Depois de cumprir o «training camp» com a equipa principal dos Kings, Neemias jogou menos de três minutos na pré-época e logo se percebeu que fora colocado atrás dos postes Richaun Holmes, Tristan Thompson, Alex Len e Damian Jones na hierarquia definida pelo treinador Luke Walton. Era a confirmação de que o português é um projeto de desenvolvimento a médio prazo da formação californiana e, por isso, foi natural a inclusão de Neemias na lista de jogadores que estarão ao serviço dos Stockton Kings, equipa afiliada aos Sacramento Kings que é treinada por Bobby Jackson, antigo jogador da NBA.

Este não é um passo atrás para Neemias. Depois da construção de um plantel desequilibrado e com excesso de jogadores grandes — além de Holmes, Thompson, Len, Jones e Neemias, também Chimezie Metu e Marvin Bagley podem jogar a poste —, a melhor opção era mesmo integrar os Stockton Kings. Só assim, o jogador de 22 anos poderá treinar e jogar com frequência, ao contrário do que aconteceria se fosse o terceiro ou quarto poste da rotação da equipa principal. Para além de continuar o seu desenvolvimento físico e técnico, Neemias vai adaptar-se à velocidade do jogo e mostrar-se a todas as equipas da liga na G League.

A liga secundária da NBA tem crescido nos últimos anos e serve, também, de laboratório para a NBA experimentar formatos e testar novas regras. Este ano, a inovação é a criação de uma taça ainda antes da fase regular da temporada. A Showcase Cup inicia-se esta sexta-feira e é um torneio em que as 30 equipas da G League — 28 dos Estados Unidos, uma do Canadá e outra do México — estão divididas por zonas geográficas e cada uma realiza doze jogos. As equipas vencedoras de cada zona regional juntam-se a outras quatro com a melhor percentagem de vitórias para disputar o troféu, na Winter Showcase, entre 19 e 22 de dezembro. Cinco dias depois, a 27 de dezembro, arranca a fase regular da G League e cada conjunto disputa 36 partidas. A fase regular da prova termina a 2 de abril e os playoffs começam no dia 5 do mesmo mês. Não há ainda data definida para as finais da competição.

Para Neemias, a estreia pode ser já nesta madrugada, na jornada inaugural, diante dos Santa Cruz Warriors (02h00, hora de Lisboa). Do outro lado da barricada, pela equipa secundária dos Golden State Warriors, estarão outros jogadores com vontade de provar que merecem uma oportunidade na NBA e, entre eles, alguns nomes que já passaram pela competição de topo como Jordan Bell e Chris Chiozza. E há muitas caras conhecidas um pouco por todo o lado: Harry Giles (Agua Caliente Clippers), Tacko Fall (Cleveland Charge), Shaquille Harrison (Delaware Blue Coats), Cassius Stanley (Motor City Cruise), Justin Anderson (Fort Wayne Mad Ants), Amir Johnson e Kosta Koufos (G League Ignite), Nik Stauskas e Lance Stephenson (Grand Rapids Gold), Ryan Arcidiacono e Luke Kornet (Maine Celtics), Alfonzo McKinnie (Mexico City Capitanes), DJ Wilson (Oklahoma City Blue), Garrison Matthews (Rio Grande Valley Vipers), Caleb Martin (Sioux Falls Skyforce), Sekou Doumbouya (South Bay Lakers), Justin Jackson (Texas Legends), Wenyen Gabriel (Wisconsin Herd) ou Greg Monroe (Capital City Go-Go).

Para além de todos estes atletas com experiência de NBA, a G League vai ser montra para muitos dos «rookies» que, a par de Neemias, foram escolhidos no draft deste ano e servirá para, de quando em vez, uma estrela da NBA que esteja a recuperar de lesão possa fazer uns minutos para regressar à forma antes de voltar à piscina dos grandes. São os casos dos lesionados Pascal Siakam e Serge Ibaka, que estão a treinar com as equipas da G League afiliadas a Toronto Raptors e Los Angeles Clippers, respetivamente.

Neemias tem, na G League, mais um degrau para subir na sua evolução e a paciência é chave. Como se diz para os lados de Philadelphia, é preciso confiar no processo. Basta olhar para jogadores que, entretanto, se fixaram na NBA, mas que passaram dois ou mais anos na liga de desenvolvimento. Chris Boucher, poste canadiano dos Toronto Raptors, foi eleito MVP e Defensive Player of the Year no seu segundo ano de G League (médias de 27.2 pontos, 11.4 ressaltos e 4.1 desarmes de lançamento em 28 jogos, em 2018-19), apesar de na época anterior ter feito apenas oito jogos na liga secundária e com médias modestas de 11.8 pontos e 7.5 ressaltos. Já o colega de Neemias nos Sacramento Kings, Chimezie Metu, passou duas épocas na G League (2018-19 e 2019-20) e continua a lutar por um lugar na equipa principal.

No «media day» dos Stockton Kings, Neemias Queta disse estar "concentrado em evoluir todos os dias". É um clichê que ouvimos frequentemente no mundo do desporto, mas é mesmo aquilo que o gigante de 2,13 metros deve fazer. A NBA é uma liga de oportunidades e o telemóvel pode tocar a qualquer momento. Com um contrato «two-way», que lhe permite jogar na G League e ser chamado um máximo de 50 vezes ao plantel dos Sacramento Kings, está à distância de uma lesão, uma troca, um buyout ou apenas um momento de desinspiração de quem está na equipa principal para receber uma chamada e poder tornar-se no primeiro português de sempre a jogar na NBA.