Há um ano, o BCE tinha imposto o dia 10 de Abril como data-limite para o BPI diminuir a sua exposição a Angola, por causa da posição maioritária que tinha naquele país no BFA, o maior banco angolano, em parceria com Isabel dos Santos. E logo se percebeu que a empresária angolana, com 20% do BPI, e o Caixabank, com 44%, tinham aqui a oportunidade para separar águas que, na verdade, sempre estiveram turvas. Era um casamento de interesse destinado a acabar em divórcio. Foi quase litigioso, e assinado no último dia possível.

Do acordo, não se sabe por exemplo o preço que o Caixabank vai pagar a Isabel dos Santos para comprar os 20% do capital, e esta informação é crítica para todos os outros acionistas. Porquê? Porque os catalães vão ter de oferecer o mesmo preço a todos os outros acionistas. Já se sabe uma coisa: é que Isabel dos Santos é talvez a única acionista nos últimos cinco anos em Portugal a ganhar dinheiro com o investimento na banca. Por outro lado, a empresária vai comprar o domínio do BFA, hoje nas mãos do próprio BPI.

Sabe-se que o BPI vai deixar de ter a operação em Angola – a maior fonte de lucros do banco desde há muito anos – e passará a ser um banco catalão. O BPI tem um balanço limpo, não entrou na estratégia de concessão de crédito aos amigos, mas tem uma operação cara e pouco eficiente, só disfarçada com os ganhos que apresentou nas aplicações financeiras. Ao passar a ser catalão – é inevitável, a prazo, a transformação do BPI em Caixabank BPI - vai beneficiar da estrutura do banco em Espanha, e os catalães vão na verdade tentar replicar o modelo Santander, que tem grandes resultados.

Para a empresária angolana, sair do BPI não é a melhor solução, até porque as vantagens da alternativa BCP são ainda difíceis de avaliar, mas uma coisa já conseguiu: ganhar dinheiro com a venda, o que não é pouco. Isabel dos Santos vai trazer o BFA para a bolsa de Lisboa, e em Portugal já tem o BIC. A prazo, antecipa-se a fusão dos dois bancos.

Resolvido o BPI – com um envolvimento do primeiro-ministro António Costa que ultrapassou os limites do que deve ser uma intervenção política que poderia ter corrido mal -, o futuro do Novo Banco e do BCP tem outros horizontes. O Novo Banco tem de ser vendido, o BCP tem de encontrar novos acionistas, às tantas ainda acabam casados. Sobra a Caixa Geral de Depósitos, que vai ter de receber um financiamento de cerca de dois mil milhões de euros para cumprir as suas obrigações e equilibrar os rácios de capital.

AS ESCOLHAS

Saiu um, entrou outro, saiu um ministro-poeta, entrou outro ministro-poeta. A cultura vai ser tutelada pelo embaixador Luís Filipe Castro Mendes. João Soares não foi um problema para António Costa, foi uma oportunidade, um seguro para problemas futuros mais graves e mais difíceis de ultrapassar.

E António Costa assinou um contrato com o seu emissário especial para os negócios, Diogo Lacerda Machado. O anuncio, na entrevista à TSF e DN, foi feito a contragosto, como se a transparência e a responsabilização fossem um custo. Não são; são uma obrigação de qualquer primeiro-ministro.

Boa semana a todos