Um presidente que levou "vermelho"

Marta Pedreira Mixão
Marta Pedreira Mixão

Em fevereiro de 2001, Vale e Azevedo, ex-presidente do Benfica, era suspeito de desviar dinheiro do clube. Agora, duas décadas depois, Luís Filipe Vieira foi um dos quatro detidos na quarta-feira numa investigação que envolve negócios e financiamentos superiores a 100 milhões de euros, com prejuízos para o Estado e algumas sociedades. No âmbito do processo foram também detidos Tiago Vieira, filho do presidente do Benfica, o agente de futebol Bruno Macedo e o empresário José António dos Santos, conhecido como "o rei dos frangos".

Segundo o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) estão em causa factos suscetíveis de configurar "crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento de capitais".

O empresário e sócio de Luís Filipe Vieira, José António dos Santos, foi o primeiro a ser ouvido, ainda esta manhã, pelo juiz de instrução titular do processo, Carlos Alexandre. Seguiu-se Bruno Macedo e Tiago Vieira, filho do dirigente do Benfica, que foi o último a ser ouvido hoje. Já Luís Filipe Vieira vai ser o último a falar, mas só amanhã.

Luís Filipe Vieira, o seu filho Tiago Vieira e o empresário Bruno Macedo são suspeitos de terem ocultado verbas que circulavam numa teia de empresas à administração fiscal, obtendo assim benefícios pela não-liquidação de impostos.

O Ministério Público acredita que teriam um esquema de fraude à custa dos interesses da SAD do Benfica. De acordo com documentos da investigação, desenvolveram desde 2014 um esquema para tirarem benefícios pessoais de pagamentos realizados pela Benfica SAD, relativos à compra e venda de jogadores, lesando também o Estado português.

O esquema passaria pela utilização de sociedades ‘off shore’, ou domiciliadas noutros países, controladas por Bruno Macedo, nas quais eram colocadas verbas obtidas através da simulação de negócios que envolviam a SAD. O Ministério Público refere que essas verbas, cujo valor ascende a quase 2,5 milhões de euros, foram posteriormente introduzidas em Portugal e colocadas em fundos de sociedades da esfera empresarial de Luís Filipe Vieira, diminuindo as tributações.

Através de contratos simulados terão sido justificados pagamentos realizados pela Benfica SAD, de forma beneficiar os suspeitos e as suas empresas, tendo as verbas servido para amortizar financiamentos contraídos por sociedades de Vieira, permitindo a diminuição do passivo e a libertação de garantias prestadas. As verbas circulavam através de uma complexa teia de empresas, em muitas das quais o empresário de futebol e advogado figurava como administrador.

O Ministério Público associa ainda uma alienação de 25% de ações da Benfica SAD a um estratagema para compensar o empresário José António dos Santos, conhecido como “rei dos frangos”, por este ter aplicado 44,7 milhões de euros em negócios privados de Luís Filipe Vieira. A alienação de um quarto do capital da Benfica SAD teria sido desenhada de forma a que essa participação ficasse concentrada no empresário agroalimentar, com a promessa de este ficar com as mais-valias geradas pela venda das respetivas ações acima dos preços de mercado. O empresário é suspeito de multiplicar empresas e operações financeiras para esconder negócios que seriam de facto controlados pelo dirigente do clube.

"O Benfica está primeiro", disse Luís Filipe Vieira, através de um comunicado lido esta sexta-feira pelo advogado. E terá sido por isso mesmo que anunciou a suspensão de funções de presidente do clube com efeitos imediatos.

Ora, suspendeu funções, mas não renunciou ao cargo. Antecipou, no entanto, uma possível medida de coação, que poderá inibir Luís Filipe Vieira de exercer funções no clube. Segundo o despacho de indiciação, o Ministério Público defende medidas de coação ‘pesadas’ e deverá pedir prisão preventiva para o dirigente com base no perigo de fuga e de forma a evitar a possível adulteração de provas.

Na sequência do comunicado, a direção do Benfica reuniu-se para decidir os "próximos passos" e o desfecho da reunião culminou com a emissão de uma nota que indicava que Rui Costa assumiria a presidência do clube, uma nomeação com "o apoio unânime dos membros da Direção do Sport Lisboa e Benfica", segundo o clube.

E assim foi. O ex-futebolista do clube Rui Costa assumiu a presidência do Benfica e, em declarações à imprensa, a partir do relvado do Estádio da Luz, deixou uma mensagem aos adeptos: "Sou a partir de hoje presidente do Sport Lisboa e Benfica, na exata medida dos estatutos do clube. Assumo esta liderança com o mesmo orgulho, a mesma paixão e compromisso com que vesti pela primeira vez a camisola do nosso Benfica. Decidi fazer a minha apresentação enquanto presidente no meio do relvado onde, com a nossa camisola, vivi os momentos mais felizes da minha vida".

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