Neste ano em que celebra os 30 anos da sua fundação, a ACREDITAR - Associação de Pais e Amigos das Crianças com Cancro concluiu e vai inaugurar a obra de ampliação da sua Casa de Lisboa.
Ano após ano, construiu-se uma obra sólida que tem dado frutos extraordinários, com muita gente a alimentar e a fazer crescer esta ideia.
Muitos familiares e muitos jovens curados mas também centenas de outros voluntários e um pequeno e muito eficiente corpo de profissionais, têm dado forma a esta ideia, com sensibilidade e eficácia.
Estas Casas são uma parte central deste projecto, dando alojamento gratuito às famílias que vivem longe dos hospitais do Porto, Coimbra ou Lisboa onde os filhos recebem tratamento oncológico.
Como as terapias são, cada vez mais, feitas sem internamento e em regime de ambulatório, é muito importante para estas famílias terem um sítio confortável para residir durante estes períodos.
Nas Casas da ACREDITAR as crianças ou os jovens doentes acompanhados da mãe ou do pai e, às vezes, dos irmãos vêem assegurada essa estabilidade em momentos particularmente difíceis.
Com um quarto, uma casa de banho privativa, cozinha comum, salas de estar e uma lavandaria partilhada, vive-se ali um ambiente confortável, que permite, de alguma forma, reorganizar a vida familiar depois das horas passadas nos hospitais entre exames e tratamentos.
A prioridade na admissão é dada aos que mais precisam e, como já se disse, não se paga nada.
Mesmo para muitos que têm antes da doença uma vida equilibrada, os longos períodos de tratamento impõem, muitas vezes, o desemprego de um dos pais, deslocações prolongadas e despesas acrescidas insuportáveis, agravando com dificuldades económicas a já grave situação que estão a viver.
Esta Casa de Lisboa foi, em 2002, a primeira das três fundadas até hoje pela ACREDITAR, à qual se seguiu a de Coimbra e, mais tarde, a do Porto.
Para Lisboa vêm quase metade das crianças diagnosticadas com cancro no Continente e também as da Madeira, as dos Açores e ainda muitas dos PALOP.
Com o passar dos anos, a capacidade dos 12 quartos tornou-se insuficiente, com permanentes situações de lista de espera a que não se conseguia dar resposta e daí a necessidade agora desta ampliação para 32.
O Covid obrigou a atrasar o arranque programado e o enorme aumento dos custos de construção que se seguiu impôs depois um importante esforço acrescido.
Mas foram dificuldades enfrentadas com a alma de sempre.
Divulgou-se activamente o projecto, mobilizando, com sensibilidade, sobriedade e eficácia, os apoios necessários.
Cumpriram-se prazos e orçamentos, com planeamento rigoroso e gestão competente das equipas.
E ultrapassaram-se os contratempos e dificuldades do percurso com todas as partes comprometidas na importância e significado da obra que faziam nascer.
Foi um grande investimento para a associação, integralmente financiado por contributos particulares.
Mas aí está agora a obra pronta!
É este empenho e a força da ideia que o motiva que tem permitido que cada vez mais gente possa ser apoiada e melhor apoiada.
E são estes 30 anos e essas muitas vidas concretas que falam por eles, que permitem continuar a desafiar, mais uma vez, a sociedade a contribuir, para que o trabalho possa continuar.
Porque, para além da construção, também a manutenção destas Casas assenta em contributos individuais de pessoas e de empresas.
É verdade que a resposta da sociedade tem sido sempre extraordinária.
Mas também é verdade que, ao longo destes anos, a história da ACREDITAR é a do compromisso cumprido de usar com transparência os meios de que dispõe para fazer as obras que são precisas e resolver os problemas que são prementes.
E, neste momento, o desafio é que, pelos próximos anos, esta nova obra possa ajudar quem precisa de ser ajudado.
Manter aberta a janela que se abriu.
Como diz o poema de Neruda do princípio deste texto, agora só é preciso que a Casa floresça.
Cabe-nos a todos ser a Primavera.
João Corrêa Nunes, Pai fundador e membro da Comissão Directiva da Acreditar
A Acreditar – Associação de Pais e de Amigos de Crianças com Cancro existe desde 1994 com o objectivo de minimizar o impacto da doença oncológica na criança, no jovem e na sua família. Presente em quatro núcleos regionais: Lisboa, Coimbra, Porto e Funchal, dá apoio em todos os ciclos da doença e desdobra-se nos planos emocional, logístico, social, jurídico entre outros. Em cada necessidade sentida, dá voz na defesa dos direitos das crianças e jovens com cancro e suas famílias. A promoção de mais investigação em oncologia pediátrica é uma das preocupações a que mais recentemente se dedica.
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