“Entramos agora em modo de execução, não há mais matérias para negociar, mas o banco nunca deixou de ter a sua operação normal a funcionar, manteve sempre em funcionamento todas as suas capacidades operacionais, tecnológicas”, disse Ulrich em conferência de imprensa, garantindo que os clientes não sentiram esta fase mais complexa da instituição, que só ocupou “um pequeno grupo” de pessoas.
“Mas libertos da complexidade destes últimos dois anos, obviamente que poderemos estar ainda mais focados nos clientes e nos negócios do que estávamos”, acrescentou o presidente executivo da instituição financeira.
Há cerca de dois anos que o BPI está a tentar cumprir as exigências do Banco Central Europeu de reduzir a exposição ao mercado angolano, onde Frankfurt considera que a supervisão não é equivalente à europeia, o que levou ao desencadear de um conflito entre os seus principais acionistas, o grupo espanhol Caixabank, que detém cerca de 45,50% do capital social, e a angolana Santoro (controlada pela empresária Isabel dos Santos), com 18,6%.
Depois de várias tentativas falhadas de reduzir a exposição a Angola, com estes acionistas sem se entenderem, em setembro a administração do BPI propôs a venda de 2% do BFA à operadora angolana Unitel, por 28 milhões de euros, apresentando-a como a “única solução” para cumprir as exigências do BCE.
Uma vez que com a venda o BPI perderá o controlo da operação em Angola, ficando com 48,1% do BFA e a Unitel com 51,9% (Atualmente, o BPI tem 50,1% do BFA e a Unitel 49,9%), tal significa o fim da desconsolidação da operação angolana nas contas do BPI, tendo já o BCE dado indicação que deste modo considera que o banco cumpre as suas exigências.
Ainda assim, a aprovação desta operação não foi feita sem alguns sobressaltos.
A decisão hoje tomada na assembleia-geral já era para ter sido tomada na reunião magna de 23 de novembro, mas esta foi suspensa por proposta do CaixaBank, tendo o banco espanhol justificado que queria esperar pela confirmação do Banco Central Europeu (BCE) de que a venda parcial do BFA é suficiente para solucionar o excesso de concentração de riscos do BPI em Angola.
Contudo, os jornais adiantaram que a verdadeira razão estaria relacionada com o Caixabank querer pressionar os angolanos a pagarem os dividendos ainda em falta relativos ao banco em Angola, e hoje, em comunicado ao mercado, o BPI disse que o Banco Nacional de Angola autorizou a transferência para Portugal dos dividendos do BFA relativos ao exercício de 2015, de 36,9 milhões de euros, enquanto para os dividendos de 2014 aguarda “a respetiva autorização de transferência a muito curto prazo”.
Já na segunda-feira à noite, o BPI informou o mercado que recebeu da Unitel, a 09 de dezembro, 30 milhões de dólares (28 milhões de euros) “correspondentes à última parcela do preço da operação” de venda de 49,9% do BFA em 2008.
Ulrich disse hoje que espera que a autorização da transferência dos dividendos de 2014 chegue em breve, “amanhã, depois de amanhã” e, questionado se, depois de todos os pagamentos feitos, está tudo sanado com Angola, afirmou: “tudo o que estava previsto está tudo resolvido”.
Já sobre que garantias tem de que a Unitel vai efetivamente pagar o valor acordado de 28 milhões de euros, considerou que “essa questão não se põe” numa “empresa grande e forte” como a Unitel.
No BPI continua agora o processo relativo à Oferta Pública de Aquisição (OPA) lançada pelo CaixaBank sobre 100% do capital social do banco, pela qual oferece 1,134 euros por ação.
Tanto Fernando Ulrich, como o presidente do Conselho de Administração do BPI, Artur Santos Silva, não quiseram adiantar hoje quando preveem que esse processo esteja concluído.
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