As primeiras fotografias de um ano são como as primeiras fotografias de um bebé. Na melhor das hipóteses, são iguais todos os outros. Na pior, são mais feios. E 2023 está com uma carantonha roxa que não vos digo nada. Annus horribilis é body shaming, mas talvez possamos dizer que 2023 se está a montar para ser - politicamente - um ano não tão bonito. A fealdade será provavelmente genética: 2023 é capaz de ser da família de 2011, 2009 ou 2001. Descenderá provavelmente de outros anos mal-apessoados, pelo que seria útil que este ano fizesse um daqueles testes de ADN para aferir a ancestralidade em que se envia cuspo por correio, um 2023 and me.
Ainda nem duas semanas passaram desta volta ao Sol e já estamos zonzos. Sim, 2023 vai ter de parar em Aveiras, porque a malta já está a enjoar no banco de trás. Quer dizer, ligo a televisão depois do almoço de domingo e penso "o palácio presidencial brasileiro está mesmo a ser invadido ou fui eu que bebi um copo a mais de Planalto?". Enfim, expliquem-me como é que, no espaço de dois anos, as duas sedes de poder de duas das maiores potências são invadidas com esta facilidade? Meus amigos, se os serviços de inteligência mais sofisticados do Mundo não conseguem impedir ataques terroristas às instituições do Estado, porque é que eu ainda tenho de tirar as botas na segurança do aeroporto? Poupem-me. Despeçam os espiões nerds e voltem a contratar os que bebericam vermute.
Em Portugal, depois do Verão Quente de 1975, temos o Inverno Quente de 2023. A única coisa fria no país é a relação entre São Bento e Belém e não pára de chover membros do governo. Entre todos os casos, tive realmente pena que a efémera secretária-de-estado da agricultura não tenha tido a oportunidade de mostrar o seu talento executivo. É que Carla Alves é claramente alguém que não se demite das suas responsabilidades, já que, no passado, dirigiu a Associação do Porco Bísaro. Dúvidas houvesse, trata-se claramente de uma pessoa que, quando o serviço público chama, diz presunto.
O governo está com uma crise de disforia, uma ressaca de ecstasy. Depois do êxtase de uma noite eleitoral que só acabou com a entrevista do "habituem-se", o PS está deprimido e a precisar de uma noite de sono na oposição. Não será já o "pântano" de Guterres, mas - no mínimo - um brejo. Um brejo causado pelo beijo de Judas que Marcelo fez questão de dar e que provocou a queda da supracitada apreciadora de fumeiro. A postura mudou radicalmente e, de um dia para o outro, Mariana Vieira da Silva, Medina e Costa começaram a admitir os problemas que o executivo vive. Se até agora o governo só parecia querer saber da possibilidade de nomear mais um boy, agora está às ordens de Marcelo, de língua de fora, rezando para que o presidente lhes volte a chamar "good boy".
Prova de que 2023 vai ser mau é o facto de António Costa ter andado a última semana a repetidamente desejar "bom ano!" aos jornalistas que o confrontavam com perguntas. É que a maioria absoluta de Costa gesta há nove meses, mas não aprecia questões - estaremos mais perto do nascimento de um novo Sócrates do que de um parto socrático. Foram demasiados "bom ano!", quando tenho a certeza que Costa não tem genuíno interesse em que a comunicação social desfrute de um grande ano. É certo que é uma manobra de diversão, mas - para quem ama as contas certas - Costa já se está a endividar em desejos. Numa semana, gastou os "bom ano!" todos até 2026. Como sabe que, em princípio, não aguenta até ao fim da legislatura, já está a despachar os "bom ano!" todos de uma vez. Irrita bastante, pois estamos no dia 10 de janeiro e já não faz sentido desejar "bom ano". Mas lá está, pensando bem, também não faz sentido estarmos em 2023 e António Costa ainda ser primeiro-ministro.
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