Ouça aqui o episódio do podcast Um Género de Conversa com Marlene Vieira:
Os seus pais tinham um talho e cedo ficou com o bicho da gastronomia. Aos 12 anos de idade, Marlene Vieira pediu para ir trabalhar num restaurante com cozinha de estilo francês onde o pai entregava carne. Quatro anos depois, não tinha incertezas sobre o que queria fazer da vida: ingressou na Escola de Hotelaria de Santa Maria da Feira e foi a melhor aluna do seu ano. Há quem só a tenha conhecido depois de a ver como mentora e jurada em programas de televisão como o Chefs Academy ou o Masterchef, mas a sua carreira aquém e além fronteiras já vai longa.
Depois de uma temporada em Nova Iorque após terminar os estudos (onde foi referida no The New York Times à conta dos pastéis de nata que cozinhava no restaurante Alfama), voltou a Portugal, onde acabou por fazer a sua estreia a solo no restaurante Avenue. Foi a única mulher a integrar o grupo de chefs do Time Out Market e, mais tarde, abriu o Zunzum Gastrobar que, como o nome indica, dá que falar pelas melhores razões. Já este ano, abriu o seu primeiro restaurante de cozinha de autora, a apontar para a estrela Michelin. Chama-se "Marlene," (sim, com uma vírgula) e tem morada em Lisboa.
Nesta conversa com Patrícia Reis e Paula Cosme Pinto, puxou do pragmatismo que lhe é reconhecido e abordou os lados menos românticos do sector, entre eles, os obstáculos machistas que as mulheres ainda enfrentam, desde os testes que lhe pediam apenas a ela para fazer e não aos colegas do sexo masculinos, como ao facto de lhe terem perguntado em entrevista de emprego ora se queria ser mãe, ora como é que ia gerir a carreira depois de ter tido uma filha. A imprensa gastronómica portuguesa chegou mesmo a dizer-lhe que o seu tempo tinha chegado ao fim depois de ter engravidado, porém ao seu marido, que também é chef de cozinha, nunca ninguém o fez por mais que também passasse a ter um bebé.
Marlene Vieira advoga ainda que é preciso tornar públicos os casos de assédio sexual na profissão para que o clima de intimidação possa mudar: "Se houvesse um movimento #Metoo na cozinha em Portugal isto ia dar muito que falar. Chegam-me muitas miúdas à equipa que passaram por isso. Mas compreendo que é difícil alguém falar. Quando todas a oportunidades vêm precisamente daquele lado, a pessoa sabe que não tem escolha, a sua carreira fica por ali se denunciar. Há muita coisa em jogo.".
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