Fui um dos milhões de pessoas que assistiram ao mais recente capítulo da saga (palavra que odeio e que para mim remete para más histórias de fantasia, coisa que GoT não é - aliás GoT tem o condão de fazer com que pessoas que odeiem tanto fantasia medieval como parvoíce com zombies que se babam ignorem essa tendência para abraçar o universo de R. R. Martin). O episódio desta madrugada de segunda-feira de Guerra dos Tronos são oitenta e tal minutos do melhor que já vi em televisão, o grande problema é que vivemos numa época em que já estamos absolutamente fartos de coisas bem feitas.
Nos dias de hoje, temos ao dispor as grandes obras audiovisuais em segundos a troco de meros euros ou através da velha - sim, a já velha - pirataria. Há listas infindáveis de séries “obrigatórias” e filmes “imperdíveis” que já quase que visionamos estas produções com o fastio de quem tem de picar o ponto e estar a par, mais do que apreciar. A verdade é que se banalizou a qualidade na televisão. E quando isso acontece, valoriza-se menos o que temos à frente. É natural que estejamos mais preocupados em fazer rankings das melhores séries de sempre, em vez de rejubilarmos com a oportunidade de poder ver cada um desses trabalhos que desesperadamente tentamos hierarquizar. É semelhante à contemporaneidade de Messi e Ronaldo, que acaba por ser contraproducente para fazer justiça à excepcionalidade de cada um deles.
O episódio da Batalha de Winterfell seria sempre alvo de críticas. Afinal, estamos a falar do confronto que foi sendo apresentado como inevitável desde o primeiro episódio, lançado há 8 anos, tinha a troika acabado de ser chamada a Portugal. Desta feita, apontou-se o facto do episódio ser demasiado escuro (se fosse mais iluminado dir-se-ia que pecava no “realismo”) e que tudo foi resolvido “a bem”, sem grandes baixas de relevo (se houvesse uma carnificina dir-se-ia que a série só serve para nos fazer afeiçoar a personagens para depois nos chocar com a sua morte). E assim continuará a ser. Se a série terminar com pontas soltas, os autores serão acusados de não ter mãos para embrulhar este universo. Se as pontas soltas forem sendo apanhadas, os autores serão acusados de fazer uma espécie de fan fiction, no fundo, uma fábula bonita para toda a gente ir dormir descansada.
Há uma tendência para o embasbacamento se extinguir de todo. Nada dos impressiona. O brilhantismo é previsível. A mais complexa das narrativas dá-nos sono. Um hiato no estímulo permanente faz-nos desligar. Somos miúdos birrentos, exigindo mais guloseimas de barriga cheia. E bem. Só assim se garante que o futuro da televisão será prolífero em grandes obras televisivas - que nós teremos todo o gosto em desvalorizar.
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