O presidente eleito deu hoje uma conferência de imprensa que, no limite, tem de nos assustar. Não há espaço para engano. Vêm aí tempos maus para os direitos humanos, para as relações entre países, para as relações interpessoais. Se o mundo estivesse a funcionar como seria suposto, alguém despediria Trump, sendo que teríamos então outro problema. O vice presidente tomaria o seu lugar e parece-me que é uma personagem igualmente aterradora com uma particularidade perigosa: não diz muito, não é repentista, não dá espectáculo como Trump, mas assina por baixo face a este projecto que é derrubar o que Barack Obama conseguiu em 8 anos de presidência.
E conseguiu muito e pode ser criticado duramente por outro tanto. Há, contudo, um aspecto absolutamente inovador e exemplar na presidência de Obama. A América ganhou uma Primeira Dama como nunca tinha tido e valorizada pelo marido, ele que reconhece que nada teria sido possível sem Michelle.
O que conseguiu esta mulher, nascida em 1964, mãe de duas crianças, advogada de profissão? Deu o exemplo.
E as mulheres talvez tenham percebido, mais uma vez, através de uma mulher sui generis, que as mulheres podem tudo, podem dançar e promover acções sociais, podem discursar e fazer parar multidões, podem vingar no mundo por terem opiniões concretas e bem fundamentadas, podem ser cultas, bem sucedidas.
Michelle é carismática. Tem um discurso forte. Não se deixou ficar quando foi atacada, e os ataques foram muitos ao longo dos anos, porque a América – e a imprensa – não são gentis. Quem opta pela vida pública sabe que a exposição significa escrutínio e Michelle sobreviveu com elegância, dizendo sistematicamente o que pensava. Muitos foram os que anteciparam uma possível campanha para indicar Michelle Obama candidata à presidência dos Estados Unidos da América. Em quatro anos. Quatro longos anos em que os democratas terão a ingrata tarefa de tentar aplacar as decisões republicanas que espelham racismo e outros males maiores da Humanidade.
Michelle Obama, em entrevista a Oprah, negou o seu projecto político e muitos terão ficado desiludidos. O que farão os Obama a seguir? Muitos dizem que são demasiado novos para esquecer o serviço público, a vida política. Seja como for, Michelle estará de mão dada com o seu marido e o que tiver de dizer não será a medo, não será censurado. Não se pode dizer de Michelle que foi apenas mais uma Primeira Dama, uma decoração familiar que compõe a presidência. Nada disso. Michelle inovou e deu outro fundamento ao papel que exerceu nos dois mandatos presidenciais do marido.
Se tivermos sorte - os americanos e todos nós - os Obama serão os porta-vozes de todos aqueles que se opõem às ideias do novo presidente. E, quem sabe?, talvez Michelle mude de ideias. Porque o mundo merece quem lute por ele.
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