Nem há muito tempo, em 2010, a dimensão das redes sociais era outra. O Instagram tinha acabado de começar, o TikTok estava a 6 anos de surgir, o Twitter tinha apenas 4 anos e o Facebook era talvez a única rede social para muitas pessoas. Hoje a realidade é outra: crianças e jovens dos 9 aos 17 anos passam em média entre cerca de duas a quatro horas diárias na internet e 73% passa esse tempo nas redes sociais, nomeadamente nas idades dos 13 aos 17 anos. 

Atualmente sabemos que a pandemia e consequentes confinamentos vieram aumentar estes hábitos de utilização, e a própria Europol alertou, num estudo publicado em junhopara o aumento de casos de violência sexual online contra crianças. 

Conteúdos gerados pelas próprias crianças

Algo de que precisamos de ter consciência é que esta interação das crianças e jovens com as redes sociais não é passiva. Ou seja, muitas produzem conteúdos para as diversas redes sociais onde têm perfil. Por isso temos de prestar particular atenção aos conteúdos que produzem, nomeadamente os que podem ser sexualizados e distribuídos nas redes de pedófilos. A verdade é que, independentemente da sua motivação para produzir fotografias e vídeos, esses conteúdos podem ser usados e deturpados para fins de exploração sexual online contra crianças e jovens. 

De acordo com a NetClean, em 2018 90% dos agentes policias que investigaram casos de abuso sexual de crianças online referiram que era comum encontrar materiais produzidos pelas próprias crianças e jovens, e quase 60% eram materiais produzidos voluntariamente. No entanto, há que ter em conta que além dos conteúdos gerados voluntariamente, há também os que são produzidos por meios de coerção e chantagem (47,4%), ou por manipulação/grooming (49,5%).

Cada vez mais são conhecidos casos de sextortion, em que a vítima é ameaçada a produzir imagens ou vídeos contra a sua vontade. Porém, segundo o inquérito realizado este ano pela APAV e Intercampus, 90% dos inquiridos desconhece onde procurar apoio. Quando falamos de crianças e jovens vítimas de violência sexual sabemos que na sua maioria não partilham a sua história de abuso. Portanto, podemos compreender como esta é também uma realidade por desocultar. 

Prevenir os casos de exploração sexual de crianças online

A supervisão dos pais nem sempre é eficaz, uma vez que, de acordo com Bruno Castro, CEO da VisionWare, “os filhos dominam muito melhor a tecnologia do que os pais alguma vez irão dominar”, e mesmo que haja medidas de segurança como controlo parental, definições de privacidade, entre outras, a verdade é que “há 30 mil formas de o filho, que domina mais as tecnologias do que os próprios pais, conseguir contornar essas ferramentas”. Todavia, é importante ter em mente que as crianças poderão não ter noção dos riscos a que podem estar expostas. 

Quando falamos sobre violência sexual contra crianças, é de relembrar que nem todos os casos são presenciais ou requerem contacto físico. O abuso sexual de crianças e adolescentes também pode acontecer através da Internet e das aplicações. O proibicionismo poderá não ser a solução, mas conversar com as crianças sobre esta realidade, de uma forma adequada à sua idade, e conhecer melhor as aplicações que usam, poderá ser um passo necessário para contribuir para a prevenção. 

Se pretende conhecer algumas orientações, por favor consulte o texto Como proteger as crianças de abuso sexual online em tempos de isolamento”.

Se foi abusado sexualmente e precisa de apoio contacte a associação Quebrar o Silêncio através do email apoio@quebrarosilencio.pt e da Linha de Apoio 910 846 589. Os serviços de apoio são confidenciais e gratuitos.