Esta é a notícia (se todos fossem como os portugueses "esgotaríamos os recursos renováveis do planeta”) que me faltava para poder escrever exactamente o que já pensava e que é aquele comportamento tão nosso, de fazer que não sabemos como se isso afastasse o problema. No caso, não afasta. Piora. Como uma doença que nos come por dentro deixando o exterior aparentemente intacto, o planeta está a atingir o seu limite. Há anos que se fala nisto.
Lembro-me, em miúda, dos activistas da Greenpeace serem olhados de lado. Dos comentários inconsequentes sobre as suas acções (aparentemente) radicais. Uns esquisitóides. Líricos que andavam a defender o ambiente, como se a nossa pegada ecológica não fosse relevante. Como se vivêssemos no tempo das cavernas sem consciência do que fazemos. Na altura éramos meia dúzia e o impacto era quase nulo. E agora? Somos milhões. Mais do que o espaço que temos. Acumulamo-nos na vertical porque na horizontal não sobra espaço, sobrepomos estradas e viadutos e pensamos mais na rentabilização do que na protecção e manutenção. Aceito os erros do passado quando não conhecíamos as consequências dos nossos actos. Insistir no erro não é teimosia, é burrice e egoísmo. Pensar no agora ignorando o que poderá acontecer aos nossos filhos.
É nesta altura que começamos a fazer um esforço por ignorar porque no fundo, sabemos que contrariar dá trabalho, exige paciência e tem custos.
É tão mais fácil e barato poluir.
Há algo na notícia com o qual tenho muita dificuldade em concordar. Basta uma visita aos E.U.A. para percebermos que não podemos ser os piores, especialmente nas emissões de dióxido de carbono ou dependência do petróleo. Ou seremos? A estatística é assim. Lembram-se da história dos dois frangos, não lembram?…
Há, contudo, tanto a fazer para melhorarmos sob pena de morrermos todos. É isso mesmo. Gosto tanto, mas tanto, quando os vejo regozijar com o calor fora de época, satisfeitos por poderem ir à praia no final do Inverno. Pergunto-me sempre se saberão a razão pela qual tal acontece. Também acho uma certa graça quando reclamam das chuvas intensas porque “isto antigamente não era assim”.
Não era não.
As tempestades tropicais estavam nos trópicos. O calor abrasador também. Agora está em todo o lado. E vai piorar a ponto de sermos obrigados a escondermo-nos do Sol para sobrevivermos.
O aquecimento global não é uma parangona para os jornais. Existe, tem consequências e afecta o nosso dia-a-dia. Todos os dias. Se é certo que não podemos todos passar a usar um carro eléctrico ou instalar painéis solares lá em casa na verdade, aprendi recentemente, todas as nossas decisões têm impacto na economia e, por consequência, no ambiente.
Quando decido não consumir. Quando decido usar um saco de pano. Quando compro produtos locais. Quando vou a pé. Quando desligo a luz. É nas pequenas acções que todos podemos contribuir. Parece insignificante mas já viram o efeito de uma cidade às escuras? Já pensaram na diferença que faria se todos desligássemos os aparelhos electrónicos em vez de os deixar em stand by?
Eu sei que temos muito (tanto…) a dizer sobre o papel do Estado neste processo, mais ainda sobre impostos e outras medidas. No entanto, podemos adoptar a máxima norte-americana e pensar não no que pode o país fazer por nós mas no que podemos nós fazer pelo país para melhorar o nosso meio ambiente. Mr. Trump não está a dar o exemplo (alguma vez deu?…) mas nós podemos ser um bom exemplo adoptando pequenas medidas: comprar a granel e nos mercados locais; trocar as lâmpadas lá de casa e desligar (mais vezes) as luzes, retirar os carregadores das tomadas quando não estão a ser utilizados; andar mais vezes a pé; poupar água no banho ou quando lavamos os dentes; separar o lixo e reciclar; comprar menos e comprar melhor (roupa e electrodomésticos, por exemplo). Apanhar o lixo que deixamos na praia sob pena de, um dia destes, mergulharmos num mar de plástico em vez de um mar azul.
Paula Cordeiro é, entre outras actividades consideradas (mais) sérias, autora do Urbanista, um híbrido digital que é também uma aplicação para smartphones. Baseado em episódios diários, o Urbanista é um projecto para restaurar a auto-confiança perdida e denunciar o preconceito social. Na verdade, os vários preconceitos sociais (raça, género, orientação sexual e outros difíceis de catalogar), embrulhados num estilo de vida saudável, urbano e divertido.
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