Talvez seja também isso que nos ajuda a suportar a ausência porque, além das boas palavras que os escritores e poetas nos ensinam, ficamos com a evidência que morrer é mesmo apenas não ser visto, desde que as pessoas continuem em nós, nas nossas memórias, nas nossas vidas. Lá vem o dia em que nada disto consola, em que faz falta o riso, a ironia, o café, mas depois voltamos a falar de tudo o que recordamos, falamos de nós e de quem nos deixou, e essa pessoa continua cá.
Durante a maior parte dos últimos 25 anos, eu conheci o Pedro Rolo Duarte ao longe. Porque, apesar de ser pouco mais velho do que eu, começou muito cedo, e ainda andava eu pelo liceu, já ele fazia coisas que nos ajudavam a ler o mundo. Ainda eu não sonhava ser jornalista, e já ele fazia parte da geração Indy que ao fundar “O Independente” fez bem mais do que lançar um jornal. E assim continuou, e eu continuei a lê-lo, na K, na DNA, no blog dele. O Pedro era da rádio, da tv e foi jornais e revistas, era daqueles abençoados com a virtude de ser completo no exercício do jornalismo, mas eu sempre o li mais que qualquer outra coisa e é assim que me lembro dele.
Calhou um dia conversarmos sobre escrita nesse espaço da Internet e desde a primeira troca de e-mails ficou claro que ia ser fácil. Era fácil entendermo-nos, era fácil trabalhar com o Pedro. Seguiram-se mais de dois anos dessa gentileza inteligente que não se confunde com outra coisa qualquer porque era própria dele, uma espécie de propriedade absoluta.
Não vou falar do tremendo equívoco que o desaparecimento dele causou em todos nós no SAPO24. Há uma espécie de respeito pela intimidade que se cria entre uma equipa que impede que possamos explicar a incredulidade deste dia de hoje.
Mas sei que vou falar dos emails de quarta-feira à noite. Do “aí vai a crónica do PRD”. Da voz inconfundível com que nunca recusava uma ideia, fosse daquelas que acontecem ou daquelas que falamos durante tempos à espera de as fazer acontecer.
É essa voz inconfundível e essa gentileza única que está aqui, neste momento que lembramos, de uma ideia à espera de acontecer. Com o Pedro no meio que será sempre o dele. O dos livros, das artes, das ideias, das emoções, das pessoas.
Sei que nos vamos lembrar e que na nossa história, na história do SAPO24, ele estará sempre lá.
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