Dividida em seis episódios, a série "Os Craques do Campeonato Saudita" estreou há apenas três semanas antes da votação do Congresso da Fifa, que deve confirmar a candidatura da Arábia Saudita, a única que foi apresentada, como organizadora do Mundial.
A votação será uma etapa crucial na estratégia do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, que utiliza o desporto como mecanismo de reforço da influência da Arábia Saudita e para melhorar a imagem do país no cenário internacional.
O futebol está no centro desta estratégia e a série destaca a transformação do Campeonato Saudita graças às chegadas de estrelas como Cristiano Ronaldo, Neymar e Karim Benzema, protagonistas do documentário.
A produção também coloca em evidência a "paixão histórica" dos sauditas pelo futebol, lembrando que vários de seus clubes foram fundados há quase um século e que existem grandes e tradicionais rivalidades.
Mudar as percepções
Apesar de a política ficar em segundo plano na série, Mohammed bin Salman aparece brevemente para entregar um troféu da Copa do Rei da Arábia Saudita ao Al-Hilal, clube de Neymar, que foi campeão do torneio após vencer na final o Al-Nassr de CR7.
O atacante português afirma perante as câmeras que sua aventura no país é, acima de tudo, desportiva: "Não estou aqui por dinheiro ou pelo que as pessoas vão dizer. Estou aqui para ganhar".
Mas segundo Danyel Reiche, investigador da Universidade de Georgetown no Catar, as estrelas estrangeiras "não estão somente pelo futebol".
"Participam de uma missão mais ampla, que tem o objetivo de normalizar a imagem da Arábia Saudita e mudar as percepções internacionais".
Além do futebol, o país recebeu torneios importantes de tênis, lutas de boxe e corridas de Fórmula 1. Mas estes eventos receberam críticas por serem ferramentas de "sportswashing", desviando as atenções das violações de direitos humanos, como o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, em 2018, e as prisões de dissidentes.
O príncipe herdeiro negou as acusações, declarando à Fox News: "se isso faz a economia saudita crescer, continuarei a fazer "sportswahing".
Tudo indica que as críticas devem continuar, especialmente se a Arábia Saudita for confirmada como sede da Copa de 2034.
"A série provavelmente não mudará a opinião dos críticos mais ferozes, que vêem estas iniciativas sob o prisma do "sportswashing". Parece mais destinada ao público curioso para compreender as ambições sauditas em torno do futebol", sugeriu Kristian Coates Ulrichsen, do Instituto Baker da Universidade de Rice, dos Estados Unidos.
Altos e baixos do Campeonato Saudita
A série também mostra os desafios da Saudi Pro League, a segunda que mais investiu no mundo em 2023, atrás apenas da Premier League de Inglaterra.
"A chegada de jogadores estrangeiros tem impactos positivos e negativos", reconhece Abdulrahman Ghareeb, atacante saudita que perdeu espaço com as novas contratações.
Apesar das imagens de adeptos a agitar as bandeiras nos estádios, a média de público continua baixa: na temporada 2023/2024 foi de 8.158 espectadores, contra os 9.701 do ano anterior, segundo o site Transfermarkt.
Algumas estrelas sofrem para se adaptar às condições locais, entre elas o calor intenso que faz os jogos serem disputados à noite. O inglês Jordan Henderson trocou o Al-Ettifaq pelo Ajax depois de apenas seis meses e Neymar, que sofreu uma grave lesão no joelho, ficou quase um ano sem jogar.
Estes "desfalques" inesperados permitiram que alguns jogadores sauditas brilhassem. "O meu objetivo é que o jogador possa superar uma estrela estrangeira", declara Feras al-Birkan, atacante do Al-Ahli.
Para muitos, esta transformação do futebol saudita continua a longo prazo. "No futebol, o que conta é como termina", afirma o português Jorge Jesus, técnico do Al-Hilal.
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