Em Portugal, o ensino básico e secundário continua a seguir um modelo curricular demasiado fixo que pouca oportunidade dá aos alunos e às alunas que saem da “norma”. Temos, sobretudo, um ensino teórico que valoriza, acima dos outros, o saber fazer economicamente utilitário.
Mais do que promover a diversidade, o ensino tenta formatar as pessoas. Quem não se encaixar, pouco espaço para o sucesso terá. Desperdiçamos assim a oportunidade de que nos falou Nelson Mandela.
Os sucessivos ministérios da educação têm falhado em trazer a mudança educativa necessária. Legislatura após legislatura, nada muda significativamente.
Aos currículos e à gestão escolar continua a faltar humanismo. Faltam direitos humanos, intrínsecos a tudo. Falta ensinar a pensar, a relacionar e a compreender a História e a Geografia dos espaços, das nações. Faltam as artes, o desporto, o pensamento social e político centrado no bem comum: nos direitos humanos.
Falta a centralidade da pessoa humana e do mundo que ela habita. Falta ensinar as pessoas a trabalhar bem em equipa. Tão importante esta competência para a saúde organizacional e eficácia das nossas instituições e empresas. O sistema ensina o contrário: valoriza mais a competição e o individualismo.
Não há tempo – justificamo-nos. Os programas são muito extensos, as turmas muito grandes. O que é possível de acrescentar engaveta-se nas atividades extracurriculares, com docentes a recibo, precários, ao fim da tarde.
Não há tempo para a diversidade, não há orçamento. Têm sido os argumentos economicistas os que justificam a não mudança.
Um governo, hoje, pode poupar, estrangulando a educação. No entanto, gastará mais no futuro, em despesas do sistema de segurança social, em encargos de pouco desenvolvimento e em atraso de uma sociedade sem diversidade e capacitação, no limite até em orçamento para reinserção social. É esse o défice que devemos contabilizar.
Um uso responsável dos nossos bens e dos nossos impostos é um dever, mas essa responsabilidade implica também boas escolhas e alocação de meios ao que é mais importante.
O caminho que leva à exclusão social começa bem cedo. Por isso, só soluções igualmente madrugadoras poderiam resolvê-las por antecipação.
A educação é a ferramenta mais eficaz para alcançar esse objetivo e só poderá ser verdadeiramente inclusiva quando acolher e capacitar todos os seus alunos, sem importar o meio cultural, económico, social, étnico, religioso ou condição de capacidades motoras ou mentais. Só quando valorizar os direitos humanos na sua centralidade e capacitar as pessoas a viver por eles e a defendê-los como direitos e deveres de todas as sociedades e governos.
Precisamos de uma educação de pessoas, para pessoas. Precisamos de devolver a pedagogia aos professores. A que lhes foi retirada quando os inundaram em burocracias e desrespeito, e lhes encheram a sala de aula com turmas de três dezenas de alunos. Precisamos de lhes dar tempo para ensinar.
Precisamos de uma educação com mediadores socioculturais que integrem humanamente todos os alunos e as alunas, construindo pontes onde eles se encontrem, apesar das suas diferenças – é isso que fará de nós uma sociedade avançada e respeitosa dos direitos humanos.
Disse Malala Yousafzai que se juntarmos uma criança, um professor, um livro e uma caneta, podemos mudar o mundo. Creio que se lhe juntarmos ainda os pais, mediadores, políticos e políticas públicas, bem como toda a comunidade, o tanto que o mundo avançaria e, a par com isso, o quanto pouparíamos.
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