Anitta está de volta e a triplicar. “Solo”, lançando na passada sexta-feira, 8, conta com três faixas cantadas em espanhol, português e inglês - “Veneno”, “Não Perco o Meu Tempo” e “Goals”, respetivamente. “Chegou um momento na minha carreira em que não dá para lançar num idioma só”, conta Anitta por Skype ao SAPO24 no dia em que o novo trabalho foi apresentado.
“Se lançasse [o EP] só em português, a galera do mercado latino, que já conquistei, graças a Deus, ia perguntar 'cadê o espanhol?’. O mesmo com os dois outros mercados que lideram as tabelas. “Se lançasse só em espanhol, o povo do Brasil e de Portugal ia perguntar 'cadê o português?’", continua a explicar. Só lançar em inglês ou não lançar de todo também não era uma hipótese. “Estou plantando sementes, galgando e trabalhando para conquistar o mercado [inglês], eles esperam músicas minhas em inglês e iam ficar também se perguntando”.
O lançamento de “Solo” em três idiomas visa, assim, "alimentar essas três demandas, mas também mostrar uma nova Anitta”. E que Anitta é essa? “Diferente”, diz.
"Este é um trabalho um pouco mais conceptual, mais artístico”, conta a artista que fez história ao ter a primeira canção em português a entrar no top 20 global do Spotify. E contrapõe com o que “estava fazendo antes”: “os outros [trabalhos] foram mais comerciais”.
O EP, revela, era para se chamar de “Veneno”, espelho da faixa que o abre, mas acabou por receber o título de “Solo”. E as razões são várias.
"Solo", em primeiro lugar, "porque sou eu sozinha, sem features". Depois, "porque é uma palavra que funciona tanto em inglês, como espanhol e português". Mas também "Solo" porque o EP representa um momento da sua vida onde assume precisar de “ter os pés no chão” para seguir o caminho a que se propôs. E last but not the least, diz, ”porque estou solteira".
Apesar de não ter parcerias vocais neste lançamento, seguindo a linha do último single divulgado, “Medicina”, “Solo” tem um nome de peso a juntar-se ao de Anitta: o de Pharrell Williams. A metade dos N.E.R.D que nos últimos anos tem transformado em ouro tudo o que tem a sua assinatura — por ouro leia-se sucesso, entre eles “Happy”, em nome próprio, ou “Get Lucky”, com os Daft Punk.
A colaboração acontece depois de a cantora ter estado com o rapper e produtor norte-americano em estúdio. Por essa altura, maio deste ano, algumas imagens divulgadas nas redes sociais da artista brasileira já deixavam espaço para a imaginação atuar: viria daí um tema cantado em conjunto? Ideia que ainda não pode ser colocada de lado.
“Tinha estado pela primeira vez no estúdio com ele, quando me chamou para trabalhar numa outra música [dele]. E fiquei muito surpresa, amei. Quando a gente acabou ele falou: 'gostei muito e tenho uma música para te dar’. Aí ele veio com esta música, "Goals", e eu fiquei enloquecida, não podia acreditar. Amei a música”.
"Ele gravou a minha voz e foi-me guiando, o que devia fazer, como deveria cantar. Foi-me dirigindo”, conta Anitta. E remata: “trabalhar com o Pharrell foi incrível”.
Mas “Solo” não se preocupa apenas com o mercado que o pode ouvir. A linha concetual de que falava antes Anitta manifesta-se também pela direção e concepção dos videoclipes — todos os temas tiveram direito a um. "O videoclipe ajuda a contar a história que você quer passar na música. A música é pouco tempo para você conseguir explicar tudo o que quer passar e [com o clipe] no final fica um trabalho mais completo”, revela.
Nesta série de vídeos temos de tudo: cobras (“Veneno”) — "eu amei, foi tudo uma delícia” —, 28 beijos (“Não Perco o Meu Tempo”) e a simulação de um céu estrelado não passível de se ser captado por uma câmara (“Goals”). O segundo bebeu inspiração à artista performática Marina Abramović, nome que por várias vezes vemos associado a outro nome maior da pop mundial: Lady Gaga.
“Teve uma exposição da Marina que eu vi há algum tempo, faz anos, em que ela se senta e interage com quem está na sua frente. E vamos vendo a troca de olhares e de emoções entre essas duas pessoas. Amei isso. Nunca uso referências para os meus videoclipes que vêm [da indústria] da música, sempre uso inspiração no cinema ou na arte”.
Já a ideia para os beijos, os 28, de “Não Perco o Meu Tempo” surge da vontade “desproblematizar e desmistificar um tabu”. “A minha intenção é passar isso como algo normal, como qualquer outra coisa na vida”, porque o “tabu” vai muito além do ato físico do beijo e estende-se às relações de “mulher com mulher, de homem com homem, de mais velhos ou mais novos”. E dessa forma, “de dar uma razão para as pessoas debaterem e discutirem sobre alguma coisa”.
Algo que, diz, está muitas vezes presente nas suas conceções. “A gente está num momento onde as pessoas não estão tolerando que um pense diferente do outro. Só o facto de conseguir exercitar uma possibilidade de discussão saudável, para mim já é uma grande vitória”, explica.
E sobre o Brasil do presente? ”Vejo [esse Brasil] com preocupação, mas eu tenho esperança de que as pessoas entendam as diferentes formas de pensar e respeitem o outro. As pessoas estão precisando ser mais tolerantes com as outras. Com as suas perceções, princípios, valores. As pessoas estão muito intolerantes e exigentes de uma única verdade. E não existe isso, cada um tem a sua verdade. Então é isso que eu espero do meu Brasil, que as pessoas fiquem mais tolerantes”.
Da Netflix aos Grammys Latinos, passando por Portugal
Não só deste EP se faz a história de Anitta das últimas (e próximas) semanas.
Com intervalo de uma semana conhecemos esta Anitta “diferente” de “Solo”, mas vamos ficar a conhecer muito mais. E já a partir de dia 16 de novembro, próxima sexta-feira, com a estreia da série documental “Vai Anitta” na plataforma de streaming Netflix. Anitta levanta ao SAPO24 a ponta do véu: ”podem esperar um pouco da Anitta que trabalha, que faz acontecer. Mas também a Anitta como pessoa, da minha maneira de ser”. O que vamos assistir será “tudo o que se passou durante o tempo que foi documentado, nada foi cortado”.
E talvez seja necessário pelo menos mais uma temporada, arriscamos nós. O reconhecimento internacional de Anitta multiplica-se em prémios, tendo ganhado recentemente os prémios de Melhor Videoclipe para “Medicina” nos Latin American Awards e o de Melhor Artista Brasileira nos prémios europeus da MTV (EMA - European Music Awards). Na calha estão ainda dois Grammys Latino: a artista está nomeada na categoria de Melhor Canção "Urban", com o tema "Downtown", gravado em parceria com J. Balvin, e na categoria Melhor Fusão/Interpretação Urbana, fruto do dueto ("Sua Cara") com a também brasileira Pabllo Vittar e com os norte-americanos Major Lazer.
“Eu nem quero pensar nisso”, diz referindo-se às nomeações. “Estou muito feliz com tudo o que tem acontecido, não posso acreditar. Eu nem estou pensando na eventualidade de poder ganhar. Só estou pensando que vou lá trabalhar e voltar”.
Mais, diz, "ultimamente tenho tido muitos motivos para sorrir”. "Quando penso em tudo: nos meus sonhos, nas coisas que já conquistei e tento... Não sei, tenho muita vontade nas coisas. Tudo o que faço é com muito amor”.
Entre as novidades fica também confirmado um regresso a Portugal, depois do surpreendente concerto em junho no Rock in Rio Lisboa. ”Volto para Portugal no primeiro semestre do ano. Não posso falar o nome do lugar, mas já está tudo certo”, assegura. Até lá, deixa uma mensagem aos fãs nacionais: “Quero mandar um beijo e agradecer. Nunca me senti tão amada e feliz como me senti em Portugal. Já estou louca para voltar.”
Recorde o concerto no Rock in Rio em Lisboa
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