Este é, à partida, um encontro especial. Mourinho quebrou todos os recordes ao serviço do clube londrino e a estima dos adeptos pelo português não tem limites. Espera-se uma tarde cheia de emoções para o Special One que, ainda assim, tudo fará para levar de vencida a antiga equipa. Vejamos o que poderá ser decisivo neste clássico da era moderna do futebol inglês, em cada um dos conjuntos.

Diabos sem medo de não ter bola

Já aqui analisámos, aquando do dérbi de Manchester, como o United normalmente se apresenta. Ainda assim, já muito mudou, precisamente desde esse jogo contra o Manchester City. Com Herrera e Mata a fazerem as vezes de Fellaini e Rooney, respetivamente, a equipa tem jogado um melhor futebol e criado mais e melhores oportunidades de golo. Contudo, em jogos mais complicados, a inclusão de Fellaini parece fazer as delícias de Mourinho a nível defensivo e, à semelhança do jogo com o Liverpool, espera-se a titularidade do belga.

Adicionalmente, vamos com certeza ver muitas vezes Pogba a ‘ir buscar jogo’, já que com o duplo pivot Kanté-Matic não haverá muito espaço à frente dos centrais. O duelo entre Herrera e Hazard quando o United tiver a bola será igualmente fulcral para a construção de jogo da equipa de Mourinho.

Para extremo esquerdo, assim como no jogo contra o City, defendo a titularidade de Martial. Ainda assim, a decisão de Mourinho por Ashley Young na segunda-feira passada resultou na perfeição. Young tinha o papel de ajudar a parar a ala direita do Liverpool, mais precisamente Sadio Mané. O resultado foi brilhante, pelo que o português tem agora uma escolha a fazer: colocar Ashley Young na direita para ajudar mais na manobra defensiva - visto Marcos Alonso explorar toda a ala esquerda juntamente com o extremo à sua frente -, ou deixar Rashford na direita e obrigar Alonso a maiores precauções defensivas.

À semelhança do jogo em Anfield Road, dar o domínio do jogo ao adversário e apostar em toda a capacidade de Rashford para contra atacar poderá ser a receita ideal para Mourinho. Uma nota ainda para o facto de a percentagem de posse de bola do United contra o Liverpool ter sido de 35% - um recorde mínimo do clube - apesar do Special One ter feito questão de corrigir os números oficiais, dizendo que a sua equipa técnica tem a certeza que a posse de bola do United rondou os 42%.

Esquema tático de ambas as equipas com posse de bola, com padrão de movimento dos jogadores limitado às mais óbvias e habituais movimentações
Esquema tático de ambas as equipas com posse de bola, com padrão de movimento dos jogadores limitado às mais óbvias e habituais movimentações

Um Chelsea "italianizado"

O início de época de Antonio Conte aos comandos dos Blues não tem sido propriamente famoso. Não estando, ainda assim, afastada dos lugares cimeiros, a equipa do Chelsea claudicou em todos os grandes testes que teve até ao momento. Sempre que jogou contra equipas sem medo de atacar e capaz de colocar muita gente na frente, como são os casos de Liverpool, Swansea e Arsenal, o Chelsea falhou, perdendo dois desses jogos e arrancando o empate contra os galeses apenas nos minutos finais da partida.

Com um sistema muito semelhante ao do United, os londrinos apostam em Marcos Alonso para ser a chave de desequilíbrio ofensivo da equipa. À semelhança de Valencia no United, o espanhol junta-se à linha de médios, apoia e explora zonas do terreno impensáveis para a maioria dos defesas esquerdos. Contudo, com Rashford pela frente, vai ser muito complicado a Marcos Alonso subir no terreno, pelo que será interessante perceber como lida o Chelsea com esse pormenor. A única dúvida no onze parece ser relativamente ao ocupante da ala esquerda atacante. Contudo, Moses, autor de duas excelentes partidas nas duas últimas jornadas, deverá ser titular.

Por tudo isto, acredito que o jogo do Chelsea terá que passar por evitar que Rashford e Young recebam a bola com liberdade nas alas, forçando assim o United a jogar no interior. Com um duplo pivot mais completo e muito mais eficaz que o do adversário, os Blues poderão ter na dupla Kanté-Matic a solução para todos os problemas. Mas, para que tal aconteça, tudo terá que funcionar na perfeição.

Visto ambas as equipas jogarem com esquemas muito idênticos e serem fortíssimas nas bolas paradas, a estratégia de abordagem ao jogo que irão adotar será um fator importantíssimo. À partida, qualquer um dos conjuntos poderá tentar tomar conta do jogo, mas ambos poderão beneficiar imenso se entregarem as ‘rédeas’ da partida ao adversário. Será interessante ver se a equipa em controlo da bola terá maiores dificuldades em criar lances de perigo ou em lidar com os contra-ataques do adversário.

Feita a antevisão, que role a bola no domingo, dia 23, às 16h.

Pedro Carreira é um jovem treinador de futebol que escolheu a terra de sua majestade, Sir. Bobby Robson, para desenvolver as suas qualidades como treinador. Tendo passado por clubes como o MK Dons e o Luton Town, encontra-se neste momento a trabalhar para a Federação Inglesa de Futebol (The FA). Pode acompanhar as suas crónicas, todas as sextas, aqui no SAPO24.