As redes sociais deixaram de ser apenas um espaço onde socializamos. Passaram a ser também um local onde se criam comunidades de gostos partilhados, pequenas tribos de internautas que procuram conteúdo do seu interesse. Não é por acaso que as big tech que detêm estas redes têm cada vez mais ferramentas para perceber aquilo de que gostamos para, posteriormente, nos recomendarem novas formas de passarmos tempo nas suas plataformas.

Passar mais tempo numa plataforma significa ganho potencial para os seus donos. Daí a oferta constante de vídeos engraçados, anúncios de marcas que nos tentam vender coisas sobre as quais pesquisámos anteriormente, ou criadores de conteúdo que nos ensinam a fazer aquele passo de dança que queríamos mesmo aprender. Olhemos com mais atenção para este último grupo, o dos criadores de conteúdo que preenche o feed das redes sociais. Quem o faz pode passar horas a preparar um produto que vai ser consumido por nós, na maior parte das vezes a custo zero. Investem tempo, dinheiro em material necessário e esforço, e, muitas vezes, fazem-no em paralelo com outros trabalhos que são a sua primeira fonte de rendimento.

A Influencer Marketing Factory conduziu um estudo com 500 utilizadores de redes sociais e 500 criadores de conteúdo dos Estados Unidos para melhor compreender esta indústria, que resultou neste relatório. Dos 500 criadores entrevistados, 85% afirmaram que este é o seu trabalho a full time. No entanto, sabe-se também que este é um universo de cerca de 50 milhões de pessoas, sendo que apenas 2 milhões são profissionais.

Este é um negócio que, juntamente com o do “influencing”, vale cerca de 18 mil milhões de dólares e, juntamente com as “pequenas empresas” que surgem daí (pequenas lojas online, profissionais que fazem da sua conta uma montra de marcas, etc.), chega aos 104 mil milhões de dólares.

Do lado dos criadores:

  • A maioria (31%) conta que a sua maior fonte de receita provém de acordos com marcas, 25% do seu próprio negócio e apenas 5% de subscrições de utilizadores.

  • A rede social favorita dos criadores é o TikTok (30%), principalmente para aqueles entre os 18 e os 24 anos, seguida do YouTube e do Instagram (22%). O Facebook ocupa a quarta posição (14%). O Twitter está em último nesta tabela.

  • A rede social mais lucrativa é, novamente, o TikTok (24%).

Deste modo, podemos tirar duas conclusões que não surpreendem:

1) O dinheiro segue as plataformas onde há um número crescente de utilizadores.

2) E os criadores tiram proveito disso.

  • Em 2020 e no primeiro trimestre de 2021, o Tik Tok foi a app mais descarregada em todo o mundo, ultrapassando o Facebook. Neste momento tem cerca de mil milhões de utilizadores mensais.

  • Por detrás de tudo isto está um algoritmo, que foi considerado pelo MIT Technology Review umas das tecnologias mais disruptivas de 2021.

No entanto:

  • Mais de 15% dos criadores esclarece que não desempenha essas funções a tempo inteiro.

  • Quase 28% refere que se começou a dedicar a esta atividade há menos de um ano.

  • São precisos pelo menos 3 anos para se começar a viver da criação de conteúdos.

Do lado dos utilizadores:

  • 63% afirma já ter contribuído, ocasionalmente, com uma tip, em português gorjeta, para um criador de conteúdo.

  • A plataforma onde este fenómeno mais se observa é no YouTube.

  • A transmissão de música, os podcasts e a compra de merchandise são os principais motivos na hora de escolher que criadores apoiar.

  • 58% estaria disponível para pagar subscrever mensais de conteúdo exclusivo.

Fun fact: Não há uma relação direta entre número de seguidores e o lucro obtido pelo criador de conteúdo. As audiências têm um valor de mercado, mas um criador de conteúdo num mercado de nicho com bom poder de compra pode conseguir rentabilizar melhor as suas redes sociais do que um jogador de futebol adorado por milhões no mundo inteiro.

Do lado das redes sociais

Têm criado cada vez mais ferramentas para promover esta “interação” entre criadores e utilizadores. Por exemplo, o TikTok tem a opção de dar “presentes” aos criadores e o Twitter começou há pouco tempo a utilizar o “pote de gorjetas”.

Maior interação nas suas plataformas significa mais tempo que utilizadores passam nas mesmas, tornando-as mais atrativas para anunciantes que querem promover os seus serviços, quando não estão a oferecer giveaways com influencers.

  • Recomendação: O documentário da Netflix “The Social Dilemma” fala sobre este triângulo relacional entre a criação, o criador e o consumidor : “If you’re not paying for the product, then you are the product.”