Académico de Viseu

Um projecto de sucesso. É desta forma que podemos adjetivar o Académico de Viseu, que “nasceu” em 2005, a partir da reformatação do antigo Grupo Desportivo de Farminhão (fundado em 1974), ocupando o lugar do extinto Clube Académico de Futebol, que chegou a estar na principal divisão de futebol em Portugal.

Será que no final desta temporada teremos “surpresa” entre os promovidos da Ledman LigaPro? Bem, a formação de Viseu está em crescendo, pois se compararmos com os números da temporada anterior, os viseenses somavam apenas sete pontos e encontravam-se "estacionados" a meio da tabela. E em 2017/2018? Ocupam o 1.º lugar com 19 pontos e possuem o melhor registo defensivo da Liga.

Não é mentira alguma dizer que é na defesa que mora o segredo para as subidas de divisão. Que o diga o "mestre das subidas" Vítor Oliveira (atualmente ao serviço do primodivisionário Portimonense), que nas últimas duas subidas de divisão atingiu sempre dos melhores registos defensivos da Segunda Liga.

Voltando a Viseu, é um facto que a equipa de Francisco Chaló não tem desapontado nestes primeiros dois meses de competição. São sete vitórias em dez jogos, e se é verdade que a derrota um tanto ou quanto surpreendente ante o Oliveirense pode lançar algumas dúvidas em relação à candidatura à subida, não é menos verdade que um mau resultado não deverá gerar motivos para grandes preocupações. Pelo menos para já.

Um plantel munido de jogadores experientes como Loureiro, Bura (o central formado no FC Porto tem sido um ativo importante no estancar de oportunidades de ataque das equipas adversárias), Barry (ex-flaviense com experiência de Segunda Liga e raça no ataque à baliza) e Peçanha (guardião brasileiro muito conhecido dos adeptos da Liga NOS, onde sempre se destacou pela sua grande qualidade entre os postes e nas manchas) tem argumentos para ser encarado como um pretendente sério na luta pelos lugares de subida.

Processos simples, velocidade e acerto na troca de bola entre a defesa e o meio do terreno, agressividade q.b. na disputa de bolas e boa leitura da estratégia dos adversários são os pontos fortes do Académico de Viseu.

Onde subsistem, então, os problemas? Na primeira das duas derrotas na competição, frente ao CD Nacional, a equipa técnica “acertou” na estratégia ofensiva e na forma como deveria explorar a defesa dos alvinegros. Contudo, a eficácia em frente à baliza faz o trabalho dos extremos e municiadores do ataque falhar por completo. E este é um dos problemas da formação de Viseu: aproveitamento de oportunidades e eficácia "na cara do golo".

Ou seja, terão sido as duas derrotas um “acaso”? Bem, o padrão é similar. Tanto com o Oliveirense como frente ao Nacional, a equipa de Viseu sofreu dois golos e não conseguiu responder a tempo de evitar a derrota (contra a formação de Oliveira de Azeméis ainda reduziu, mas não foi o suficiente).

No entanto, o conjunto de Viseu é um dos candidatos e há uma ideia importante a reter: tem tido 90% de sucesso em virar desvantagens ou empates no marcador. Isto aconteceu contra o FC Porto B, Académica de Coimbra, Sporting CP B e Vitória SC B. Um pormenor que é bem maior e mais valioso do que se possa pensar.

CD Nacional

Os alvinegros estão de “visita” momentânea na Segunda Liga ou a estada vai ser mais prolongada do que se pensa? A essa pergunta, só Costinha (ou Rui Alves) pode responder.

O arranque de temporada tem sido agridoce, com uma sequência de quatro vitórias (praticamente um mês sem perder), em que chegou a derrotar o Académico de Viseu em casa, para depois entrar num ciclo de derrotas.

Neste ciclo, importa destacar os 11 golos sofridos em três jogos, algo extremamente preocupante para a equipa comandada por Costinha. A defesa dos nacionalistas está longe de ser medíocre, já que apresenta o experiente Diogo Coelho (soma quase 120 jogos na segunda liga em três anos e meio), Júlio César (central “desconhecido” mas que rapidamente irá atrair atenções de clubes de meio da tabela da Liga NOS), Nuno Campos (outro atleta formado no Nacional e que agora ganha a titularidade) e Mauro Cerqueira.

Por outro lado, durante o tal mês de invencibilidade, a equipa madeirense só consentiu três golos em seis jogos da Ledman LigaPro (excluindo o resultado da Taça da Liga, onde registou uma derrota por 3-2 ante o Cova da Piedade), o que prova que o problema talvez se deva a outro tipo de instabilidade.

Nas derrotas frente ao SC Braga B e FC Porto B (5-4 e 2-1 respectivamente), os nacionalistas foram surpreendidos no um-para-um, na reação às bolas perdidas (Christian, ex-Paços de Ferreira tem estado em bom nível nos confrontos físicos e no tapar de espaços, mas o controlo de bola e o passe curto tem sido uma das dificuldades do trinco) e na comunicação dentro da área.

E, sobretudo, há dois fatores que foram decisivos nas últimas três derrotas: pouca solidariedade do ataque para com a defesa, com uma participação insuficiente no apoio, quer ao meio-campo defensivo, quer aos laterais, deixando as “costas” da defesa expostas a um ataque mais dinâmico.

Com o Real Massamá SC (que antes do jogo do último fim-de-semana constava entre os últimos lugares da liga), o Nacional sofreu dois golos devido a essa mistura de fatores: defesa demasiado subida e exposta, meio-campo ofensivo pouco expedito em auxiliar a defesa e fraca reação às bolas perdidas.

O ataque tem sido um “problema” nas contas de Costinha, já que a eficácia ofensiva está algo abaixo do que os nacionalistas produzem na maioria dos jogos. Note-se as cinco oportunidades claras falhadas quer por Murilo, Ricardo Gomes, Jota ou Vanilson que podem ser entendidas como decisivas para o resultado final.

Este aspeto tem sido recorrente da equipa do Nacional. O falhar de golos constante, apesar da construção ofensiva de qualidade (nota extremamente positiva para Jota, um jogador fadado para outro patamar) é uma “espinha” cravada nos últimos resultados na Segunda Liga. E numa divisão onde aproveitar as oportunidades é essencial para sonhar com algo mais que a manutenção, os alvinegros têm desperdiçado em demasia.

Estas últimas três derrotas derrotas (a vitória na Taça de Portugal ainda deu algum “alívio”) foram um “aviso” preocupante para os madeirenses que têm como objectivo regressar à Liga NOS. Será Costinha o homem certo para guiá-los de volta às vitórias? Ou o problema advém de uma equipa que está desprovida de um “matador”, um elemento essencial para a Ledman LigaPro, que tanto o Santa Clara (Thiago e Clemente) como o  Académico deViseu (Sandro Lima e Barry) ou o Gil Vicente (Rui Miguel) têm?.

E o banco de suplentes e as restantes reservas, conseguem trazer algo mais à equipa quando entram (Wity é dos poucos que consegue “abanar” com o jogo vindo do banco)? Muitas perguntas e tão pouco tempo para respondê-las.

Santa Clara

Tal como na época anterior, a turma açoriana tem vindo a protagonizar um arranque de campeonato fulgurante, ocupando a vice-liderança da tabela classificativa, apenas superada pelo surpreendente Académico de Viseu. E se a saída do técnico Daniel Ramos acabaria por se revelar fatal para as aspirações do Santa Clara em 2016/17, veremos se o sucesso do actual treinador Carlos Pinto, poderá resultar igualmente num convite antecipado para um clube da Primeira Liga.

Natural de Paços de Ferreira, Carlos Pinto deixou o continente após uma experiência menos conseguida no clube da sua terra, mas tem no seu currículo uma subida à Segunda Liga ao serviço do Freamunde em 2014/15. Além disso, perdeu uma promoção ao principal escalão nos últimos instantes da derradeira jornada, enquanto treinador do GD Chaves, episódio que deseja certamente vingar, o mais brevemente possível.

Para o conseguir, tem à sua disposição um dos plantéis internacionalmente mais diversificados de toda a prova. Excluindo a metade lusa e os tradicionais brasileiros, podemos encontrar outras oito nacionalidades diferentes no balneário, muitas delas pouco comuns nestes palcos. A saber: Costa Rica, Iémen, Canadá, El Salvador, Coreia do Sul, Croácia, Colômbia e Iraque.

Curiosamente, uma das principais figuras desta equipa é Osama Rashid, o primeiro futebolista de origem iraquiana a pisar relvados profissionais portugueses. Centro-campista cuja história de vida poderá conhecer através da entrevista exclusiva ao Fair Play, Rashid encontrou novo alento nos Açores. O internacional iraquiano de 25 anos chegou a representar as selecções jovens da Holanda, e esteve muito perto de ingressar no Werder Bremen, mas uma lesão grave tratada indevidamente travou o seu crescimento nos primeiros anos de sénior. Entrou em Portugal pelas portas do Farense em 2015, e por ter dado óptimas indicações na altura, foi resgatado à liga búlgara, onde militou até meio da época passada.

Outra aquisição certeira foi a de Thiago Santana, avançado brasileiro que luta pela liderança da lista de artilheiros, com os seus sete golos em nove partidas. Estreou-se em território luso no ano passado, nos quadros do Vitória de Setúbal, onde as estatísticas individuais não conduziram à renovação do contrato. No Santa Clara, contudo, tem dado provas do seu sentido de oportunidade, deixando invariavelmente o experiente Clemente no banco de suplentes.

É verdade que a série inaugural de seis triunfos em sete partidas foi seguida de um par de derrotas, separadas por quatro dias, frente a Varzim e Sporting B. Mas estes recentes deslizes não parecem ser suficientes para afastar os açorianos de lutar até ao fim pela promoção. Será que voltaremos a ter um representante dos Açores na principal competição de clubes, quinze anos depois?

Arouca

Dificilmente esqueceremos a incrível história do emblema arouquense, que saltou dos campeonatos distritais de Aveiro para a Primeira Liga em apenas sete anos. Seguiram-se quatro temporadas no topo, pontuadas pela qualificação inédita para as competições europeias. Por isso, quando a fatalidade da despromoção apareceu em Arouca, surgiu igualmente a promessa e a vontade de regressar de imediato aos principais palcos do futebol nacional.

De modo a cumprir os objetivos, a direção trouxe Jorge Costa, cotado treinador que já havia conseguido uma subida ao primeiro escalão, enquanto liderava o Olhanense, em 2008/09. No entanto, desde a primeira semana de competição que se notava alguma instabilidade no seio do grupo, com Jorge Costa a afastar de forma “irreversível” quatro jogadores (Kuca, Jubal, Sancidino e Bruno Lopes), logo após a derrota inaugural na Segunda Liga. “Vão continuar as suas carreiras longe do Arouca”, frisou o técnico, sem dar conta de pormenores do sucedido. Ironicamente, acabaria por ser ele próprio a abandonar o clube, poucas semanas depois.

Meia dúzia de rondas marcadas por um único triunfo e três golos apontados, ditaram o afastamento precoce de Jorge Costa ainda no começo de setembro, dando lugar a Miguel Leal, ex-Boavista.

Ainda é bastante cedo para comentar a performance do novo técnico em Arouca, cuja amostra é somente uma vitória caseira frente ao Sporting CP B, e um empate no reduto do Varzim. Porém, esta dupla jornada serviu para quebrar o ciclo negativo herdado e, quem sabe, dar início a uma fase positiva da época.

O Arouca reúne no seu balneário o plantel com mais experiência na Primeira Liga, e isso trata-se de uma valência única, se devidamente aproveitada. Muitos dos jogadores que desceram de divisão optaram por não desertar, e a eles juntaram-se outras unidades de valor inegável. Nuno Coelho, Bracali, André Santos, Cícero, Hugo Basto e Nuno Valente, todos eles já ultrapassaram a barreira individual dos 50 jogos na Primeira Liga.

Sendo assim, o 15.º lugar que o conjunto arouquense ocupa à passagem da 9.ª jornada não deve ser visto como uma condenação ao falhanço, mas sim como a antecâmara de uma fantástica revirada, rumo à promoção. Afinal de contas, os lugares de subida estão a oito pontos de distância, faltando ainda 29 partidas para diluir essa diferença.

O Arouca tem todas as ferramentas para conseguir inverter a situação e consumar o tão desejado regresso à Primeira Liga, mas será que a prática irá coadunar-se com a teoria?

António Pereira Ribeiro é editor da Major League Soccer para o Fair Play, e acompanha tudo o que se passa nos relvados norte-americanos, sem descurar o futebol nacional.

Francisco Isaac é editor no Fair Play... desde o Mundo da bola Oval aos confins da Segunda Liga, a criação de artigos passa por descobrir os pormenores e detalhes que colocam o desporto em maiúsculas.

Fair Play é um projecto digital que se dedica à análise, opinião e acompanhamento de diversas ligas de futebol e de várias modalidades desportivas. Fundado em 1 de Agosto de 2016, o Fair Play é mais que um web site desportivo. É um espaço colaborativo, promotor da discussão em torno da actualidade desportiva.