Para Emmanuel Macron e para a maioria do planeta, as eleições para a presidência francesa seriam favas contadas. Disso mesmo foi logo acusado pelos vários desafectos, de Moscovo a Freixo de Espada à Cinta, ao atirarem-lhe que estava a tomar uma “pose presidencial”, comemorando a vitória num restaurante de luxo em Paris.
Mas Marine Le Pen não é miúda para desistir facilmente. Ainda tem duas semanas para virar a mesa. É só fazer as contas: teve cerca de 20 por cento; a esquerda velha guarda de Mélenchon mais as esquerdas em geral cerca de 30 por cento. Se conseguir grande parte desses votos, ainda pode ganhar. Para a ajudar, o próprio Mélenchon, azedo e muito marxista-leninista, mantém o velho mantra de que a direita é toda a mesma coisa e por isso não vai ajudar Macron.
Aliás, a História, essa esquecida que dá tantas lições, aponta precedentes. Na década de 1930, na Alemanha, os comunistas recusaram-se a fazer frente comum com os republicanos para derrotar os nazis. Até 1932 tanto o KPD comunista como os nazis combateram a democrática República de Weimar. Dizia o jornal do Partido: “O fascismo dos sociais democratas não é melhor do que o de Hitler”.
Marine ainda pode ganhar se conseguir convencer uma maioria dessa esquerda órfã, que odeia Macron, o pró-capitalista, ex-funcionário do grande capital (banco Rothschild) e ex-ministro do incompetente Manuel Valls. Para isso, evidentemente, Marine precisa de mostrar aos trabalhadores que está a favor deles contra o grande capital internacional que anda a explorá-los e contra os imigrantes que lhes tiram os postos de trabalho. É o que ela anda a dizer há anos.
Dito isto, Macron foi esta quarta-feira, 26 de abril, a Amiens, onde a fábrica da Whirpool está para fechar há meses, destruindo cerca de 300 postos de trabalho. Os trabalhadores, desesperados, estão em greve. Aparentemente não há solução para o problema: a empresa multinacional vai deslocalizar o fabrico de máquinas de secar a roupa para a Polónia, onde a mão de obra é mais barata.
Hollande não conseguiu fazer nada. A greve certamente que não será a melhor forma de convencer a Whirpool a ficar. Macron ou Le Pen também não têm nenhuma solução; mas o que é preciso é conquistar aqueles votos. Mácron reuniu-se com a Intersindical na Câmara do Comércio e disse-lhes as suas habituais platitudes: “Esta situação não é aceitável...Vamos tentar que outra empresa tome conta da fábrica... Se a Whirpool se for embora sofrerá as consequências.”
Quando soube que Macron tinha ido a Amiens, Marine foi a correr para lá com as câmaras de tv atrás e encontrou-se com os grevistas no estacionamento da fábrica. “Enquanto Macron está a comer petit-fours (sic) à porta fechada com patrões e dirigentes, eu estou aqui com os trabalhadores!”. O maldito globalismo e os patrões são os culpados pelo encerramento da fábrica mas ela, Marine, é a favor dos franceses e contra o grande capital. Ela, Marine, é que vai resolver. Os trabalhadores abraçaram-na agradecidos.
Então, vai ser este o discurso de Marine Le Pen. Contra a globalização do bancário Macron, a favor do nacionalismo que dará o paraíso aos franceses. Contra os estrangeiros que roubam postos de trabalho e trazem insegurança, violência e atentados contra as famílias indefesas. Tal como as esquerdas, ela também é a favor dos mais fracos.
Vai dar resultado? Esta quarta-feira, em Amiens, foi Marine 1, Macron 0. Daqui a duas semanas saberemos o resultado do campeonato. Mas serão quinze dias de por os cabelos em pé.
Comentários