Para muitos, 2022 foi o regresso em pleno ao laréu pelo estrangeiro. Se os anos da pandemia da Covid-19 foram para ir para fora cá dentro, é provável que em 2022 tenha sido o ano de aplicar um fenómeno bastante humano: esquecer santa Bárbara quando não está a trovejar.
A boa notícia é que algumas das novidades turísticas mais interessantes do país vieram para ficar. Nos últimos dois anos criaram-se feiras e mercados, museus, reabilitaram-se edifícios históricos, abriram-se trilhos e os bons portugueses passadiços que valem a pena numas férias ou numa escapadela de fim de semana. Boas viagens.
1. Mercado do Bolhão, Porto
Quatro longos anos de obras depois, um dos mais emblemáticos edifícios do Porto voltou a abrir portas. Agora está reabilitado, com lugares para restauração e eventos, além manter o espírito antigo de peixeiras, vendedores de frutas e legumes, dos talhos e dos padeiros. O mercado do início do século XX pode parecer novo para quem entra e se depara com a banquinha do merchandising, ou para quem sobe ao segundo andar e participa num festival de fermentados ou numa feira gastronómica, mas este é apenas o Bolhão de sempre na sua melhor versão.
R. Formosa, Porto.
Seg-sáb, 8:00-20:00.
2. FICO, Ferreira do Alentejo
Este FICO quer dizer Festival de Ilustração e Criatividade em Olaria. Quer dizer também uma programação de exposições, mercados, workshops durante um fim de semana — o resultado da residência artística de jovens ilustradores junto dos veteranos da olaria alentejana. Como prova do acontecimento que a FICO é na pequena vila do interior alentejano, veja-se a programação de 2022: a construção de um forno para cerâmica efémero (feito de rede de arame e papel) deixou novos e velhos de boca aberta e a pisa comunitária do barro (como se fazia há 50 anos) sujou alegremente os pés de quem quis entrar na roda.
Festival em julho.
3. Museu da Memória de Matosinhos
Em permanente construção, o MUMMA - Museu da Memória de Matosinhos quer fazer-se dos testemunhos dos habitantes da cidade. A componente de testemunhos na primeira pessoa é grande, assim como o lado interativo: entrar no Palacete Visconde de Trevões, onde se localiza o museu, é poder visitar outros 15 edifícios icónicos da cidade com a ajuda de óculos de realidade virtual.
Av. Dom Afonso Henriques 68, Matosinhos.
Ter-sex, 10:00-13:00 e 15:00-18:00; Sáb-domingos, 15:00-18:00.
1€.
4. Jardim Sensorial do Jardim Botânico de Lisboa
O antigo borboletário do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa deixou de ter borboletas em cativeiro e é agora um jardim sensorial. Isto significa que qualquer um pode descalçar-se para sentir terra, pedras e folhas nos pés; em caixas espalhadas pelo percursos há elementos naturais (sementes, flores, raízes) para apalpar e cheirar; com atenção é possível distinguir o canto de diferentes pássaros e com sorte, entre março e o final do verão, ver as borboletas que ainda põem ovos e voam por aqui — agora à solta.
R. da Escola Politécnica 58, Lisboa.
Todos os dias, 10:00-17:00.
5€.
5. Vaga, Ponta Delgada
A associação cultural Anda&Fala tem, há duas temporadas, uma sede e isto significa que há um estimulante espaço de performances, conversas, exposições e pensamento artístico na ilha de São Miguel. O espaço físico é em si curioso: um antigo armazém na zona periférica e residencial de Ponta Delgada transformou-se em oficina, loja, sala de exposições e de espetáculos, casa. Vale a pena espreitar a programação ao passar pela cidade — há sempre alguma coisa a acontecer aqui.
Tv. das Laranjeiras 51, 9500-318 Ponta Delgada.
Ter-Sáb, 10:00-18:00.
6. Passadiços do Mondego, Guarda
Podia ter sido, algures na história recente do país, escolhida como a palavra do ano: passadiços. Tornaram-se um chamariz para o turismo, uma forma de exploração da beleza natural e por isso, aqui está a edição Mondego. O percurso de 12 quilómetros pelas margens deste rio e dos seus afluentes já leva milhares de pessoas por dia à Guarda, num percurso que começa na barragem do Caldeirão e segue pelas localidades de Trinta, Vila Soeiro e Videmonte. Prepare-se para subidas e descidas intensas. A boa notícia é que, a cada paragem, há vistas sobre a Serra da Estrela que enchem o olho e cortam a respiração.
Início do percurso na Barragem do Caldeirão.
7. Batalha Centro de Cinema, Porto
É o acontecimento cultural do ano no Porto: há mais de 10 anos que não se via cinema nas salas do Batalha e a sua reabertura não significa só mais uma alternativa para a programação desta arte no Porto. É também a oportunidade de aceder a um edifício modernista, dos anos 40, e admirar os frescos de Júlio Pomar que se julgavam destruídos pelo regime do Estado Novo. Além disto, este é agora um polo cultural, com livraria, café, programação de arte e, claro, cinema, que justifica a visita à Invicta.
Praça da Batalha 47, Porto.
Ter-Dom, 14:00–20:00; Qua-Qui, 12:00–23:00; Sex-Sáb,12:00–01:00.
Bilhete das sessões: 5€.
8. Viagens de barco no Minho
Quatro concelhos do Minho e da Galiza juntaram-se para tornar esta fronteira entre Portugal e Espanha um destino navegável. A partir do cais flutuante da Lodeira, Monção, ou de Valença, vai-se a Tui ou a Salvaterra do Minho de barco e o potencial é maior do que um mero passeio de um dia por terras galegas. Este é um local privilegiado para a observação de aves, desportos náuticos e usufruto da intensa paisagem minhota.
Bilhetes gratuitos nas lojas de turismo de Monção, Valença, Salvaterra de Miño e Tui.
9. Grande rota do Oeste, Ilha Terceira
Na Reserva Florestal de Recreio da Lagoa das Patas, cone vulcânico do Pico Gaspar, nos Mistérios Negros e na Lagoinha do Vale Fundo já há os marcos vermelhos e brancos. Este é o oitavo trilho oficialmente definido na ilha Terceira e o primeiro que se pode considerar uma grande rota. É uma viagem não só pelo património natural da ilha, com passagem por florestas de criptomérias, ribeiras e lagoas, mas também pelo seu património sociocultural, com caminhos entre as curraletas de vinha ou a ruína de um farol destruído pelo sismo de 1980 — hoje, no lugar, há um pequeno farolim.
10. Lisboa Criola, Lisboa
Seu nome próprio Lisboa, seu apelido Criola. O fado da capital ressignifica-se com o coletivo Lisboa Criola, que quer motivar e mostrar todas as interseções culturais que há na cidade. Estes objetivos tornaram-se tangíveis para toda a população com uma programação musical para o Jardim de Verão 2022 da Gulbenkian e um festival em nome próprio com música, dança, literatura, artes visuais e gastronomia. Não restam dúvidas de que a criolidade é hoje o melhor motivo para visitar Lisboa.
Festival em novembro.
11. Soil to Soul, Alandroal
Pela primeira vez, o festival Soil to Soul ergueu-se para passar a mensagem da agricultura regenerativa — um tipo de produção agropecuária que, além de mais sustentável, acredita poder ajudar a recuperar campos e paisagens. As armas escolhidas para convencer o grande público foram uma feira de produtores e gastronomia dentro do Castelo do Alandroal, com direito a concertos e palestras sobre o tema. Um fim de semana de maio que encheu a barriga e a alma e que poderá repetir-se em 2023.
Festival em maio.
12. Mercado da Comida Independente, Lisboa
Durante a pandemia, a Praça de São Paulo, em Lisboa, começou a receber um mercado de pequenos produtores de frutas e legumes, sempre com uma ou outra banca de comida de rua, apetitosa e aconchegante. Agora, o mesmo mercado passou para Santos, para a rua da mercearia Comida Independente, loja organizadora. Aos sábados de manhã, a oferta está melhorada: além dos produtores e bancas de gulodices, ainda se pode beber um copo ou provar mais qualquer coisa dentro da Comida Independente. É um bom programa para uma manhã de fim de semana, lenta e a fazer conversa sobre o que está ou não na sua época.
R. Cais do Tojo 28, Lisboa.
Sáb, 10:00-14:00.
13. Miradouro dos Piornos, Covilhã
A 1630 metros de altitude, este é o ponto de observação privilegiado sobre a Nave de Santo António e o planalto ocidental, na Serra da Estrela. Daqui vê-se uma paisagem moldada pelos ancestrais glaciares e, geologia à parte, digamos simplesmente: é uma panorâmica de cortar a respiração. No Miradouro dos Piornos, inaugurado em outubro, uma estrutura metálica avançada sobre o vale garante todo o conforto e acessibilidade dos visitantes, que podem seguir depois para a Varanda dos Carqueijais, outro miradouro de estrutura (e vista) impressionante no concelho.
14. Estaleiro-museu do Monte Branco, Ria de Aveiro
Na Torreira, estância balnear no concelho da Murtosa, entalada entre a ria de Aveiro e o mar, o recente Estaleiro-Museu do Monte Branco é uma enciclopédia viva sobre moliceiros e os restantes barcos típicos da zona. Dos pormenores da sua construção às características únicas das decorações (as inconfundíveis cores e as anedotas brejeiras pintadas nas proas), está lá tudo. E no final da visita ainda se pode visitar o estaleiro e ver em ação um dos mestres da construção destas embarcações.
EN 327, Praia do Monte Branco, Torreira.
Ter-Sex e Dom, 14:00-18:00.
Sáb, 10:00-12:30 e 14:00-18:00.
15. Trilho do Tinhela, Murça
“Mais uns passadiços, mais um trilho” é a nova encarnação de “mais uma moeda, mais uma voltinha”. Estes são em Murça, são os primeiros do concelho e percorrem a galeria de árvores junto à linha do Tinhela, um afluente do Tua muito bem preservado. Os passadiços em madeira atravessam a vila de Murça e passam também por algum património como a Adega Cooperativa de Murça, o pelourinho manuelino e o antigo convento das freiras beneditinas.
16. Artists & Fleas Market, Faro
Ao segundo sábado de cada mês, artistas, artesãos e comerciantes de roupa em segunda mão juntam-se na Associação de Músicos, em Faro, para um mercado focado no consumo local e consciente. A organização do Artists & Fleas Market é da associação Môçes, que faz uma atenta curadoria da feira, para que seja o mais diversificada possível. É uma alternativa ao Algarve expectável e uma forma de saber que ideias e artes se andam a fazer pelo sul do país.
R. do Castelo 4, Faro.
Segundo sábado do mês, 10:00-19:00.
17. Castelo de Leiria
O Castelo de Leiria não é uma novidade, claro, mas a sua requalificação em três anos de obras deu-lhe o apelo das coisas novas. Esta fortaleza do século XII, com marcas de ocupação em diferentes épocas, tem agora elevadores, rampas e corrimãos que tornam possível a visita a mais pessoas, além da vista poderosa sobre a cidadela do tempo de D.Dinis e a cidade atual.
R. do Castelo, Leiria.
Todos os dias,9:30-17:30.
2,10€.
18. Museu de Lagos, Dr. José Formosinho, Lagos
São dois os nomeados portugueses para Museu Europeu do Ano. O Museu de Lagos é um deles (o outro é a Casa Fernando Pessoa, em Lisboa), entre outras razões, por causa das recentes obras de atualização do espaço. É, portanto, uma oportunidade para ver, de cara lavada, uma coleção de vai da arqueologia à arte sacra, da numismática à etnografia e que assim conta a história da cidade de Lagos e do Algarve, desvendando também a figura do seu fundador, Dr. José Formosinho.
R. Gen. Alberto da Silveira 1, Lagos.
Ter-Dom, 10:00-13:00 e 14:00-18:00.
3€.
19. Passadiços do Serro da Candosa, Góis
Este passeio será como fazer uma escalada confortável. O desfiladeiro rochoso que é acompanhado pelos passadiços é a paisagem quartzítica característica da região da Serra da Estrela, sempre com o rio Ceira como ponto de referência. Qualquer visitante se sentirá pequeno perante as imensas cristas rochosas ou o canhão fluvial.
Início no Miradouro de Nossa Senhora da Candosa.
20. Oficina da Regueifa e do Biscoito, Valongo
Um antigo quartel de bombeiros transformou-se em santuário da regueifa e do biscoito, dois patrimónios de Valongo. Este museu-oficina tem como exposição interativa permanente “Do Grão ao Pão”, onde se explora a agricultura, moagem, e panificação nesta zona. O lado de oficina deste espaço está nos workshops que ensinam a fazer com as próprias mãos estes dois ícones.
Lg. do Centenário 150, Valongo.
Ter-Dom, 09:30-12:30 e 14:00-18:00.
21. Trilho Panorâmico do Tejo, Constância
Se pensou na Ponte 25 de Abril ou no Cristo Rei quando juntou as palavras Trilho Panorâmico do Tejo, vai surpreender-se com a paisagem natural deste rio, entre Constância e Vila Nova da Barquinha. São 11,5 km à beira do rio: o percurso começa na foz do Zêzere e passa pela praia do Ribatejo, Castelo de Almourol e Tancos.
Início no Centro Náutico / Fluviário Foz do Zêzere.
N3, 2261-000 Torres Novas.
22. Museu Municipal da Covilhã
Covilhã é conhecida como a cidade-fábrica por causa da forte indústria dos lanifícios e do têxtil, mas o seu novo museu municipal, inaugurado há um ano e pico, mostra uma variedade de temas considerável. Com um projeto museográfico original e inclusivo (valeu-lhe o título de Museu do Ano em 2022), este espaço fala do passado pré-histórico e da presença romana, das idades Média e Moderna e do presente, com alguns testemunhos para ouvir na primeira pessoa — entre eles, o da menina (agora já bem crescida) que encontrou, em 1953 um importante tesouro enquanto brincava no campo, na freguesia de Teixoso. Eram moedas romanas e jóias, hoje no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa.
R. António Augusto de Aguiar 100 6200, Covilhã.
Ter-Dom, 10:00–13:00 e 14:00–18:00.
23. Navio-hotel Costa do Sal, Aveiro
Está atracado no Cais dos Pescadores quando não está em modo cruzeiro pela ria, de Aveiro à Torreira, na Murtosa. O Costa do Sal é o primeiro navio-hotel desta ria e, além de se puder passar a noite num dos seus 24 quartos, pode subir-se apenas para um café no deck, um copo no bar ou uma refeição no restaurante. A vista é a sempre bucólica ria, os seus pescadores e moliceiros — o melhor desta região.
Av. José Estevão 238, Gafanha da Encarnação.
Viagens a partir de 45€.
24. Plataformas de vidro do Miradouro do Guindaste, Madeira
O cenário é idílico ao ponto de poder achar que está a viver num vídeo do Instagram — daqueles de influencers de viagens, com um muito trabalhado ar natural. Do Miradouro do Guindaste, na freguesia do Faial, Madeira, já se tinha uma vista infinita para o Atlântico. Agora há também duas plataformas envidraçadas, avançadas sobre o mar. Para quem não sofre com vertigens dará um bom momento de contemplação — e uma boa foto.
Estr. da Praia do Faial 20, 9230-052 Faial.
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