Não é um resultado surpreendente do Flamengo, empatar com o Fortaleza fora de casa. No ano passado, sob o comando de Jesus e tendo, do outro lado, o seu atual treinador Ceni, o Flamengo só venceu no fim do jogo graças ao talento de Reinier.

É sempre difícil jogar no Castelão e imagina-se que os ex-comandados por Rogerio Ceni tenham querido mostrar trabalho. Mas o Flamengo, muito superior tecnicamente, contra um rival que vinha de uma sequência negativa de resultados, não pode ser tão inócuo ofensivamente se quiser lutar pelo título.

O lance de maior perigo foi uma jogada individual de Pedro que terminou num pénalti duvidoso. Na cobrança, ironicamente, o jogador escorregou e acabou a bater com os dois pés na bola, gerando um livre indirecto para o Fortaleza bater. No fim, o Flamengo pouco criou. Até poderia ter vencido, mas mostra pouca evolução com semanas inteiras para treinar. Rogério Ceni precisa de ser questionado.

Pelos lados do tricolor paulista, uma vitória dominante sobre o Fluminense, no Maracanã. A turma de Fernando Diniz mostra que atingiu a maturidade do jogo e que está, de facto, muito consciente do que precisa de fazer em campo. Mais uma boa atuação, com controlo sobre o jogo e criação de jogadas trabalhadas que viraram golos do jovem artilheiro Brenner, que com os quatro tentos marcados no Maracanã, só neste ano, já é o quarto maior artilheiro do clube no estádio.

O São Paulo, que jogou bem mas perdeu na Copa do Brasil no meio da semana, mostra resiliência e dominância para, mesmo sem poupar nenhum titular, conseguir vencer de forma tranquila e administrar o cansaço para a segunda-mão da meia final. 

Com 11 jogos por jogar, o São Paulo abre 7 pontos, com um jogo a mais do que o Flamengo, e mostra, principalmente, consistência. Sem vencer o Brasileirão desde 2008, o clube nunca esteve tão perto de terminar o hiato de títulos nacionais. E, se mantiver a distância para o rival carioca, chegará campeão à última jornada, quando vai justamente defrontar o Rubro-Negro

Alguns fatores marcam a brilhante campanha tricolor até aqui. O primeiro é a manutenção de Fernando Diniz, treinador promissor, de jogo atraente, mas pouco eficiente até este ano. Ele esteve por um fio algumas vezes, depois de eliminações no Campeonato Paulista e na Taça dos Libertadores. Mas é evidente a evolução da equipa nestes últimos meses, sob o seu comando. O São Paulo joga o melhor futebol do Brasil. Um jogo de toques curtos, de aproximação e de inteligência, com a marca de Daniel Alves, comandante do meio campo.

Com um plantel curto, dê-se mérito também à equipa médica do clube, que tem seguido um protocolo rígido de controlo contra a Covid-19. Entre os primeiros do campeonato, é o único que não sofreu um surto da doença e acumula testes negativos antes de cada jogo. A manutenção da equipa técnica permitiu, também, a evolução da preparação física dos jogadores que quase não se lesionaram neste ano. O clube sofria com lesões nos anos anteriores e agora fica, praticamente evidente, que a troca de treinadores e, consequentemente, preparadores físicos, cobrava o seu preço.

E, por último mas não menos importante, é de se destacar a importância da formação de atletas do clube, em Cotia (centro de treinos para as categorias de base). São quatro titulares absolutos (Luan, Sara, Igor Gomes e Brenner) e muitas boas opções no banco, frutos de uma sequência de gerações que já revelou David Neres, Antony, Militão e companhia. 

Juvenal Juvêncio, antigo presidente do clube, dizia que sonhava com o dia que veria a maioria da equipa formada em casa. E agora, além do constante retorno financeiro que a venda de jovens talentos sempre deu ao São Paulo, é a oportunidade de ter retorno desportivo de uma geração talentosa e comprometida com o clube.

Num ano de crise, com problemas financeiros e reconstruindo o plano durante o ano, o São Paulo surpreende até o mais otimista dos seus adeptos. Joga bem, é bem treinado, parece ter deixado os problemas psicológicos no passado e é, sim, o maior candidato ao título do Brasileirão.