Neto de Moura vai processar tudo o que mexe. Da minha parte, estou triste. Ainda na semana passada tinha escrito sobre a personagem e agora aparentemente vou escapar a uma merecida ação judicial. Sinto-me, como é óbvio, indubitavelmente ofendido e com insaráveis feridas no ego e na autoestima. Estou a considerar junto da minha vasta equipa de advogados a hipótese de processar Neto de Moura por não me ter processado.
Consta que Neto de Moura está “triste” com o que tem sido escrito e dito sobre ele. O que é absolutamente expectável e, aliás, saudável. Quando muita gente está a falar mal de nós porque nós efetivamente fizemos muitas asneiras é previsível que não apresentemos a felicidade de uma criança que marca em Alvalade e no Dragão na sua época de estreia (vocês sabem de quem é que eu estou a falar). Diga-se até que se Neto de Moura fosse completamente indiferente ao que se diz sobre ele seria um alarmante sinal de sociopatia. Mais um, digamos assim.
Vendo pelo lado positivo, processar toda a gente até é um sinal de que existe algum resquício de emoção naquele corpo. O problema é que tal empatia só se manifesta quando o visado é ele. Esqueçam, não é empatia. É mesmo autopiedade.
O sonho de Neto de Moura, com esta bateria de ações judiciais, é dar origem a uma espécie de Kristallnacht do espírito crítico. Um pogrom de jornalistas e humoristas que ousaram pôr em causa a idoneidade do juiz. Até agora, tenho a ideia de que os portugueses rejeitam a ideia de se condenar piadas e opiniões. Contudo, Neto de Moura, se prosseguir com a sua hubris, tornar-se-á cada vez mais um alvo fácil. Legítimo, mas fácil. Aliás, Neto de Moura está a duas semanas de se tornar numa punchline gasta. Isso magoa mais do que qualquer insulto. Ninguém quer ser a Elsa Raposo, a Maddie ou o José Carlos Pereira da magistratura.
É importante recordarmo-nos deste caso quando for alguém da nossa “equipa” a ser alvo de críticas e de escárnio. Há quase um consenso da opinião pública de que os tais acórdãos assinados por Neto de Moura são fundamentados de forma inqualificável e, por isso, quase toda a gente concorda que ele merece apreciações acintosas. Nem sempre é assim, mas com os picles podemos ser seletivos, com a liberdade de opinião, não.
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