O anúncio feito na semana passada pelo Governo daquele que é o país mais populoso do nosso planeta (18,7% da população mundial) pode causar alguma estranheza, tendo em conta o historial da China relativamente a esta questão. Mas há um motivo muito simples para isto: se não houver tantos jovens, não há tantos trabalhadores para 1) produzir e 2) sustentar as reformas dos mais velhos. Vamos por partes.
De um para três filhos
No início da década de 80, foi implementada a política de um único filho. Distinta da maioria das políticas natalistas de outros países, que incentivavam as famílias a ter mais filhos, esta medida procurou mesmo reduzir a população, de forma a dar uma resposta mais sólida às necessidades dos cidadãos. Em alguns casos, eram abertas exceções e um casal poderia ter um segundo filho se, por exemplo, vivesse no meio rural ou se a primeira criança nascida na família fosse uma rapariga. No entanto, esta foi uma medida que se estendeu até 2015 e ficou conhecida como um dos exemplos de planeamento populacional mais rigorosos de sempre.
A força do trabalho
Hoje, conhecemos uma China diferente, que se destaca pela sua capacidade industrial e por ser líder mundial de exportações. Mas, em 2021, houve “apenas” 12 milhões de nascimentos no país. O número pode parecer elevado, mas representa uma queda 18% em relação ao ano anterior, num contexto de quatro anos consecutivos de declínio. Este fenómeno é também um ponto de viragem na cronologia demográfica do país depois de um período em que, ano após ano, nasciam mais bebés.
É claro que tudo isto tem impactos profundos na economia e produtividade da China, uma vez que o facto de haver menos bebés significa que no futuro haverá também menos trabalhadores numa potência mundial cuja população ativa é a maior do mundo. Esta redução da população jovem também prejudica a qualidade de vida dos mais velhos, já que os impostos dos mais novos alimentam os serviços públicos para os reformados.
No entanto, esta estratégia não deve ter grandes resultados. Por muito que o Governo chinês queira reverter esta tendência e dar mais sustentabilidade à sua Segurança Social, não está fácil fazer com que nasçam mais bebés. A política de dois filhos não foi eficaz e espera-se que a política de três filhos também não mude o panorama.
O risco: um mundo de cabelos brancos
Este não é única e exclusivamente um problema da China. Ainda na Ásia, por exemplo, na Coreia do Sul, o número de nascimentos por mulher caiu para 0,84 no ano passado (o mais baixo no mundo inteiro). Já nos Estados Unidos, entre 2010 e 2020, a taxa de natalidade, que decresceu, ininterruptamente, nos últimos seis anos, também mostrou ser a menor desde a Grande Depressão.
Na Europa, onde o cenário também é semelhante, países como a Alemanha estão a deixar de ter gente suficiente para encher as cidades. Desde 2002, o país tem menos 330 mil casas habitadas. Olhando para o caso português, em 2019, segundo o Eurostat, nasceram cerca de 1,43 bebés por mulher, sendo que o número que serve como referencial para indicar que a população está estável é de 2,1.
No entanto, pode-se dizer que este é, em geral, um problema dos designados “países ocidentais” (América do Norte e Europa, maioritariamente) e do norte da Ásia. Em África, pelo contrário, estima-se que a população deverá ter duplicado pelo ano de 2050. Deste modo, o mundo deixa de ter 7,8 mil milhões de pessoas e passa a ter 11 mil milhões em 2100, mesmo às portas do século XXII.
Curiosidade: neste mapa, poderá ver a evolução do crescimento da população nos países com mais habitantes do mundo, desde mil anos A.C. até à atualidade.
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