A dúvida forte que já entrou pelo debate deste domingo é a de saber se essa coligação será de bloco central ou puxada para a esquerda. As duas hipóteses estão sobre a mesa e sempre em parceria a três que inclui os Verdes.

O homem que emerge como próximo chanceler é Olaf Scholz, 62 anos, um pragmático político social-democrata, com larga experiência: foi secretário-geral do SPD no tempo em que Gerard Schroeder foi chefe do governo (1998/2005), ministro do Trabalho entre 2007 e 2009 no primeiro governo de Merkel (coligação CDU/CSU com o SPD), depois elogiado burgomestre da pujante cidade portuária de Hamburgo, cargo que desempenhou até 2018, quando foi chamado para ministro das Finanças e vice-chanceler no atual governo federal de Angela Merkel, após ter sido eleito para a liderança do SPD, numa eleição em que se impôs a linha moderada.

Scholz é um convicto europeísta: é um político que repete que “a União Europeia é o interesse nacional mais urgente para a Alemanha”. Ele foi ao parlamento alemão defender que “a União Europeia deve ser mais política e mais coesa”.

Este ministro das Finanças agora candidato do SPD a chefe do governo ganhou a confiança de muitos alemães por, sendo guardião da ortodoxia financeira germânica, investir na solidariedade conforme a antiga tradição social-democrata alemã e aparecer dialogante e conciliador.  Juntou popularidade à fiabilidade ao ter injetado muitos milhares de milhões euros neste último ano para ajudar as pessoas na crise da pandemia.

Olaf Scholz mostrou que é um corredor de fundo na política. Soube gerir o tempo. Há um ano ninguém pensava em triunfo do SPD nas eleições gerais alemãs. No começo da última primavera os Verdes criaram surpresa ao aparecerem na frente das intenções de voto. Então o SPD ainda surgia em terceiro lugar, embora já muito perto da desgastada coligação CDU/CSU de Merkel.

A escolha do candidato CDU/CSU à sucessão de Merkel foi atribulada. O aspirante proposto pelo parceiro bávaro CSU, Markus Soder, é muito mais popular. Mas, em desafio às preferências dominantes, Merkel impôs o candidato da CDU, o muito discreto Armin Laschet. Nada lhe corre a favor.

Os Verdes também perderam ímpeto nos últimos meses e acumularam deslizes no discurso de campanha. É assim que o SPD passou para a frente.

As habitualmente certeiras sondagens alemãs colocaram neste sábado o SPD (26%) com quatro pontos de avanço sobre a CDU/CSU (22%) e nove sobre os Verdes (17%). Os Liberais e a extrema-direita AfD estão empatados no quarto lugar, com 12% e a seguir aparece Die Linke, a esquerda pós-comunista, com 7%.

Se os resultados da votação em 26 de setembro forem conforme esta sondagem, fica aberta a possibilidade de uma inédita coligação à esquerda: SPD-Verdes-Die Linke. O candidato Laschet, da CDU/CSU, apareceu no debate na noite deste domingo com um tom agressivo com o qual não parece confortável. Insistiu na pergunta a Scholz sobre se ousaria a coligação à esquerda. O candidato do SPD respondeu-lhe que é preciso esperar pelo voto dos alemães para ponderar a aritmética saída das eleições. A moderação perguntou a Laschet se aceitaria ser parceiro menor numa coligação liderada pelo SPD. O candidato da CDU/CSU respondeu que concorre “para ficar em primeiro lugar”.

Na habitual sondagem relâmpago do instituto Dimap, feita após o debate deste domingo à noite nas redes públicas ARD e ZDF, ficou confirmado o favoritismo de Scholz: para 41% dos inquiridos o candidato do SPD saiu vencedor do confronto, enquanto Laschet (CDU/CSU) ficou pelos 27% e Baerbock (Verdes) com 25%.

O debate, com hora e meia, teve discussão substantiva. Para além da política de alianças foi abordada a política fiscal, a de habitação, as respostas à pandemia, o aumento do salário mínimo e muito do relacionado com as alterações climáticas.

Uma questão sensível é a da conversão da poderosa indústria automóvel à energia não poluente. Foi notória a disponibilidade da candidata dos Verdes para soluções harmoniosas defendidas por todos.

As principais divergências em todo o debate passaram por Scholz e Laschet.

O candidato do SPD defendeu (tal como a dos Verdes) o papel do Estado no incentivo à descarbonização da economia. Laschet quer que o Estado deixe o mercado funcionar.

Também divergem sobre o aumento do salário mínimo: o candidato do SPD (tal como a dos Vedes) quer que suba para 12€ por hora. Laschet opõe-se por considerar o aumento perigoso para a economia.

Também discordam no imposto sobre fortunas, mas estiveram mais próximo do consenso nos estímulos à habitação própria.

Os debates nas televisões e rádios têm a tradição de ser determinantes para o desfecho das eleições na Alemanha. Ficaram célebres os “Duell” (duelos) entre os candidatos à chancelaria (chefia do governo) de cada um dos dois grandes partidos. Desta vez, com o crescimento dos Verdes, as candidaturas à liderança do governo são três e, assim, em vez de “Duell” está introduzido o neologismo “Triell”. No próximo domingo, a uma semana do voto, realiza-se o terceiro e último “Triell” destas eleições.

Será surpresa se o candidato SPD não for o mais votado no dia 26. Para a CDU/CSU que Merkel liderou nos últimos 16 anos, desta vez a questão não é a de saberem com quem vão governar (a dúvida costuma passar pelo SPD ou pelos Liberais), mas a de saberem se vão estar no próximo governo da Alemanha.

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