Liberdade é também essa verdade de viver a sexualidade em pleno e gostar deste ou de outro sexo ou ser fluído ou não binário. O moralismo sobre estas questões tem o condão de me pasmar. Que se interrompam lançamentos de livros infantis – tiro o chapéu à Mariana Jones e ao seu livro “O Pedro gosta do Afonso” – advogando que se “promove homossexualismo” é tão aviltante quanto estúpido. Há muitas pessoas estúpidas no mundo.
Circula nas redes sociais um vídeo que mostra crianças que são amigas e são diferentes: etnias, sexo, religião, condição física. A pergunta feita no vídeo é: O que vos distingue? A minha resposta preferida é a de duas meninas, estando uma delas numa cadeira de rodas. O que as distingue é que uma gosta de uma coisa que a outra não gosta. Não há, nas respostas das crianças, qualquer menção à etnia, religião, sexo, condição física. Existe apenas o amor de uma amizade, a felicidade de terem um amigo ou amiga. As crianças têm essa capacidade de serem puras.
Quando é que os adultos deixaram de ter a mesma capacidade? Quando é que os adultos param para pensar que o mundo é belo nas suas diferenças? Uma das consequências da covid-19 parece ser: ou estás comigo ou contra mim. Não ficámos melhores. Os movimentos extremistas promovem o medo e o individualismo, não promovem liberdade e debate. Se não comunicarmos, ficamos isolados. E, sem razão, estamos a invadir lançamentos de livros por abordarem o universo gay. Que sempre existiu.
Precisamos muito de que as crianças possam ler sobre a comunidade e realidade gay. E sobre pais divorciados. E sobre etnias diferentes. E religiões. E condições físicas. E sobre refugiados e imigrantes. Caramba, vamos simplificar: precisamos que as crianças não vivam na bolha moralista de alguns, afastadas das ideias dos outros. A liberdade, no século XXI, não deveria significar ter acesso a informação sem julgamento?
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