O que tem de ser tem muita força

Pedro Soares Botelho
Pedro Soares Botelho

A mensagem foi enviada do iPhone de Salvador Malheiro, autarca de Ovar e, novamente, diretor de campanha de Rui Rio para as diretas do PSD: “Depois de uma reflexão aprofundada sobre a situação política do país e atendendo aos recentes resultados das últimas eleições autárquicas e da incompreensível instabilidade e divisões internas, entretanto geradas no PSD, o Presidente Rui Rio, decidiu recandidatar-se à liderança do Partido Social Democrata.”

O email chegou esta terça-feira aos jornalistas, um dia depois de, na tomada de posse de Carlos Moedas, Rui Rio fazer saber que estaria para muito breve uma decisão quanto à recandidatura à presidência do PSD: “Está quase a ser tomada na minha cabeça e a seguir comunicada. Obviamente que me preocupa muita esta situação que foi criada que é podermos ter um país em eleições antecipadas, que é mau, se o PSD estiver numa disputada — sem presidente eleito e com congresso lá para janeiro — isto é uma coisa terrível”, afirmou em declarações aos jornalistas.

Com as eleições marcadas para 4 de dezembro, para já, o antigo presidente da câmara municipal do Porto sabe que conta com a oposição de outro homem no Norte: Paulo Rangel. E foi para o eurodeputado que Salvador Malheiro apontou críticas. Em declarações à Renascença, o diretor de campanha de Rio disse que “ninguém percebeu, até à data, como é que depois de dois anos de um mandato em que todos os objetivos foram cumpridos, surgiu esta candidatura de afronto, de alguém que até há dois anos esteve na primeira linha de apoio a Rui Rio.”

Ainda ontem, numa entrevista à TVI, também após a cerimónia de tomada de posse de Carlos Moedas, em Lisboa, que teve como plateia a corte social-democrata, Rangel deixou todas as críticas ao atual presidente do PSD.

Na quinta-feira, o Conselho Nacional do PSD chumbou uma proposta da direção para que o calendário eleitoral interno fosse suspenso até se esclarecer se o Orçamento do Estado é ou não aprovado, por 71 votos contra e 40 a favor, e agendou diretas para 4 de dezembro e congresso para entre 14 e 16 de janeiro.

No email, Salvador Malheiro dizia já que “com esta sua decisão, tomada no devido tempo, de forma serena e responsável, e sem qualquer preocupação de ordem tática, Rui Rio entende, como sempre tem entendido ao longo da sua vida pública, que o interesse de Portugal tem de estar acima daquilo que possa ser a tranquilidade da sua própria vida pessoal.”

É como se Rio não se candidatasse porque quer, mas porque tem de ser, “Mas, tal como sempre, Rui Rio não é homem para desistir de lutar pelo PSD e, acima de tudo, por PORTUGAL.” [sic]

Quem já se pôs fora da corrida foi o antigo vice-presidente do PSD Jorge Moreira da Silva, que, contudo, prometeu que, “em devido tempo”, dirá qual considera “o melhor projeto” para a presidência dos sociais-democratas. Numa publicação na rede social Facebook, Moreira da Silva esclarece que aguardou pela definição do atual presidente do PSD, Rui Rio, que hoje anunciou que será recandidato ao cargo.

“Confirmada que está tal recandidatura, entendo não dever eu próprio protagonizar uma candidatura própria, pois o superior interesse do país e do PSD aponta para que os militantes possam fazer a sua opção livre entre as duas vias distintas que são apresentadas e que se encontravam em preparação no terreno há longos meses”, justificou.

O antigo ministro desejou a Rui Rio e a Paulo Rangel, os dois candidatos anunciados até agora, “as maiores felicidades no confronto elevado de ideias e projetos que vão assumir”, sublinhando que o PSD “precisa de ser capaz de, urgentemente, se constituir como alternativa séria de governo para Portugal”.

E quem não quer ter nada a ver com o assunto é o ex-líder do PSD — e agora presidente da República — Marcelo Rebelo de Sousa. Questionado sobre a recandidatura de Rui Rio à liderança do PSD, Marcelo disse que soube dessa e de outras candidaturas pela comunicação social.

Afinal, “o presidente da República não tem de saber nem sabe de iniciativas partidárias, se não através da comunicação social. Neste momento há vários partidos que estão a proceder ao debate e à escolha das suas lideranças", respondeu.

Referindo-se ao PSD e ao CDS-PP, o chefe de Estado acrescentou: "Em qualquer dos partidos eu soube da apresentação de candidaturas pela comunicação social, e é assim que deve ser. Acabei de saber uma agora, soube há dias outra, soube antes outra, sucessivamente".

"O presidente deve estar acima destas questões partidárias. É importante para a democracia que os partidos sejam fortes, mas as questões partidárias são questões internas dos partidos. Só eles podem tratar essas questões, o presidente da República não deve interferir.”

Já durante a tarde, Rui Rio avisou, na rede social Twitter, ao que vem: “Sou candidato a presidente do PSD nas eleições diretas que vão escolher o candidato do partido a primeiro-ministro de Portugal.”

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