Com um clima ameno e temperaturas da água agradáveis para o inverno, são muitos os velejadores, sobretudo os estrangeiros, que em dias de sol zarpam da marina de Vilamoura rumo ao seu treino apenas de calções e camisolas de alças, tendo em mente os Jogos Olímpicos de 2020 que se vão realizar em Tóquio, no Japão.
Depois de uma primeira época menos concorrida, a temporada que arrancou em outubro e se estende até março reúne atualmente em Vilamoura 340 atletas, na maioria europeus, oriundos de mais de 30 países, incluindo o Canadá, Estados Unidos, Japão, Rússia, Israel ou Singapura, explica à Lusa o responsável pelo “Vilamoura Sailing”.
Segundo Nuno Reis, a segunda temporada do Centro de Alto Rendimento de Vela está a ter um impacto económico estimado de cerca de oito milhões de euros, gerados pelos longos períodos de permanência das equipas, que ficam em média 180 dias, contribuindo com mais de 63 mil dormidas em época baixa.
Para o responsável, o facto de Vilamoura (concelho de Loulé, distrito de Faro) reunir um conjunto de países tão alargado para o treino de vela torna-a num “caso único no mundo”, proporcionado por condições consideradas ideais para qualquer velejador: “há quase sempre vento e é muito raro não haver um dia navegável”.
O centro – que tem a sua base na marina de Vilamoura, onde foi também criado um ginásio – arrancou em 2017 com 18 países e agora já vai em 38, com sete classes olímpicas. Prevê-se que o número de velejadores atinja um total de 600, em fevereiro, devido à realização de uma prova.
A diretora da marina de Vilamoura, Isolete Correia, considera que o projeto, que foi cofinanciado por fundos europeus, vai ao encontro do desejado combate à sazonalidade do turismo algarvio e sublinha que o impacto na economia regional é muito positivo.
De acordo com a diretora da marina, os atletas mostram-se “encantados com as condições do clima e com as infraestruturas” que têm ao seu dispor e o impacto local tem sido muito importante no alojamento, na restauração e no comércio.
Ben Saxton, de 28 anos, campeão do mundo na classe mista Nacra 17, em 2017, é um dos atletas da equipa britânica que pelo segundo ano consecutivo estão a fazer os treinos de inverno em Vilamoura, onde o clima é “um milhão de vezes” melhor do que em Inglaterra.
Depois de uma passagem pelos Jogos Olímpicos de 2016 que não lhe correu como esperava, o seu foco é agora treinar “arduamente” para Tóquio, o que tem feito lado a lado com os seus principais adversários.
Se, por um lado, confessa, é “complicado”, por outro tem benefícios: assim podem aprender “uns com os outros”.
Carolina João, de 21 anos, que começou a velejar aos 08 e está agora no programa nacional de Esperanças Olímpicas, também é da opinião que treinar junto a equipas de outros países é bom para a sua própria aprendizagem.
“Uma das vantagens é que conseguimos sempre velejar, tem sempre vento, o que é algo único neste lugar. Outras das grandes vantagens é que aqui parece verão, está sempre bom tempo, sol e calor”, refere a atleta da classe Laser Radial.
Apesar de não ser olímpica, a classe Dragão é outra das que estão a ser potenciadas ao abrigo do projeto “Vilamoura Sailing”, com a recente aquisição de oito novas embarcações que podem ser alugadas para a participação em regatas, em Portugal ou lá fora.
Segundo Pedro Andrade, empresário do setor, trata-se de um serviço “jump-in, jump-out”, em que as pessoas – normalmente mais velhas e com posses financeiras – só precisam de entrar no barco, velejar e sair após a prova, sem terem de se preocupar com mais nada.
A classe Dragão, que cumpre agora 90 anos, reapareceu em Portugal na década de 1980 e destina-se a quem gosta de velejar como um ‘hobby’, mas não em condições extremas.
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