Três anos depois, como está a China a enfrentar a covid-19?
Passaram três anos do aparecimento dos primeiros casos do coronavírus, em Wuhan, no centro da China. Por lá, neste momento, nada mudou assim tanto: o país enfrenta uma explosão de casos.
Muitos hospitais estão sobrecarregados, as farmácias referem ter grande escassez de medicamentos para a febre, enquanto muitos crematórios adiantam estar a ter um fluxo invulgarmente alto de corpos para serem cremados.
O que justifica este aumento de casos?
Alguns cientistas temem que possa estar a ocorrer na China uma nova mutação do coronavírus, à semelhança do que sucedeu com a variante Omicron, e admitem que pode ser uma combinação de variantes ou algo completamente diferente.
“A China tem uma população muito grande e a imunidade é limitada. E isso parece ser a causa pela qual poderemos assistir a uma explosão de uma nova variante”, disse Stuart Campbell Ray, especialista em doenças infecciosas da Universidade Johns Hopkins, citado pela agência norte-americana Associated Press.
Além disso, o país de 1,4 mil milhões de habitantes abandonou a política “zero covid”. Embora as taxas reportadas de vacinação sejam elevadas, os níveis de reforço são mais baixos, especialmente entre as pessoas mais velhas.
As vacinas nacionais provaram ser menos eficazes contra infeções graves do que as versões ocidentais de RNA mensageiro. Muitas foram administradas há mais de um ano, o que significa que a imunidade diminuiu.
Com isto, o país anunciou oficialmente apenas seis mortes por covid-19 desde que as restrições foram suspensas, mas o número foi considerado bastante aquém da realidade por muitos especialistas, já que grande parte dos idosos na China não foram vacinados contra a doença.
O que diz o governo chinês?
O presidente chinês, Xi Jinping, defendeu que têm de ser adotadas medidas para “proteger efetivamente a vida das pessoas”, já que o país está a enfrentar um grande surto de infeções.
As declarações, avançadas pela televisão estatal chinesa, constituem os primeiros comentários públicos do líder chinês desde o súbito abandono, no início de dezembro, das rígidas medidas anti-covid que estavam em vigor desde 2020.
“A China enfrenta uma nova situação, novos desafios em termos de prevenção e controlo da covid-19”, disse Xi Jinping, citado pela televisão estatal CCTV.
“Temos de realizar uma campanha de saúde patriótica mais direcionada […] e construir uma muralha sólida contra a epidemia”, acrescentou, sem avançar a que medidas específicas se referia.
O que vai mudar nos próximos tempos?
A China vai acabar com a obrigatoriedade de quarentena para viajantes oriundos do exterior a partir de 8 de janeiro. Assim, a partir do próximo mês, será apenas exigido um teste negativo com menos de 48 horas para entrar no território chinês, com os passageiros a não precisarem de solicitar um código verde de saúde antes da sua viagem ao país.
De acordo com as autoridades sanitárias chinesas, e num novo passo no desmantelamento da política de “covid zero”, a covid-19 deixará ser considerada uma doença de categoria A, o nível máximo de perigo e cuja contenção implica as medidas mais severas, para ser catalogada como categoria B, que implica um controlo menos exigente.
Desta forma, a Comissão de Saúde informou que já não considera a covid-19 como uma “pneumonia”, mas como uma doença “contagiosa” menos perigosa.
Em junho, a China tinha já reduzido em metade a duração da quarentena obrigatória para os viajantes que se deslocassem ao país. Na altura, foi reduzida de 21 para 10 dias. De recordar que as fronteiras do país permanecem, no entanto, quase totalmente encerradas desde o início de 2020.
Vêm aí novas pandemias?
O especialista em saúde pública Francisco George alertou para o risco de novas epidemias e defendeu a necessidade de “resposta enérgicas”, que requerem dos países sistemas de alerta para detetar o problema e controlá-lo.
“A partir do ano 2000, assistimos a uma série de acontecimentos que traduzem a emergência inesperada de fenómenos epidémicos de natureza zoonótica” — doenças que têm origem em agentes infecciosos que têm como reservatório animais — que têm abalado “diferentes países”.
Tudo indica que na origem da covid-19 esteve o pangolim, um mamífero com o corpo coberto de escamas, que é também utilizado como fonte de alimento.
“As epidemias não vão parar, vão acontecer e, por isso, é de toda a importância chamar a atenção para os governos prepararem mecanismos de monitorização, mecanismos de vigilância a fim de serem detetados os primeiros casos e serem imediatamente combatidos”, avisou.
*Com Lusa
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