim, com tanta coisa igual, só nos resta esperar que o prognóstico seja diferente do resultado final de amanhã.
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