38 dias como ministro das Finanças

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

O ministro britânico das Finanças, Kwasi Kwarteng, confirmou esta sexta-feira ter sido demitido pela primeira-ministra, Liz Truss, após apenas 38 dias no cargo.

Com isto, Kwareng é o segundo ministro a ter o mandato mais curto de sempre num executivo britânico — apenas ultrapassado por Iain Macleod, que morreu de ataque cardíaco 30 dias depois de assumir a sua pasta, em 1970.

O que aconteceu, segundo o próprio?

“Pediu-me para eu me demitir, e eu aceitei”, escreveu Kwasi Kwarteng na carta de renúncia, apesar de continuar a insistir que a economia britânica precisa de reformas para crescer.

Consciente de que a situação no país era “incrivelmente difícil” devido ao aumento das taxas de juro e preços da energia, Kwarteng diz que acreditou na “visão de otimismo crescimento e mudança” de Truss.

Apesar da demissão, Kwarteng promete apoiar Truss a partir da bancada parlamentar, sublinhando que os dois são "colegas e amigos há muitos anos".

O que levou Truss a tomar esta decisão? 

A primeira-ministra britânica invocou o “interesse nacional” e a necessidade de estabilidade económica no Reino Unido para demitir o ministro das Finanças.

“A minha prioridade é garantir a estabilidade económica que o nosso país necessita. Foi por isso que tive de tomar as decisões difíceis que tomei hoje”, explicou numa conferência de imprensa.

Truss garante que mantém a missão de "elevar os níveis de crescimento económico” do Reino Unido, mas admitiu que, "em última análise, é necessário garantir a estabilidade económica", pelo que teve de "agir no interesse nacional".

Numa declaração inicial, Truss disse ter “imensa pena” de perder o “grande amigo” Kwarteng que partilha a sua "visão de colocar" o Reino Unido "no caminho do crescimento”.

A demissão iminente de Kwarteng foi tomando forma quando o agora ex-ministro encurtou uma visita aos Estados Unidos, regressando hoje a Londres.

A decisão de Truss advém de um conjunto de medidas financeiras anunciadas por Kwarteng a 23 de setembro, que incluíam um pacote para congelar os preços da energia, mas também outras reduções de impostos — especialmente a abolição do escalão máximo de 45 por cento do imposto sobre os rendimentos dos contribuintes mais ricos.

Tais propostas tiveram um efeito altamente adverso, resultando na desvalorização da libra e aumento dos juros da dívida soberana do Reino Unido. A instabilidade no mercado obrigacionista a longo prazo levou à intervenção de emergência do Banco de Inglaterra para evitar o colapso de alguns fundos de pensões com grandes investimentos em títulos do Tesouro.

As pressões sobre Truss — primeira-ministra há pouco mais de um mês — para demitir Kwarteng foram aumentando, especialmente perante o seu próprio partido. No início do mês, a chefe de Governo admitiu numa entrevista à BBC que Kwarteng não lhe apresentou a medida antes da apresentação no parlamento, sinal de que os dois não estavam sintonizados.

A saída do ministro das Finanças surge numa fase em que as críticas à primeira-ministra britânica estão a crescer no seio da sua maioria parlamentar, onde alguns deputados conservadores já começaram a pedir a sua substituição apenas um mês após a sua chegada ao cargo.

Quem vai ficar com o cargo?

Jeremy Hunt foi confirmado como ministro das Finanças do governo britânico, sucedendo a Kwasi Kwarteng.

Segundo a primeira-ministra britânica, Hunt é "um dos ministros e parlamentares mais experientes e amplamente respeitados” e será responsável por apresentar o plano fiscal a médio prazo em 31 de outubro.

Hunt foi ministro dos Negócios Estrangeiros durante um ano no governo de Theresa May e, antes disso, foi ministro da Saúde e da Cultura no governo de David Cameron.

O deputado foi o finalista vencido à liderança em 2019, contra Boris Johnson, e foi derrotado na primeira volta na eleição deste verão, tornando-se dos mais proeminentes apoiantes de Rishi Sunak contra Liz Truss.

A nomeação de Hunt é vista por comentadores políticos como uma forma de a líder dos 'tories' apaziguar os mercados financeiros e a ala centrista do partido, origem de grande parte das críticas internas dos últimos dias à estratégia económica do executivo.

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