O pior do Parque das Nações é a porcaria nas ruas, e não é uma porcaria relativa, é escandalosa e, diria, quase que inesperada, já que em 13 anos que aqui vivo nunca tivemos as ruas no estado lastimoso em que estão neste momento. Sacos de papel a voar, pedaços de embalagens de comida, dejectos caninos de dimensões variadas (o que prova que não basta ter sacos disponíveis, seriam necessário sessões de civismo para os moradores que não praticam o civismo básico), beatas em quantidade aberrante, garrafas de vidro (dizem que são das praxes universitárias, não sei se são) e, pasme-se!, jornais e outros papéis.
Conheço bem o projecto deste recinto em que se tornou o Parque das Nações. Em 1988, fiz a pesquisa que deu origem ao primeiro documento-proposta para a Expo’98. Fiz outros trabalhos, mais tarde, para a Parque Expo, para pavilhões no recinto, incluindo o Pavilhão de Portugal (cujo estado atual não me cansa de entristecer), além de livros. Passaram-se trinta anos.
Antes de a Expo’98 abrir, pessoas como António Mega Ferreira, Manuel Salgado (arquitecto responsável pelo recinto) ou Henrique Cayatte (designer responsável pelo sistema de comunicação, sinalética, ainda em vigor no recinto) apostavam que a qualidade da cidade imaginada iria espalhar-se, iria contaminar o resto da zona oriental de Lisboa e, quem sabe?, todo o resto do tecido urbano.
A palavra-chave aqui é: qualidade. De acessos, de passeios, de sinalética, de urbanismo, de modernidade, etc, etc. Tal não aconteceu, basta irmos ali a Moscavide, a vizinha pobre do Parque das Nações, mas durante muitos anos, mesmo muitos anos, a limpeza era um ponto de honra e não chocava quem cá chegava para visitar o Oceanário, os jardins, o Altice Arena ou outro equipamento e tão pouco entristecia quem cá mora. Agora, no ano de um aniversário redondo, estamos assim: felizes mas com lixo. A qualidade de um espaço é minada se a porcaria for em excesso. Parece que os responsáveis não o vêem, os moradores contribuem para a lixeira e a junta de freguesia não responde a emails com queixas desta natureza. Conclusão? Uma tristeza.
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