"QT" remete para o cineasta norte-americano Quentin Tarantino, e "Motel QT", a peça, constitui uma homenagem ao realizador de "Cães Danados" e ao seu trabalho.
O ponto de partida é uma fantasia sobre um grupo de fãs que não aceita o afastamento anunciado do realizador, após a produção do 10.º filme, apostando todo o seu conhecimento sobre o cineasta, os seus enredos e as suas personagens, na conceção da 11.ª longa-metragem, que Tarantino prometera não dirigir.
A construção da peça materializa-se assim na construção do filme, tendo imposto, aos finalistas da escola de teatro e cinema, um trabalho coletivo de dramaturgia, baseado no percurso do realizador de "Kill Bill", partindo da leitura e da análise dos seus argumentos, para a criação de um texto completamente novo.
Toda esta peça foi "um processo de criação dos estudantes, orientados por mim, no sentido em que foram eles a trabalhar o texto, as propostas de personagens", de enredo, de coreografias, sejam "de lutas ou de danças", disse hoje Ricardo Neves-Neves, na apresentação da obra.
A ação tem lugar num motel, no deserto da Califórnia, o Motel QT, "sempre às moscas", gerido por Pai Mei, personagem que vem de "Kill Bill", e Shosanna Dreyfus, de "Sacanas sem Lei".
Um dia as portas do motel abrem-se para receber 12 novos clientes - os fãs de Tarantino -, que ocupam todos os quartos, dando então início à criação do filme, que, na prática, é a consubstanciação da peça.
O trabalho de pesquisa feito pelos finalistas da Escola Superior de Teatro e Cinema permitiu que diferentes personagens, de diferentes filmes de Tarantino, se unissem, com diferentes propósitos, num só enredo.
Uma a uma, são confrontadas com situações distintas das originais, que remetem para outras referências cinematográficas, venham elas de filmes de Alfred Hitchcock e Pedro Almodóvar, de Woody Allen, mas também do clássico Shakespeare.
"A influência da cultura asiática na cultura ocidental, bem como a legitimação estética da violência foram algumas das questões debatidas ao longo do processo de trabalho", tendo em conta "o crime e a vingança", como afirmou Ricardo Neves-Neves, referindo-se à matéria comum dos filmes do realizador de "Django Libertado".
A investigação e o processo dramatúrgico demoraram cerca de quatro meses, pois os guiões de Tarantino "são gigantescos, e ter um conhecimento dos oito guiões, é um trabalho demorado", disse o encenador.
A Escola Superior de Teatro e Cinema e o Teatro Nacional D. Maria II realizam todos os anos estes exercícios públicos, com o objetivo de "permitir aos estudantes conhecerem as realidades do teatro e desenvolverem competências e motivações nesta área".
No conjunto, "Motel QT" mobilizou "14 atores, dois designers de cena e duas produtoras", destacou o encenador, entre outros participantes, destacando a média de idades - entre os 20 e os 21 anos - e o facto de esta média ter vindo a diminuir, de ano para ano.
"Motel QT" estreia-se na quarta-feira, na sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II, às 19:30, e fica em cena até domingo, dia 15, com representações às 21:30, na quinta-feira, às 16:30 e às 21:30, na sexta-feira e no sábado, e, no último dia, domingo, às 16:30.
As interpretações são de Beatriz Brito, Beatriz Maia, Carolina Ferreira, Carolina Frias, Daniel Barros, Diana Taborda, Diana Vaz, Estela Zambujo, Fernando Ramos, Letícia Lourenço Blanc, Mariana Guarda, Marisa Conceição, Marta Vieira e Matias Pinto, com participação dos alunos do 2.º ano André Magalhães e Teresa Vilhena Moreira.
A encenação contou com assistência de João Esteves e Marta Aksztin e teve apoio nas artes marciais de Clara Cunha Reis.
Levar "Motel QT" à cena envolveu ainda Daniela Cardante e Rita Capelo, Phedra Genevrois, Jéssica Penedo, José Espada, Marta Cordeiro, Mariana Sá Nogueira e José Calixto, Conceição Mendes e Miguel Cruz, Armando Nascimento Rosa, Maria Repas e Luca Aprea.
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