Em fevereiro, quando estreou nas salas portuguesas "Tár" (2022), filme de Todd Field que colocou Cate Blanchett no papel de uma reputada maestrina de uma grande orquestra alemã, entre muitas outras questões que o drama ficcional levanta, o espectador dificilmente consegue chegar ao fim sem se questionar: qual é a sensação de estar no meio de uma orquestra? Qual é o sentimento que nos invade quando fazemos parte de um universo tão restrito de músicos incrivelmente talentosos que vivem através de pedaços de música que desafiam o tempo?
Esquecendo a parte inevitável do talento e da paixão pela música, para fazer parte de uma orquestra é preciso muito trabalho, muitas horas de dedicação, treino e repetição — e nervos de aço. Ora, acontece que "Symphony" emula todas estas nuances e dá às pessoas uma experiência parecida. Ou seja, transporta o espectador diretamente para o coração de uma orquestra, e durante aproximadamente 30 minutos, é convidado a vestir a pele de um dos músicos.
Para que tal seja possível, existem duas unidades móveis que se transformam em duas salas, ambas com 100 metros quadrados.
- Numa primeira sala, haverá a projeção de um filme num grande ecrã, que embarca o espectador numa viagem e o guia pelo mundo apenas com base nos sons. A missão, aqui, é uma: passar a mensagem que a música é universal.
- De seguida, é feita a transição para uma segunda sala, destinada a uma experiência imersiva com equipamento e óculos de realidade virtual (uns HP Reverb G2 com a resolução 2160 x 2160 por olho), que senta o espectador no Gran Teatro del Liceo, em Barcelona, sem este sair do lugar, no Porto.
Sob a batuta do maestro venezuelano Gustavo Dudamel, que conduz mais de uma centena de músicos que integram a Mahler Chamber Orchestra e a Fundação Gustavo Dudamel, a ideia é que espectador parta rumo a uma viagem emocional pelas composições de Ludwig van Beethoven, Gustav Mahler e Leonard Bernstein que "navega" pelo interior dos instrumentos e faz "sentir" a vibração das cordas dos violinos.
"Symphony" é um projeto inovador que mistura a tecnologia de ponta e a criatividade visual e musical. Para o conceito visual, a Realidade Virtual combina imagens filmadas em 360° com imagens geradas por computador e efeitos visuais. Para a música, foi utilizado um sistema de gravação que oferece uma experiência sonora 360.
E quando se somam todos estes elementos e se colocam os óculos, Gustavo Dudamel está pronto a dar-lhe as boas-vindas. Depois, a perspetiva de quem assiste muda e entra noutra realidade. A cabeça gira, os olhos procuram seguir os sentidos, mas aquilo que constatam é o maestro a ser "cercado" pelos músicos da orquestra sinfónica, que em silêncio, aguardam que um enérgico Dudamel dê ordem para que as famosas quatro notas iniciais da Sinfonia n.º 5 de Beethoven comece o espetáculo — ou, melhor, a experiência.
Idealizado pela Fundação "la Caixa", "Symphony" é um projeto que arrancou com uma tour em setembro de 2020, no CosmoCaixa, Museu da Ciência da Fundação "la Caixa", em Barcelona. Desde então, passou por várias cidades espanholas e foi premiado com vários galardões internacionais e conta inclusive com uma passagem pelo Festival de Cannes. Ao jornal espanhol ABC, o maestro Gustavo Dudamel explica que além de esta ser uma experiência que coloca a tecnologia "ao serviço da arte da música", é também uma maneira de dizer aos mais jovens "para não verem a música clássica como algo antigo ou de outra geração".
Quanto ao futuro, o plano passa por levar "Symphony" a uma centena de cidades ibéricas nos próximos dez anos. Mas, para já, através de uma colaboração que envolve o BPI, a Câmara Municipal e a Casa da Música, a viagem virtual ao coração da música clássica faz-se no Porto, na Praça Casa da Música.
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