Aos 32 anos, o 'gigante' cubano, de 2,01 metros, caiu inanimado num treino do FC Porto, esteve 45 minutos em paragem cardiorrespiratória, e acabou por morrer hoje no Hospital de São João, onde a lutar pela vida desde a tarde de segunda-feira.

Nascido em Havana em 20 de março de 1988, Quintana ‘encantou-se’ pelo andebol por influência do irmão, após experimentar o basquetebol e o basebol. Começou a lateral, mas, um dia, com “oito ou nove anos”, foi chamado à baliza, por a sua equipa não ter guarda-redes, e não mais de lá saiu.

A qualidade inegável de Quintana não passou despercebida e acabou por tornar-se internacional pelo seu país natal, participando mesmo no Mundial de 2009, tal como Daymaro Salina.

Em 2010/11, mudou-se para o FC Porto e tornou-se no primeiro cubano a atuar no andebol português, abrindo a ‘porta’ a vários compatriotas.

“O que me custou foi o frio e o idioma. Já estou habituado, mas ainda me custa”, revelou numa extensa entrevista ao Jornal de Notícias, publicada em fevereiro de 2020.

A descoberta de Quintana em Cuba foi na altura explicada pelo diretor-geral dos 'dragões', que revelava ser uma aposta num jogador jovem e com futuro.

"Tenho tido a sorte de ter boas relações no mundo do andebol e um outro jogador cubano deu-me excelentes referências do Alfredo Quintana. Fui vê-lo e gostei. É um guarda-redes com grandes condições para a prática da modalidade e esperamos que a adaptação se faça o mas rápido possível", referiu, na altura, José Magalhães, ao jornal O Jogo.

Quintana, que, à chegada, disse que "o FC Porto é o máximo", não voltou a deixar os 'dragões' e tornou-se mesmo numa das suas principais figuras, conquistando seis campeonatos, uma Taça e duas Supertaças.

“A minha mentalidade ao longo destes 10 anos não mudou. O único objetivo que tenho é trabalhar e ajudar a minha equipa. Talvez por aí venha o reconhecimento dos adeptos e do clube. Não quero ser lembrado como o melhor guarda-redes, mas como uma pessoa que ajudou sempre a equipa, jogasse bem ou jogasse mal”, disse na citada entrevista ao JN.

A dar nas vistas no FC Porto, Quintana acabou por obter a nacionalidade portuguesa e, em 2014, foi chamado pela primeira vez à seleção lusa, uma convocatória que não foi pacífica, com várias vozes a levantarem-se contra a sua naturalização.

“Quando visto as cores de Portugal, visto-as como se estivesse a vestir as de Cuba. Em termos políticos não posso, mas se me perguntassem se gostava de voltar a jogar por Cuba, digo que sim. Representar o país onde se nasceu é o sonho de qualquer atleta, mas Portugal abriu-me as portas, deu-me a conhecer a nível mundial e quando entrar em campo vou dar sempre tudo pela seleção portuguesa”, detalhou ao JN.

Quintana acabou por se afirmar como um dos melhores guarda-redes a nível internacional e abriu portas aos seus compatriotas no andebol português, em especial no FC Porto, e na seleção lusa - no último Mundial, além do guarda-redes, integraram os convocados Salina, Victor Iturriza e Alexis Borges, todos pivôs e com ligações ao FC Porto.

O ‘gigante’, que se descrevia como “meio louco” e que gostava de “descansar”, “beber um bom vinho”, “ver futebol”, “jogar playstation” e estar com a filha, cujo nascimento revolucionou a sua vida fora dos pavilhões, como confessou ao JN, fazia parte da nova geração de ouro do andebol português, que conseguiu nos últimos dois anos as melhores prestações de sempre em grandes competições, com o sexto lugar no Europeu de 2020 e o 10.º do Mundial de 2021.

“Andebol? Felicidade”, respondeu, sem hesitar, num “A a Z” do jornal O Jogo, o guarda-redes de 32 anos, que hoje morreu depois de ter desfalecido durante um treino, na companhia dos seus colegas, em plena Dragão Arena, o local a que chamava de “casa”.