Se D. Quixote de La Mancha via moinhos de vento como gigantes, o mesmo podemos hoje dizer das turbinas eólicas. São gigantes que transformam o vento em energia renovável e que, por isso, precisam de uma manutenção cuidada.
Mas esta é uma manutenção perigosa. Podemos tentar ver inspetores presos por uma corda, a fazer uma espécie de rapel pelas pás das turbinas. E não vai ser apenas fruto da imaginação — era a realidade até se pensar numa alternativa mais segura.
André Moura é o fundador da Pro-Drone, uma startup portuguesa que desenvolveu uma solução para a inspeção de pás de turbinas eólicas. “Desenvolvemos um sistema que acopulamos a praticamente qualquer drone e que permite fazer as inspeções de uma forma segura, robusta e de alta qualidade e, por outro lado, temos uma plataforma web chamada Blade Insight onde compilamos todos os dados de forma a extrair o máximo de valor deles e permitir aos nossos clientes que tomem decisões acertadas e corretas a respeito dos seus ativos”, começa por explicar.
“Tradicionalmente as pás são inspecionadas através de acesso por corda com um ou dois inspetores que fazem rapel por uma pá abaixo à procura de defeitos ou através de fotografias a partir do solo. A utilização de inspetores é um procedimento lento, caro e com riscos óbvios. As fotografias tiradas a partir do chão, embora não tenham qualquer risco, são muito baixas em qualidade, o que significa que muitos danos podem não ser encontrados”.
E foi nestas imperfeições que a Pro-Drone encontrou espaço para melhorar. “Um dos nossos factores diferenciadores é a qualidade dos dados que recolhemos. Tiramos fotografias das quatro faces da pá com uma resolução de 0,4 milímetros por pixel: isto quer dizer que conseguimos encontrar moscas e contar as patas das moscas em cima de uma pá. Isso significa que conseguimos encontrar as rachas mais pequenas que se podem encontrar numa pá, e que normalmente significam o início de um problema”, diz André.
Contudo, olhar para as fotografias de uma pá de turbina eólica pode ser tão ou mais difícil do que subir até uma. São muitas fotografias e todas vão parecer iguais. É aí que entra a plataforma Blade Insight. “Quando se recolhem muitos dados com um drone uma das grandes dificuldades que se tem é perceber onde é que a fotografia foi tirada, pertence a que pá, em que turbina, em que zona da pá é que eu estou. No caso de uma pá é particularmente importante termos a capacidade de escala, portanto, sabermos o tamanho do defeito para o qual estamos a olhar”.
Assim, nesta plataforma consegue-se “fazer uma junção dos dados de voo com as fotografias, passando a saber exatamente onde é que cada fotografia foi tirada, em que parque, em que turbina, em que pá, em que face dessa pá, o que permite termos uma geolocalização de cada uma delas. Ao mesmo tempo gravamos também a distância à pá em cada fotografia. Sabendo as óticas da imagem permite-nos medir os defeitos, tornando toda a análise mais poderosa e fiável”, avança.
Qualquer drone apto a voar perto das turbinas pode ser utilizado para estas inspeções, após a instalação dos dispositivos da Pro-Drone. O processo é semi-autónomo, pelo que não depende de um piloto especializado. Mas, assegura André Moura, “não há risco de colisão com as pás”. O que torna esta tarefa mais segura.
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