“Deveria resultar evidente que, face à elevadíssima dívida pública e às demais limitações que Portugal tem, uma das prioridades deveria passar por estender as moratórias de crédito para alguns setores de atividade, especialmente para os que não podem ‘stockar’ o que produzem: ninguém compra as viagens não efetuadas em 2020 nem as dormidas de hotel não verificadas, são ‘cash flows’ que se perderam”, sustentou Miguel Maya.
Falando durante a “I Conferência da Promoção Imobiliária em Portugal” – promovida ‘online’ pela Associação Portuguesa dos Promotores e Investidores Imobiliários (APPII), com coorganização da Vida Imobiliária — o líder do BCP considerou que a extensão das moratórias asseguraria “não só que as empresas continuam a ter menores necessidades de tesouraria até recuperarem os ‘cash flows’ para uma situação de normalidade (a tal nova normalidade), como uma menor necessidade de apoios públicos suportado pelo Orçamento do Estado, condição indispensável para não agravar ainda mais as contas públicas”.
É que, alertou, “se Portugal perder a notação de ‘investment grade’, haverá consequências muitíssimo negativas para todos os setores e, também, com muita relevância para o setor do investimento imobiliário”.
“Imaginem as ‘yields’ requeridas pelos investidores, os custos de financiamento, a diminuição da procura por parte dos particulares, a perda de confiança na economia portuguesa”, exemplificou.
Na opinião de Miguel Maya, apesar do forte impacto da crise decorrente da pandemia de covid-19, “há sinais encorajadores” na economia, que “começa a dar sinais de recuperação”, e são “enormes” as “oportunidades” em aberto.
“Esta crise traz consigo enormes oportunidades, decorrentes da sua origem e natureza (pandemia, o que determina, previsivelmente, uma duração limitada no tempo), mas também pelas oportunidades que decorrem de uma resposta forte ao nível dos estímulos financeiros e fiscais, o que permitirá uma forte recuperação, como apontam as previsões disponíveis”, sustentou.
Em Portugal, disse, “evidenciam-se sinais claros de retoma, mas o desempenho é muito marcado pelas características específicas do modelo de desenvolvimento económico”, com um “peso muito forte do turismo (que é setor que vai demorar mais tempo a recuperar), mas também pelos elevados rácios de endividamento do país e das empresas e pelas restrições orçamentais resultantes da anterior crise e que ainda nos condicionam”.
Tendo o setor empresarial português “fragilidades conhecidas, como reduzida capitalização e a excessiva alavancagem”, o presidente do Millennium bcp avisa que estas “vão ser exacerbadas pela presente crise”, com “implicações no nível da viabilidade de múltiplas empresas”.
“Em 2018, 30,8% das empresas apresentaram EBITDA negativo. Com os impactos decorrentes da redução do volume de negócios, imagine-se o que é que vão sofrer com esta crise”, alertou, defendendo o realismo de se admitir “que vão desaparecer muitas empresas em múltiplos setores”, até para “alocar adequadamente os escassos recursos disponíveis”.
Assegurando que “o BCP está profundamente empenhado em apoiar a economia e o investimento”, salientou, contudo, que “apoiar tudo e todos sem critério e rigor” seria “absolutamente desastroso”.
“Somos um banco sistémico e o nosso ativo é o crédito à economia. Se a economia estiver mal nós estaremos mal, seguramente. Mas é um imperativo estarmos saudáveis para poder ajudar. Voluntarismos, apoiar tudo e todos sem critério e rigor são absolutamente desastrosos e rapidamente seríamos contaminados, adoecíamos e deixávamos de servir a economia”, afirmou.
Neste contexto, disse a “prioridade” do banco “passou do crescimento para o reforço do balanço logo no final do primeiro trimestre”, sendo que, quer em termos de solvabilidade, quer em termos de liquidez, o BCP está “bem preparado” e em condições para “apoiar a economia” portuguesa.
“Dispomos de rácios quer de capital, quer de liquidez, muito superiores aos requisitos de capital regulamentar. Temos ativos disponíveis para nos financiarmos junto do BCE [Banco Central Europeu] superiores a 21 mil milhões de euros”, destacou.
A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 889.498 mortos e infetou mais de 27,1 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.843 pessoas das 60.507 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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