O Irão lançou na noite de sábado e madrugada de domingo um ataque contra Israel, com recurso a mais de 300 ‘drones’ (aparelhos aéreos não tripulados), mísseis de cruzeiro e balísticos, a grande maioria intercetados, segundo o Exército israelita, o que aumentou as tensões naquela região.
Questionado sobre o impacto de mais uma tensão geopolítica, a que se soma a guerra na Ucrânia, o conflito entre Israel e o Hamas, Gonçalo Lobo Xavier manifestou-se preocupado.
“Infelizmente, de facto, às vezes temos a ideia de que os conflitos longe de Portugal não têm impacto no mercado nacional e não têm impacto na própria logística e na própria gestão da eficiência e que isto passa ao lado, [mas] não é assim”, afirma o responsável.
“A verdade é que estes conflitos armados e estas tensões que existem na cadeia de transportes têm um impacto tremendo, e mesmo nos próprios produtos nacionais, na própria produção nacional, na própria cadeia de valor, seja ela mais curta ou mais longa”, prossegue.
E isso “é motivo de preocupação, porque se nós, por exemplo, na questão dos cereais e na falta de cereais, por momentos fomos à procura de outras soluções e de outros mercados do ponto de vista do produto propriamente dito, com os conflitos no Mar Vermelho fomos à procura de outras rotas (…) que não implicassem passar pelos focos de tensão”, exemplifica.
“Como é evidente isto traz uma disrupção em toda a cadeia de valor, seja para transportar matérias-primas, seja para transportar componentes elétricas, seja para transportar outro tipo de fatores de produção que têm impacto em diversos produtos”, refere o diretor-geral da APED.
“E por isso é de facto preocupante”, sublinha.
Até porque “o setor tem conseguido acomodar estas alterações procurando outro tipo de soluções, mas isto não é elástico e, sobretudo, não é infinito e, portanto, é motivo de preocupação”, reforça Gonçalo Lobo Xavier.
Considera que do ponto de vista da Europa “há muito a fazer”, nomeadamente no que diz respeito ao processo de reindustrialização para muitas áreas.
No fundo é “voltarmos a ter produção europeia de alguns produtos, sejam produtos agrícolas, sejam produtos de outras áreas de negócio”, isso “é muito relevante para termos não só cadeias de valor mais curtas, o que do ponto de vista da descarbonização e do combate às alterações climáticas faz também parte da nossa estratégia, mas também para reduzir custos e ficarmos menos dependentes de outras áreas do globo”, salienta o responsável.
Admitindo que a globalização “teve aspetos muito positivos”, refere que agora é preciso “repensar as cadeias” de valor.
“Temos que de facto perceber que precisamos todos uns dos outros e de valorizar não só o que é nacional, mas também o que é europeu” e “com isso tentar mitigar os efeitos das consequências dos conflitos geopolíticos e também dos conflitos que existem na própria cadeia de valor, como foi o exemplo dos problemas em França e em Espanha com as manifestações dos agricultores”, remata.
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