"São muitos jogos, alegrias e tristezas, fases de conforto e desconforto. Enfim, uma carreira muito bem preenchida, da qual me orgulho. Nem sempre consegui obter os melhores resultados, mas tenho a consciência plena de que, em todo o lado por onde passei, dei sempre o máximo e tudo o que sabia em prol da defesa dos interesses do clube", referiu à agência Lusa.
Vítor Manuel Oliveira, de 65 anos, assinalou o 'número redondo' no principal escalão à sétima jornada, com uma derrota na visita ao Santa Clara (1-0), no Estádio de São Miguel, em Ponta Delgada.
A estreia nos bancos da I Liga deu-se há 40 anos, em 10 de junho de 1979, quando o antigo médio foi convidado a assumir as funções de treinador-jogador no Famalicão, que havia caído para a zona de despromoção, a duas rondas do fim.
O matosinhense substituiu o argentino Mario Imbelloni, mas o empate caseiro diante do Sporting de Braga (2-2) e o desaire frente ao Belenenses (2-0) confirmaram a descida à II Liga.
Vítor Oliveira, então com 25 anos, já se esqueceu desse desafio com os 'arsenalistas', que inaugurou a carreira ao leme de clubes primodivisionários, cenário que "não passava sequer pela cabeça" e só prosseguiu na temporada 1985/86 no Algarve.
"Joguei mais algum tempo, até ter a ideia de vir para o Porto acabar o quinto ano de engenharia eletrotécnica. Mas enveredei pela carreira de treinador, empurrada de alguma forma pelo Manuel José e pelo Manuel João, técnico e presidente do Portimonense. Felizmente estou contente com aquilo que tem sido a minha história no desporto", recordou.
Vítor Oliveira contabiliza 17 presenças na divisão maior, à qual regressou esta época através do recém-promovido Gil Vicente, clube que orientou mais vezes na carreira, sobressaindo um oitavo (2002/03) e um nono lugar (1992/93) em cinco anos.
Após duas temporadas em Portimão, onde voltaria em 2017/18, o técnico estendeu a 'ligação' à elite com passagens por Paços de Ferreira (1991/92), Vitória de Guimarães (1995/96), Sporting de Braga (1998/99), Belenenses (1999/00) e União de Leiria (2007/08).
Pelo caminho, não evitou as descidas de Académica (2003/04) e Moreirense (2004/05) à II Liga, sendo rendido por João Carlos Pereira e Jorge Jesus às 19.ª e 27.ª jornadas, respetivamente.
"Ao longo da época vivemos momentos altos e baixos, porque o futebol é feito de dúvidas e certezas. Depois, há uma série de repetições e encaro isso com naturalidade. Conforme o número de jogos aumenta, vamos gerindo com maior facilidade", partilhou.
Desvalorizando a ausência de convites dos 'grandes', Vítor Oliveira rejeita olhar para trás e assume que fez "tudo aquilo que tinha de ser feito", inclusive no escalão secundário, no qual ficou conhecido como o 'rei das subidas', ao festejar 11 promoções em 18 presenças.
O treinador mais experiente da atual edição da I Liga admite que pode "parar ou continuar a qualquer momento" uma "estrada bonita", concentrando agora forças na permanência do Gil Vicente, que está de regresso ao convívio dos 'grandes'.
Vítor Oliveira igualou José Mota, Manuel Machado, Carlos Brito, Jaime Pacheco, János Biri ou Joseph Szabo, também com 400 ou mais jogos realizados, e continua a perseguir nomes como Jorge Jesus, Manuel Cajuda, Manuel José, Vítor Manuel, José Maria Pedroto ou Mário Wilson, que superaram os 500, bem como Manuel Oliveira e Fernando Vaz, com mais de 600.
Antigos companheiros destacam liderança e inteligência do “amigo” Vítor Oliveira
"Enquanto jogador era um capitão na aceção da palavra. O seu posicionamento no meio-campo, a mente organizada e a formação superior em engenharia davam alguma vantagem para conseguir liderar a equipa e tentar fazer um milagre", explicou à agência Lusa António Carraça, aludindo à reta final da temporada 1978/79 com as cores do Famalicão.
Após 32 anos afastados do principal escalão nacional, os minhotos regressaram à elite pela mão do argentino Mario Imbelloni e desenharam uma primeira volta "de grande qualidade", que resultou no oitavo posto, fruto de 14 pontos conquistados em 15 jornadas.
O cenário inverteu-se e o Famalicão caiu pela primeira vez na zona de despromoção à 27.ª e antepenúltima jornada, que antecedeu a saída de Imbelloni e a ascensão de Vítor Oliveira ao cargo de treinador-jogador, quando faltava defrontar Sporting de Braga e Belenenses.
"Tínhamos uma equipa recheada de bons jogadores, mas o futebol é isto mesmo: os golos deixaram de aparecer e a direção tomou essa decisão a duas jornadas do fim. Já se vislumbrava que o Vítor, depois da carreira que teve como jogador, pudesse dar continuidade e ser um treinador de sucesso", partilhou António Carraça.
O empate caseiro com os 'arsenalistas' (2-2) e a derrota no Restelo (2-0) confirmaram a descida dos nortenhos à II Liga na 13.ª posição, com os mesmos 24 pontos do Beira-Mar, que se salvou por ter marcado mais três golos do que a turma de Vila Nova de Famalicão.
A mudança técnica não evitou o pior cenário para as hostes minhotas, mas aquela igualdade diante do Sporting de Braga, em 10 de junho de 1979, deu início à carreira do médio Vítor Oliveira ao leme de clubes primodivisionários.
Ao contrário do antigo companheiro de balneário, Virgílio Lopes perdeu as memórias desse desafio, embora ainda recorde a postura de "um indivíduo extraordinário, um bom amigo e conselheiro, sempre disponível para ajudar e aconselhar".
"Marcou o facto de ser muitíssimo inteligente e de ter transportado isso para a gestão da carreira. Se merecia maiores ambições? Provavelmente não as teve por dizer aquilo que pensa. Acontece é que vemos alguns treinadores com pouca qualidade a treinar boas equipas, enquanto técnicos com muita qualidade dificilmente têm uma oportunidade numa equipa que lute por títulos", estabeleceu à Lusa o ex-defesa.
À parte dos 400 jogos no campeonato, Virgílio admite que Vítor Oliveira trabalhou muitas vezes "por escolha própria" na II Liga, patamar no qual festejou 11 promoções em 18 presenças, adquirindo o estatuto de 'rei das subidas', em vez de acompanhar as equipas que sobe.
"Estava na altura de almejar outras coisas. É um dos treinadores mais competentes em Portugal e sempre me fez alguma confusão que clubes de outra dimensão não tivessem apresentado um projeto para ele agarrar e desenvolver", reconheceu o antigo internacional pelas 'quinas'.
Indiferente ao nível competitivo em causa, António Carraça julga que preservar "o mesmo ADN" tem sido "um dos polos aglutinadores" do sucesso do técnico gilista: "É uma pessoa de princípios e de relação fácil com as pessoas que o rodeiam. É importante humanizar o futebol, o que facilita a nossa tarefa enquanto líderes."
(Notícia atualizada às 09:08)
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