Ao longo das últimas três décadas, a nação do IKEA e dos ABBA testemunhou um crescimento exponencial na sua população de bilionários. E, por crescimento exponencial, entenda-se um aumento de mais de 18 vezes no número de bilionários na Suécia nesse período. Os números:
- Em 1996, eram apenas 28 os indivíduos que detinham um património líquido superior a mil milhões de coroas suecas, a maioria herdeiros de riquezas geracionais. Em 2021, esse número disparou para 542, com a sua riqueza combinada a representar uns expressivos 70% do PIB do país.
- Desses 542, pelo menos 40 estão na lista dos bilionários de 2024 da Forbes. A título de exemplo, isto equivale a cerca de quatro por milhão de pessoas, em comparação com cerca de dois por milhão nos EUA (que têm 813 bilionários, mas onde vivem mais de 342 milhões de pessoas, que contrastam bastante com os 10 milhões que vivem na Suécia).
Estocolmo: Um contraste de estilos
As contas são apresentadas pela BBC, que enumera e aprofunda os motivos que fazem da Suécia o ponto de encontro atual dos super-ricos da Europa. (Acumulação de riqueza que traz um preço, segundo Andreas Cervenka, jornalista do diário Aftonbladet e autor do livro "Greedy Sweden", pois, pela calada, criou um inesperado contraste entre os estilos de vida luxuosos em certas áreas de Estocolmo e a pobreza persistente noutras zonas da cidade.)
O artigo também sugere que para chegarmos a este número de super-ricos muito contribuiu as taxas de juro serem baixas desde o início da década de 2010. Ou seja, isto permitiu aos suecos com poder financeiro investir fortemente em duas coisas:
- em imóveis - que hoje em dia valem muito mais e aumentam o seu património líquido;
- em startups - que embora representassem um investimento de alto risco, acabaram por escalar e valorizar bastante.
E não só: apesar de os trabalhadores com rendimentos mais elevados serem tributados em mais de 50% dos seus rendimentos - uma das taxas mais elevadas da Europa -, a BBC faz notar que nos anos 2000 a Suécia acabou com os impostos sobre o património e as heranças e que os impostos sobre o dinheiro ganho com ações e pagamentos a acionistas de empresas são muito inferiores aos impostos sobre os salários.
A taxa do imposto sobre as sociedades também desceu de cerca de 30% nos anos 90 para cerca de 20%, ou seja, ligeiramente inferior à média europeia.
O boom tecnológico
Não obstante a todos estes fatores, um dos catalisadores para esta explosão de riqueza e do número de super-ricos é o setor tecnológico, ou não tivessem nascido ali mais de 40 unicórnios nas últimas duas décadas. Spotify, Klarna ou Northvolt são alguns dos nomes mais proeminentes da diáspora recente e que nos chegam com mais frequência, mas há outras startups a dar cartas e de vários quadrantes.
- Outros exemplos: durante a pandemia, a Visa comprou a fintech Tink por cerca de 2 mil milhões de dólares. A Kry é um dos maiores prestadores de cuidados de saúde digitais da Europa. Já Einride concebe e desenvolve veículos de transporte de mercadorias eléctricos e autónomos e conta na sua carteira de clientes a Maersk ou a Heineken.
- De acordo com o EU-Startups.com, que cita dados da Dealroom, em 2023 as startups suecas levantaram uns impressionantes 4,7 mil milhões de euros de investimento.
- Mais impressionante: 75% desse investimento foi para startups de impacto, catapultando a Suécia para a vanguarda da revolução empresarial europeia orientada para o impacto.
Reenvestir no impacto
O ecossistema sueco também prima por outra peculiaridade: a mentalidade de alguns dos principais intervenientes. É que os empreendedores e os investidores estão a reinvestir cada vez mais o seu dinheiro nas chamadas startups de "impacto", que têm como objetivo melhorar a sociedade ou o ambiente.
Um caso conhecido é o de Niklas Adalberth (co-fundador da Klarna). Em 2016, decidiu pegar nos 130 milhões de dólares da sua fortuna pessoal e criar a Fundação Norrsken, uma organização sem fins lucrativos que junta empresários e VCs que queiram investir em negócios que deem resposta aos desafios sociais como a pobreza, a saúde mental e as alterações climáticas.
À BBC, Adalberth explicou que o fez porque não tinha os hábitos normalmente associados a um bilionário e que não era do tipo de ter um "iate ou um jato privado". Para ele, a "receita para a felicidade" inclui no tempero uma pitada de impacto social.
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