Steve Simon disse em entrevista à estação norte-americana CNN que a Associação de Ténis Feminino está preparada para deixar de realizar torneios na China se não houver uma resposta adequada à sua alegação de que foi alvo de abuso sexual por um ex-alto quadro do Partido Comunista chinês, escreve o The Guardian.
Defendendo que o bem estar de Peng é “mais importante que negócio” e que “as mulheres devem ser respeitadas e não censuradas”, o presidente da Associação de Ténis Feminino admite a sua retirada de 10 eventos marcados para 2022 na China, avaliados em dezenas de milhões de dólares.
Peng escreveu nas redes sociais, em 2 de novembro, que foi forçada a ter relações sexuais, apesar das repetidas recusas, por Zhang Gaoli, um ex-vice-primeiro ministro e membro do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista, a cúpula do poder na China.
Ela escreveu que a esposa de Zhang ficou de guarda à porta durante o incidente. Na mesma mensagem, Peng apontou que, depois daquele primeiro encontro, passou a sentir algo por ele. A mensagem foi removida poucos minutos depois e a imprensa chinesa, que está submetida à censura exercida pelo regime, não referiu o assunto.
Apesar do desaparecimento, Peng Shuai terá alegadamente passado uma mensagem aos órgãos oficiais chineses, garantindo estar bem. De acordo com a alegada mensagem enviada por Peng a Steve Simon, difundida agora na página da televisão estatal chinesa CGTN na rede social Twitter, a tenista garantiu estar “bem e a descansar”.
“Não estou desaparecida. As alegações de abusos sexuais não são verdadeiras. Estou a descansar em casa e estou bem. Obrigado pela sua preocupação”, lê-se na mensagem atribuída a Peng.
Steve Simon afirmou, em comunicado, que a alegada carta divulgada pela CGTN apenas aumenta as preocupações sobre a segurança e o paradeiro de Peng.
“É difícil acreditar que Peng Shuai escreveu aquela mensagem que recebemos ou que lhe pode ser atribuída. Peng revelou grande coragem ao descrever as alegações de abuso sexual contra um alto quadro do Governo chinês. A WTA e o resto do mundo precisam de obter evidência verificável de que ela está segura. Tentei contactá-la de várias maneiras, mas sem sucesso”, disse Simon.
Entretanto, as autoridades estatais chinesas dizem desconhecer o caso. Zhao Lijian, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, disse em conferência de imprensa que o assunto “não é uma questão diplomática” e que não está ciente da situação. O ministério, de resto, tem rejeitado consistentemente ter conhecimento do problema, desde que se tornou um tema na imprensa internacional esta semana.
O caso tem levantado muitas ondas, com várias figuras do mundo do ténis a expressar publicamente preocupação por Peng Shuai, usando inclusivamente a hashtag #WhereIsPengShuai (#OndeEstáPengShuai).
"Estou arrasada e chocada por não ter notícia do paradeiro da minha companheira Peng Shuai. Espero que ela esteja segura e que seja encontrada o mais rápido possível", escreveu Serena Williams na sua conta no Twitter. "Isto deve ser investigado e não devemos permanecer em silêncio", exigiu.
Além de Serena Williams, outros nomes de destaque do ténis mundial, como o sérvio Novak Djokovic e a japonesa Naomi Osaka, entre outros, expressaram publicamente a sua preocupação em relação à situação de Shuai.
Peng, de 35 anos, é uma ex-jogadora do ranking de duplas femininas que conquistou títulos em Wimbledon, em 2013, e no The French Open, em 2014.
Ela também participou em três Jogos Olímpicos, tornando o seu desaparecimento ainda mais proeminente, numa altura em que Pequim se prepara para sediar os Jogos de inverno, a partir de 4 de fevereiro.
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