Já está. Arrastou-se e não foi ideal. Fugiu o primeiro lugar do grupo à seleção campeã da Europa, mas, ainda assim, distante dos nervos dos play-offs sucessivos que assolaram os apuramentos para dois mundiais e um europeu entre 2010 e 2014. Contas feitas, Portugal garantiu um lugar no Campeonato da Europa de 2020 para defender o título conquistado em 2016, em França.
Fernando Santos terminou com as angústias das eras Paulo Bento e Carlos Queiroz mas, à boa maneira portuguesa, uma derrota por 2-1 na Ucrânia - que pôs fim a uma série invencível de 13 jogos da seleção das quinas (oito vitórias e cinco empates) - adiou o apuramento para as duas últimas jornadas da fase de qualificação, nos jogos diante da Lituânia e do Luxemburgo, e tornou o primeiro lugar do grupo matematicamente impossível - e assim retirou o estatuto de cabeça de série à campeã da Europa no sorteio da fase final que vai acontecer no próximo dia 30 de novembro.
Não obstante, cumpriu-se o objetivo, o prefácio necessário para lutar pelo sonho de revalidar o título europeu. À beira de uma competição que se jogará nos pés de uma das mais talentosas gerações do futebol português depois daquela que Carlos Queiroz apresentou ao mundo em Riade e reafirmou em Lisboa, liderada por Cristiano Ronaldo que, aos 34 anos, diz que, por ele, só jogaria os “jogos importantes, os da seleção nacional e os da ‘Champions’", o SAPO24 aproveita o facto de a guerra ainda estar fechada para 'apalpar' terreno ao que aí vem: as trincheiras e as tropas, as nossas e as deles.
Primeiro capítulo: As trincheiras
Se há guerras que valem a pena enfrentar de peito aberto são aquelas que, ainda antes de acontecerem, já cravaram o seu nome na história. A 15,.ª edição do Campeonato da Europa, 40 anos depois do primeiro Euro disputado em França e conquistado pela União Soviética, em 1960, não vai, pela primeira vez, ter país - ou países - anfitrião. Em vez disso, serão cidades - doze no total. Amesterdão (Holanda), Baku (Azerbaijão), Bilbau (Espanha), Bucareste (Roménia), Budapeste (Hungria), Copenhaga (Dinamarca) Dublin (Irlanda), Glasgow (Escócia), Londres (Reino Unido), Munique (Alemanha), Roma (Itália) e São Petersburgo (Rússia) vão ser os palcos de um campeonato que Aleksander Čeferin, presidente da UEFA, ambiciona que seja “uma ponte entre nações” e que aproxime a “competição dos adeptos, que são a verdadeira essência da modalidade".
O Euro 2020 manterá também o molde alargado testado em 2016, que aumentou para 24 o número de seleções a disputar a fase final e que tantas alegrias continua a dar em Portugal. Há três anos, com a abertura da porta aos melhores terceiros classificados da fase de grupos na qualificação, a Seleção Nacional iniciou a ronda de jogos que a levaria ao título europeu - pelo lado teoricamente mais fácil do diagrama. Agora, na fase de qualificação, Ronaldo e companhia beneficiaram do facto dos segundos lugares se qualificarem diretamente para a fase final - antigamente obrigavam à disputa do play-off, como aconteceu em 2012 em que, só após um empate a zeros na Bósnia e Herzegovina, e uma goleada por 6-2 no estádio da Luz, é que os comandados de Paulo Bento (à época o selecionador) conseguiram garantir um lugar no Euro disputado na Polónia e Ucrânia.
O apuramento soube a pouco, apenas 17 pontos, vincados por dois empates caseiros diante dos dois rivais mais fortes do grupo, a Sérvia e a Ucrânia, e uma derrota em Kiev que matou de vez os sonhos do primeiro lugar do grupo. Especialmente depois de Fernando Santos ter assegurado, tanto em 2016 como em 2018, o apuramento para o Europeu e Mundial de forma distinta e em primeiro lugar do grupo.
Felizmente para Portugal, só a partir de 12 de junho de 2020 é que elas começam a contar lá dentro. Como quem diz, também à boa maneira portuguesa: o que interessa é lá chegar e depois logo se vê. E se há ensinamento que tiramos do Euro 2016 é que, mesmo por caminhos poucos ortodoxos (tradução: empates), também é possível chegar lá (tradução: à bela da taça).
Segundo capítulo: Com quem combatemos, as dúvidas e as aparentes certezas de Fernando Santos
Ao contrário de Raúl Solnado, que chegou às sete da manhã à guerra errada - queria a de 1908 e pôs-se à porta da de 1906 -, Fernando Santos já está à porta de 2020 desde que terminou o Campeonato do Mundo na Rússia, ladeado pelo seu capitão e, à espera de que ninguém se aperceba, atou uma guita à taça para a trazer de novo para Portugal.
Apelidado de ‘engenheiro do penta’, depois de na temporada 1998/99 ter levado o FC Porto ao quinto título consecutivo de campeão nacional, Fernando Santos estaria, provavelmente, longe de imaginar a 24 de setembro de 2014, dia em que assumiu o comando da seleção nacional, que estava a menos de dois anos de ser também o engenheiro do Euro.
Desde que substituiu Paulo Bento, Portugal ganhou uma nova vida. As profecias foram elevadas a troféu em Paris, no Stade France, o primeiro de sempre da seleção nacional, naquela memorável noite de 10 de julho de 2016, naquele pontapé de Éder, eternizado na história do futebol português. O novo selecionador das quinas venceu o Euro 2016, levou, pela primeira vez, a seleção nacional a participar na Taça das Confederações, na qual terminou em terceiro lugar, e venceu, já este ano, o segundo título do palmarés da equipa nacional: a Liga das Nações, numa final disputada em Portugal diante da Holanda.
Tanto a equipa como o treinador amadureceram juntos nos últimos cinco anos. Se, ao princípio, as ideias de Fernando Santos não eram tão nítidas e se notava que o 'engenheiro' ainda procurava uma equipa - basta olhar para os números da fase de qualificação para o Euro 2016 e ver que, no total, independentemente de terem chegado a somar minutos ou não, foram chamados 53 jogadores diferentes (cinco guarda-redes, 21 defesas, 13 médios e 14 avançados) - atualmente, as escolhas do selecionador, pelo menos durante esta fase de qualificação, mostram uma ideia muito mais cimentada - foram, no total, chamados 36 jogadores: três guarda-redes, 12 defesas, 10 médios e 11 avançados.
A fórmula vitoriosa que foi sobrevivendo aos sucessivos jogos do Euro 2016 foi sendo melhorada, tanto com o talento português que prospera lá fora, como com aquele que cresce em território nacional, e que moldou a equipa que se apresentou na final da Liga das Nações e nos últimos jogos de qualificação para o Euro 2020. Foi a resolução desta equação que permitiu a Fernando Santos chegar aos 70 jogos à frente da seleção nacional com 43 vitórias, 16 empates, 11 derrotas, 139 golos marcados e 52 sofridos.
O projeto do engenheiro cimentou-se e isso torna possível projetar os escolhidos para o Euro do próximo ano. Por exemplo, ao longo de toda a qualificação, o trio de guarda-redes convocado foi sempre o mesmo (Rui Patrício, Beto e José Sá), embora na última convocatória Fernando Santos tenha colocado o nome de Rui Silva, guarda-redes do Granada, em cima de uma mesa onde paira ainda o nome de Anthony Lopes, guardião titular do Lyon, que não é convocado desde do Campeonato do Mundo na Rússia e que, no início do ano, assumiu que colocou a seleção em stand by para se focar na família e no clube.
A defesa, por outro lado, é campo de menores certezas, uma vez que muitas das escolhas deverão ser tomadas em função da estratégia do selecionador nacional. Com três defesas direitos de topo (João Cancelo, Ricardo Pereira e Nélson Semedo), por exemplo, será interessante perceber se Fernando Santos deixará algum dos nomes de fora ou se aproveitará a valência de Cancelo poder também atuar no lado esquerdo da defesa. Só nessa altura ficará esclarecido se Mário Rui, que só teve direito aos primeiros 90 minutos no jogo frente à Lituânia, no Algarve, nesta fase de qualificação, será companheiro ou não de Rapahel Guerreiro nas escolhas para o Europeu.
Mas quando se fala do setor mais recuado do terreno, a grande dúvida parece ser quem será o quarto central ou se haverá ou não um quarto central - como o selecionador nacional optou por não ter na fase final da Liga das Nações em que os centrais convocados foram Pepe, Rúben Dias e José Fonte, aproveitando assim a versatilidade de Danilo Pereira para poder cumprir este papel em caso de necessidade. Para este ‘quarto lugar’, Fernando Santos já chamou Ferro, Rúben Semedo, Daniel Carriço e, mais recentemente, Domingos Duarte, mas sem nunca dar minutos a qualquer um deles.
Sendo que a experiência nesta posição no Euro 2016 (em que brilharam Ricardo Carvalho e Pepe como principal dupla) deu frutos, Santos poderá querer privilegiar um elemento mais experiente, com Carriço a ter mais primaveras para justificar a opção. Mas o defesa do Sevilha não é o único com um trunfo na manga; Ferro tem a vantagem de formar dupla com Rúben Dias no SL Benfica e por isso a química de quem conhece melhor do que ninguém o parceiro do lado. Por último, há uma cartada que pode surgir inesperadamente: a chamada de Bruno Alves, convocado para o Mundial de 2018 na Rússia, atualmente a vestir as cores do Parma, e que pode oferecer a experiência que o selecionador nacional já mostrou privilegiar.
No meio-campo os nomes foram sendo consensuais ao longo da qualificação e só o rendimento na restante época poderá desfazer algumas dúvidas. Por exemplo, para a posição de ‘seis’, o médio que joga à frente da defesa, há Danilo Pereira, Rúben Neves e William Carvalho, para ‘oito’ há Renato Sanches, Bruno Fernandes e André Gomes (ainda que este último possa ser uma hipótese remota, tendo em conta a lesão sofrida recentemente). Além disso, resta saber se Pizzi, que tem estado em grande destaque como motor do Benfica nesta temporada, se vai estrear na fase final de um grande competição de seleções, depois de já ter sido chamado para a Liga das Nações (mas sem ter sido utilizado), ou se João Mário, campeão em 2016, conseguirá reconquistar o seu lugar. Sobre João Moutinho, não parecem existir grandes dúvidas: aquele que é o oitavo jogador com mais jogos em Campeonatos da Europa (15), empatado com o espanhol David Silva, foi aposta de Fernando Santos em todas as competições disputadas desde que assumiu o comando técnico da seleção, sendo que oferece uma posição no meio-campo mais equilibrada do que qualquer um dos nomes acima referidos, que têm um pendor atacante ou defensivo mais definido. Outro caso à parte é Bernardo Silva, vencedor do prémio de melhor jogador da Liga das Nações, peça fundamental do Manchester City e que divide opiniões em relação ao melhor jogador português da atualidade.
O setor mais polémico promete ser o último terço do terreno. Se o nome de Cristiano Ronaldo é já um dado adquirido - ele que extenderá ao Euro 2020 a sua perseguição ao recorde do iraniano Ali Daei como melhor artilheiro de seleções da história -, a questão recai sobre quem lhe irá fazer companhia. Nomes como Gelson Martins e Ricardo Quaresma, que foram convocados para o Mundial de 2018 e não tiveram espaço nesta fase de qualificação, podem dar espaço à imaginação: um regresso romantizado de Éder, uma nova oportunidade da dupla André Silva/CR7, que no passado prometeu mundos e fundos, a consagração anunciada de João Félix, a explosão de Bruma, a inesperada conquista de um lugar por parte de Daniel Podence ou de Gonçalo Paciência, (numa altura em que Dyego Sousa, sem jogar na China há um mês, parece fora das opções de Fernando Santos) - todas opções possíveis, todas opções válidas.
Terceiro capítulo: Do outro lado das trincheiras
A armada portuguesa vai levar para as trincheiras a junção de uma nova geração que começa a consagrar-se na Europa, com outra que conta com que tantas alegrias deram à Seleção. De Pepe a Rúben Dias, de Rúben Neves a João Moutinho, de João Félix a Cristiano Ronaldo, a verdade é que não faltam argumentos à equipa portuguesa. Mas é importante manter os pés do chão, até porque Portugal não está sozinho e os 'inimigos' podem vir de qualquer lado.
Basta recuarmos até 2016, à final de Paris. A França, finalista vencida, aprendeu com os erros e na Rússia, em 2018, apresentou-se irrepreensível. Os pupilos de Didier Deschamps juntam qualidade e juventude numa equipa que quer juntar o título europeu ao título mundial. Se ainda não convenci o leitor, atente aos seguintes nomes: Antoine Griezmann, Kylian Mbappé, Paul Pogba, N´Golo Kanté, Raphael Varane, Benjamin Pavard, Hugo Lloris.
É, não é?
Mas Mbappé e companhia estão longe de ser um problema isolado. O Europeu que se avizinha promete ser competitivo e os candidatos perfilam-se. Há a Alemanha (sempre favorita) que quer corrigir a imagem que deixou no Mundial de 2018, em que não passou da fase de grupos. Nomes de uma nova geração como Timo Werner, Sèrge Gnabry, Jonathan Tah, Julian Brandt e Kai Havertz juntam-se a outros como Manuel Neuer, Marco Reus ou Toni Kroos para montar uma Mannshaft ameaçadora.
Há também a Holanda, embalada pela ‘fornada’ que levou na última temporada o Ajax às meias-finais da Liga dos Campeões, onde se incluem Frenkie de Jong e Matthijs de Ligt (entretanto transferidos para Barcelona e Juventus, respetivamente), e alicerçada aos holandeses do Liverpool, Virgil van Dijk e Gini Wijnaldum, campeões europeus; duas gerações que se encontram para formar uma equipa que tem de ser incluída nas favoritas a conquistar o título. Sobretudo depois de ter alcançado a final da Liga das Nações, mesmo que a tenha perdido para Portugal.
A Bélgica com a sua geração de ouro no ponto - de Eden Hazard a Lukaku, passando por Kevin de Bruyne - entra num lote de uma segunda linha de favoritos, onde também temos de incluir a Croácia, vice campeã mundial, e a renascida Inglaterra que se mostrou ao mundo na Rússia e que aos ombros dos jovens Jordan Sancho, aliada à experiência dos mais ‘rodados’ Sterling e Harry Kane, quer, finalmente, voltar a conquistar um título de seleções depois daquele já distante Mundial de 1966.
Quarto capítulo: A guerra (propriamente dita)
Falar de futebol é um constante exercício de memória, como reavivar a imagem daquele golo de Ariza Makukula ao Cazaquistão num jogo de apuramento para o Europeu de 2008 numa simples conversa de café entre amgios. Ora, este que vos escreve sofre de uma limitação cronológica proveniente do facto de ter nascido no ano de 1995. Sim, vi e revi vídeos do Mundial de 1966, do Euro de 84 e do Campeonato do Mundo de 86. Mas nasci num tempo após a Geração de Ouro, não vi a seleção crescer, encontrei-a já 'pronta a servir'.
Reveja aqui o primeiro episódio da série documental do SAPO24 "Chegámos lá, cambada!" que percorre a história da seleção nacional desde o caso Saltillo, em 1986 à glória em Paris, em 2016
Num gesto de humildade, recorri à lista telefónica para ligar a alguém cuja memória seria capaz de recordar o pequeno-almoço que tomou na primeira quarta-feira de abril de 2002. Falo de Rui Miguel Tovar, jornalista desportivo e autor d'“O Grande Livro da Seleção”, entre tanta outra literatura futebolística.
Se a guerra ainda está de porta fechada, este é o momento ideal para a reflexão. Portanto, primeiro que tudo, o que mudou com Fernando Santos? É importante conhecer a estratégia de quem nos lidera. Bem, passámos a ter “um treinador que nunca dá nada de barato, que está sempre a alertar para os perigos, seja de Andorra, seja da Ucrânia”, responde Rui Miguel Tovar. “Isso faz com que os jogadores entrem em campo nunca de peito feito, há sempre um pé atrás mesmo que seja a Lituânia ou o Luxemburgo”, sublinha.
Para Tovar, Fernando Santos sempre teve essa mesma postura: que nos tempos do Estoril, Estrela da Amadora, SL Benfica, Sporting CP e FC Porto, quer aquando da passagem pelo futebol grego, o atual selecionador nacional manteve a mesma coerência. O que é que difere na equipa das quinas? O talento disponível, pois claro.
“Temos jogadores muito mais talentosos do meio-campo para a frente do que qualquer outra seleção ou do que qualquer outra equipa que o Fernando Santos tenha treinado. Só é pena é que, nos jogos assim mais complicados, Portugal às vezes dececione. Estou a falar daquele Suíça-Portugal do arranque para o Mundial 2018 [fase de qualificação], em que perdemos 2 - 0, e estou a falar deste último jogo com a Ucrânia, em Kiev”, diz.
O atual treinador da equipa nacional é um líder nato, disso Rui Miguel Tovar não tem dúvidas. Sabe gerir a equipa e fazer um grande “aproveitamento da nossa matéria prima”.
“No Europeu de 2016, mais de metade da equipa tinha sido lançada pelo Fernando Santos e isso também é um mérito. Na altura, para quem estava só há um ano e meio à frente da seleção, estrear uma série de jogadores, colocá-los em campo e formar uma equipa... nesse aspeto tem muito mérito”, sublinha.
O homem certo no lugar certo, portanto. Mas há um ponto que tem de ser discutido: desde a vitória na batalha de Paris, em 2016, até hoje, o desempenho da seleção foi oscilando.
“A Taça das Confederações foi boa, embora pudéssemos ter sido eliminados pelo Chile sem ser nos penáltis, porque o Chile foi superior na meia-final. Mas a partir daí, a minha opinião é que o jogo da seleção baixou. Não sei como, não sei porquê, mas a verdade é que mesmo tendo ganho a Liga das Nações, há um Mundial que não foi bom. Uma vitória em quatro jogos não é satisfatório, muito embora, por exemplo, no Europeu de 84, Portugal tenha ganho um jogo em quatro e foi aquilo que se viu, ainda hoje a seleção é recordada. E agora já nos queixamos, uma vitória em quatro não é nada. Ficamos um bocado amuados quando a seleção se vai embora cedo. A qualificação do Uruguai foi justa, mas só porque Portugal nunca se encontrou propriamente. No Mundial da Rússia, tirando o Ronaldo no primeiro jogo [Portugal 3 - 3 Espanha], tudo o resto foi muito pobre. Podíamos perfeitamente ter perdido com Marrocos e ganhámos, podíamos ter, no último minuto, perdido com o Irão com aquela bola às malhas laterais do Taremi. Foi um Mundial ingrato para Portugal”, explica.
A Liga das Nações, por outro lado, foi um momento de felicidade. Na ressaca do Campeonato do Mundo, a seleção nacional conseguiu mostrar um melhor futebol e logo a jogar em casa, diante dos seus adeptos. Mas Tovar não consegue esquecer esta fase de qualificação para o Euro 2020, é como uma espinha atravessada na garganta: “Devíamos ter-nos qualificado mais cedo. Aqueles empates em casa nas primeiras duas jornadas foram uma enorme deceção. Depois corrigimos, claro, com o 2-4 na Sérvia, mas estar na última dupla jornada à espera de nos qualificarmos enquanto a Ucrânia já está qualificada... isso é uma deceção. Devia ser o contrário, Portugal já devia estar classificado e a Ucrânia a correr atrás”.
Portanto, à porta da guerra, Tovar diz que para 2020, Portugal tem de se superar. “Vamos ver como nos comportamos, mas temos de ter uma nota alta e a nota alta será não repetir os erros do Mundial de 2018 e não sair tão cedo”, afirma.
Ah! E usar 2016 também como cábula.
“O Euro 2016 foi uma maravilha em termos de resultados. Foi glorioso, mas em termos exibicionais nem sempre foram uma maravilha, dizer isso seria um exagero... foi bom. Aquele oitavos-de-final com a Croácia, sem nenhum remate até ao minuto 119... Isso é deprimente. Portugal, nesses primeiros quatro encontros do Europeu, tem jogos muito chatos. Começa a jogar um bocadinho melhor com a Polónia, com o País de Gales foi um jogo em que assumimos o favoritismo e ganhámos com categoria, 2-0, e depois na final conseguimos superar-nos porque perder o Ronaldo aos 24 minutos, aguentar o 0-0 e depois aquele golo do Éder... é uma coisa inesperada e histórica”, relembra.
É com essa imagem da final na memória que assume, sem rodeios, que “o pensamento durante o Euro 2020 tem que estar no Euro 2016”. “É isso que devemos repetir, do jogo da Polónia para a frente. Foram jogos em que mostrámos que era possível tudo com a maior das contrariedades. Uma coisa é não contar com Ronaldo para a qualificação da Liga das Nações, durante quatro jogos ele não joga e nós, à partida, já sabemos que ele não joga, portanto vamos jogar assim, desta maneira. Outra coisa é durante o jogo o Ronaldo lesionar-se. Isso mexe com a cabeça de qualquer um, selecionador, companheiro, adversário, e Portugal conseguiu mostrar a outra face e fazer um futebol, sobretudo no prolongamento... É um prolongamento muito bom de Portugal. Houve mais futebol e é isso que nós queremos, jogar futebol”, diz.
Um dos desafios para o Campeonato da Europa que se aproxima é o da gestão do plantel, uma vez que a competição será disputada por 12 cidades e as distâncias entre elas podem ser motivo de desgastes. No entanto, Tovar olha para o plantel português como uma equipa quase de recursos ilimitados: “Temos uma equipa tão boa, tantos suplentes de luxo, pode jogar o William ou o Rúben Neves, o Guedes ou o João Félix. Há muita matéria prima que deve ser utilizada e bem utilizada durante uma prova grande como é o Europeu. Portugal tem jogadores para resultar sempre, desde o minuto zero ao minuto 45, 60... temos um plantel dos mais valiosos que há na Europa. Jogador a jogador, há uma qualidade acrescida, há muitos jogadores bons que se funcionarem só a 80% já é um comboio em andamento imparável. Depois, claro, há muitas nuances, o adversário pode estar melhor, podemos rematar três vezes e a bola nunca ir à baliza, o guarda-redes deles estar em grande forma... Mais uma vez, vou buscar a final de 2016. Se não fosse o Rui Patrício não havia prolongamento, a França ganhava e ganhava bem”.
O que é importante antes de ir para a guerra é, portanto, assumir ao que vamos. Sem “paninhos quentes”. “Se dizemos que a Lituânia pode ser perigosa e que o Luxemburgo em casa também... Não brinquem comigo. Se nós temos medo de um jogo com o Luxemburgo então nem quero imaginar quando formos a Wimbley jogar contra Inglaterra. Nós temos que nos superar sempre”.
Superar é a palavra de ordem.
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