O ano começou com uma graça assustadora. Optei por rir, porque chorar já não me assiste nos dias que vivemos. Recebi um email de um tipo que quer mil e tal dólares norte-americanos para não expor a minha privacidade em todas as redes sociais e mais algumas. Diz ele que me destruirá a vida, porque tem vídeos meus a ter orgasmos enquanto vejo filmes pornográficos; diz que dará cabo da minha reputação, porque tenho emails a dizer mal de certas pessoas (eu até posso dizer mal de A ou de B, atenção, mas não sou burra ao ponto de o fazer por escrito, tenho uma amiga cujo irmão é uma espécie de hacker e sei como isso pode correr mal).
Bom, a criatura que invadiu a minha conta, todas as minhas contas, alega que tem um vírus chamado Pegasus e que é um malware tão maléfico quanto o Voldemort do Harry Potter. Eu acredito nele, mas como não tenho receios de grande monta, fico à espera para ser destruída sem qualquer dignidade. Pode ser que use avatares com a minha cara, ou com a minha voz. Pode ser que ponha na minha boca palavras que nunca imaginei e que eu, assim, aprenda alguma coisa sobre como ser outra pessoa. Diz que não posso ir à polícia (ia à polícia fazer o quê?).
Como este email estava no spam, que é o mesmo que dizer nos emails que são desviados para minha segurança, talvez o melhor seja ignorar. Ou não. Talvez seja melhor escrever esta crónica como aviso à navegação: eu não vou pagar mil e tal dólares a um chantagista qualquer. Para mais em bitcoins (se ele soubesse quão distante eu estou desse universo, era capaz de arrepiar caminho e ir ameaçar outra alma).
Enfim, a leitura deste email, para mais extenso, só me levou ao riso, confesso, porque é tão básica a ameaça, que talvez seja preciso ter telhados de vidro que eu, apesar de tudo, sinto não ter. A Inteligência Artificial irá contribuir para que muitas destas situações se tornem verdadeiros pesadelos, mas quem é que tem vontade de falar acerca disso?
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