Cada indivíduo age de forma distinta perante determinadas circunstâncias. A pandemia fez com os consumidores adotassem novas atitudes e novos comportamentos e hábitos de consumo, o que, por si só, originou uma crise económica e social de proporções históricas. Segundo o novo Índice de Consumidores Futuros, publicado pela Ernst & Young, 42% dos consumidores inquiridos acredita que a pandemia da COVID-19 alterará fundamentalmente os seus hábitos de compra — o estudo resulta de um inquérito a consumidores dos EUA, Canadá, França e Alemanha, durante o início de abril.
A Ernst & Young identificou quatro novos perfis de consumidor formados durante a pandemia: o perfil “Save and stockpile” [“Poupar e armazenar”] corresponde a 35% dos consumidores e dele fazem parte aqueles que estão mais pessimistas e orientados para a família; 27% dos consumidores fazem parte do perfil “Cut deep” [“Cortes profundos”] e gastam menos em todas as áreas de consumo, à medida que são demitidos ou dispensados do trabalho; o perfil “Stay calm, carry on” [“Mantenham-se calmos e prossigam”] corresponde a 26% dos consumidores e dele fazem parte os que mantêm a sua vida praticamente inalterada pela pandemia; e apenas 11% das pessoas abrange a categoria “Hibernate and spend” [“Hibernar e gastar”], tendo feito mais gastos durante a crise.
Se as empresas já estavam a tentar acompanhar as mudanças nos comportamentos do consumidor antes da pandemia, fazê-lo agora é ainda mais crítico para que antecipem como os consumidores irão responder às novas necessidades.
Estas são as tendências de consumo que se têm vindo a destacar desde o início da pandemia da COVID-19.
O comércio online vai prevalecer
As restrições impostas pelos Governos em prol da saúde pública fizeram com que os consumidores tivessem de encontrar novas formas de consumir cumprindo os requisitos de distanciamento social. Muitos aderiram às compras pela internet como forma de contornar essas mesmas restrições. Por cá, os portugueses assumiram passar mais 62% do seu tempo na internet, tendo havido um crescimento de 513% ao nível das pesquisas para compras online durante o mês de março, refere um estudo da Group M, citado em abril pelo Expresso.
Foco em bens essenciais
Tendo em conta o período imprevisível em que nos encontramos e as incertezas sobre o futuro da economia, os consumidores têm-se focado mais nas suas necessidades primárias e a curto-prazo. Segundo um artigo de 2009 da McKinsey, durante uma crise, os consumidores tendem a concentrar-se em produtos e serviços a preços mais baixos, precisando de razões válidas para continuar a comprar bens mais caros. Nessa linha, durante a pandemia da COVID-19, um em cada quatro consumidores nos Estados Unidos está a gastar mais 133% em compras alimentares, enquanto que os gastos em bens de luxo têm diminuído, revela um recente estudo da Self.
Mais gastos em atividades de lazer
O surto e as medidas de distanciamento social mudaram a forma como as pessoas passam o seu tempo livre. De acordo com um estudo publicado em abril pela Accenture, referente em vários mercados mundiais, mais de metade dos inquiridos planeia continuar a consumir notícias após o surto e 55% irão priorizar mais o tempo com a família. O entretenimento, aprendizagem e bricolage também aumentaram desde o início da pandemia.
Mais poupança
Além de estarmos perante uma crise de saúde pública, estamos também à mercê do enorme impacto económico que ela terá nas nossas vidas. Assim, a poupança tem vindo a tornar-se uma das principais preocupações dos consumidores. Nos países do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido), 71% das pessoas afirmam que o seu rendimento pessoal foi ou será afetado pelo novo coronavírus. Um relatório do Boston Consulting Group reafirma esta tendência ao concluir que as pessoas nos Estados Unidos, além de estarem a antecipar mudanças nos seus hábitos de consumo, planeiam também começar a poupar mais para prevenir possíveis problemas futuros.
O triunfo das compras conscientes
Os consumidores estão mais atentos ao que compram e esforçam-se para limitar o desperdício de alimentos, optar por marcas socialmente responsáveis e adquirir opções mais sustentáveis. De acordo com a Ernst & Young, cerca de um terço dos consumidores está disposto a pagar mais por produtos locais, enquanto 25% pagará mais por marcas de confiança e 23% pagará mais por "produtos éticos". As marcas devem ter esta tendência em conta e integrá-la na sua oferta, visto que dois em cada cinco consumidores dizem que irão boicotar empresas que não agiram de forma eticamente responsável durante o surto da COVID-19.
Embora seja difícil prever totalmente o impacto que esta pandemia terá nos padrões e hábitos de consumo, as mudanças que estamos a observar agora dão uma ideia de como os consumidores estão a reagir a esta nova realidade e podem servir como uma bússola para guiar futuras tendências de consumo.
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