6.5%: este é um número que ilustra bem o percurso de Braga na última década, ao ver a sua população crescer nesta percentagem em claro contraciclo com o resto país que perde quase 2%. Este crescimento, que é por si só um reflexo da capacidade de atração do município, é também representativo de desafios redobrados em áreas como o urbanismo, mobilidade, habitação e igualmente no desenvolvimento económico que permita continuar a fixar esta população, garantindo-lhe oportunidades de realização pessoal e profissional.

No campo do desenvolvimento económico, Braga construiu um posicionamento de cidade inovadora com grande força no domínio do digital, tirando partido do seu histórico de empresas TIC e da capacidade de formar profissionais de reconhecido valor pela Universidade do Minho. A estes fatores juntaram-se iniciativas como a Startup Braga que contribuiu para o aparecimento de cerca de 150 novas startups levando à criação de centenas de postos de trabalho e atraindo mais de 170 milhões euros em investimento para empresas da sua comunidade. Outro exemplo incontornável é o projeto colaborativo entre a Bosch e a Universidade do Minho, dedicado a soluções multimédia automóvel e ao carro do futuro, envolvendo várias centenas de investigadores e atraindo centenas de milhões de euros para esta área. Muitos outros casos se podiam juntar a estes exemplos, desde empresas de fintech, a empresas de segurança informática, passando por novos polos de empresas internacionais que identificaram Braga como um ponto para desenvolverem os seus produtos por existir aqui talento disponível de elevada qualidade.

O sucesso desta aposta exige que se continue a trabalhar neste domínio do digital, no entanto não pode ser razão para ser caminho único. Este é um momento para se avaliar o passado e projetar o futuro, o mundo mudou radicalmente nos últimos anos e, se o digital foi trabalhado com sucesso, existem também outras oportunidades para contribuírem para uma economia de exportação.

A famosa expressão de António Variações, que dizia sobre a sua música que esta estava entre Braga e Nova Iorque, também se pode nos dias hoje usar para descrever o talento que a cidade dispõe e que está a par do que melhor se encontra em qualquer cidade de referência. De forma virtual, trabalha-se hoje com equipas em diferentes pontos do globo, esta é por isso também uma boa metáfora para ilustrar que o destino dos produtos e serviços “made in Braga” não está limitado por 3h30 de carro até Lisboa, e até que no mesmo tempo se chega a cidades de negócios na Europa como Londres, Bruxelas ou Paris.

Partindo novamente do ponto de vista do talento disponível, Braga tem na Universidade do Minho e no INL - Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia - entidades de referência nos domínios da biotecnologia, ciências da vida e nanotecnologia. A ciência e inovação aí produzidas são reconhecidas, tanto pelos números de publicações, como de patentes e de investigadores – entre os diferentes centros de investigação serão mais 1000 a trabalhar estes temas. A estes junta-se a formação da Universidade do Minho em cursos como a engenharia biológica, engenharia biomédica, biologia aplicada, bioquímica, medicina, entre vários outros, que formam centenas de pessoas anualmente.

A pandemia que vivemos veio mostrar-nos a importância da biotecnologia para a saúde, mas estes domínios são também essenciais na resposta aos desafios da sustentabilidade, da descarbonização e do bem-estar. A economia do futuro passará sem dúvida por empresas com soluções para estes problemas e é já hoje que se constroem as condições para uma economia local mais diferenciadora e que tire partido das pessoas que tem para a criação de produtos com elevada incorporação de conhecimento e com aplicações globais.

A aposta em domínios de interface, tais como a biotecnologia e as ciências da vida, exige mais investimento, com a criação de infraestrutura e de massa crítica, mas também permite uma maior retenção de talento e de valor gerado, sendo mais diferenciadora para economia local e maioritariamente voltada para exportações.

No digital, o sucesso de Portugal foi resultado do esforço de vários municípios que foram essenciais para tornar o país uma referência para empresas internacionais. Na biotecnologia e ciências da vida as oportunidades são nacionais, mas também neste caso a liderança dos municípios no processo de inovação será essencial, começando com a definição de uma estratégia para esta interface entre o digital e o físico, a criação de infraestrutura que permita o desenvolvimento de novas empresas e a atração de empresas de referência, bem como capitalizar a qualidade de vida da cidade para atrair talento e experiência oriundos de ecossistemas mais maduros.

Como noutros temas que se discutem quando se fala de cidades e municípios, o ponto-chave são as pessoas. O desafio de Braga, como de outras cidades, passa por tirar partido das suas pessoas e do seu talento para construir um futuro que combine o desenvolvimento económico com qualidade de vida. O papel do município passa por liderar este processo a partir dos recursos que a cidade tem.